segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Livro

Autor: MARTINS, ANA LUIZA
Editora: CONTEXTO
Assunto: HISTÓRIA DO BRASIL


Sinopse

Este livro narra a trajetória de aventura e ousadia da mais saborosa e conhecida bebida em todo o mundo - o café. Desde sua descoberta, a Coffea arabica traçou novas rotas comerciais, criou espaços de sociabilidades até então inexistentes, estimulou movimentos revolucionários, inspirou a literatura e a música, desafiou monopólios consagrados e tornou-se o elixir do mundo moderno, consolidando as cafeterias como referência de convívio, debate e lazer. Com charme, elegância e bom humor, a historiadora Ana Luiza Martins conta a trajetória do café, das origens como planta exótica no Oriente à transformação em produto de consumo internacional. A autora analisa também como o café no Brasil transformou-se na semente que veio para ficar e marcar a nossa história. Mais do que uma atitude simpática de bom anfitrião, oferecer um café é proporcionar uma das mais prestigiosas formas de convívio social que nos é dado a conhecer. Um simples gole dessa bebida torna o leitor parte de uma imensa cadeia de produção, embalada em muita aventura e ousadia.
Opinião do Leitor:

Flávia Lancha Oliveira / Data: 1/1/2009
Conceito do leitor: Conceito do LeitorConceito do LeitorConceito do LeitorConceito do LeitorConceito do Leitor | (opine)

Um livro que tem sabor,aroma e corpo
Gostei muito do livro porque conta a história do café de uma forma leve.Às vezes com um pouco de romance,em outras uma dose de humor.Muito bom para degustar.
Sobre o autor:

MARTINS, ANA LUIZA
Ana Luiza Martins é Doutora em História Social pela FFLCH-USP, onde se graduou e realizou seu mestrado. Historiadora do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), trabalha questões do patrimônio cultural, especializando-se na história do café. É autora de diversos livros e artigos, entre eles 'O despertar da República' (Editora Contexto).

Irmandade

Trinta de Agosto de 2008



Hoje eu e Denega assumimos e iniciamos nosso processo de pesquisa sobre o café. A busca das informações é feita, a principio, através do google e também por livros didáticos.
Este blog está servindo como acervo de materiais que temos encontrado...

Cafézimmmmmmm


http://www.brevescafe.oi.com.br/

Associação Brasileira da Industria de Café

A HISTÓRIA DO CAFÉ - ORIGEM E TRAJETÓRIA


A Lenda do Café
Os Primeiros Cultivos de Café
A Cultura da Bebida Café
As Cafeterias
O Café no Brasil
O trajeto do cultivo do café no Brasil
As grandes fazendas de café
A Crise de 29
O Café Brasileiro na atualidade
Linha do Tempo do Café
Bibliografia



A LENDA DO CAFÉ

Não há evidência real sobre a descoberta do café, mas há muitas lendas que relatam sua possível origem.

Uma das mais aceitas e divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na Absínia, hoje Etiópia, há cerca de mil anos. Ela conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam alegres e saltitantes e que esta energia extra se evidenciava sempre que mastigavam os frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio.

O pastor notou que as frutas eram fonte de alegria e motivação, e somente com a ajuda delas o rebanho conseguia caminhar por vários quilômetros por subidas infindáveis.
gravura - pastor Kaldi e suas cabras
Pastor Kaldi e suas cabras
Kaldi comentou sobre o comportamento dos animais a um monge da região, que decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Esta descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. As evidências mostram que o café foi cultivado pela primeira vez em monastérios islâmicos no Yemen.




OS PRIMEIROS CULTIVOS DE CAFÉ

A planta de café é originária da Etiópia, centro da África, onde ainda hoje faz parte da vegetação natural. Foi a Arábia a responsável pela propagação da cultura do café. O nome café não é originário da Kaffa, local de origem da planta, e sim da palavra árabe qahwa, que significa vinho. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no século XIV.

Os manuscritos mais antigos mencionando a cultura do café datam de 575 no Yêmen, onde, consumido como fruto in natura, passa a ser cultivado. Somente no século XVI, na Pérsia, os primeiros grãos de café foram torrados para se transformar na bebida que hoje conhecemos.
gravura - degustação de café na Etópia
Degustação de café na Etópia

O café tornou-se de grande importância para os Árabes, que tinham completo controle sobre o cultivo e preparação da bebida. Na época, o café era um produto guardado a sete chaves pelos árabes. Era proibido que estrangeiros se aproximassem das plantações, e os árabes protegiam as mudas com a própria vida. A semente de café fora do pergaminho não brota, portanto, somente nessas condições as sementes podiam deixar o país.

antigos instrumentos árabes para preparo de café
Antigos instrumentos árabes para preparo de café gravura - sultão
Sultão em Meca, bebendo café

A partir de 1615 o café começou a ser saboreado no Continente Europeu, trazido por viajantes em suas frequentes viagens ao oriente. Até o século XVII, somente os árabes produziam café. Alemães, franceses e italianos procuravam desesperadamente uma maneira de desenvolver o plantio em suas colônias.

Mas foram os holandeses que conseguiram as primeiras mudas e as cultivaram nas estufas do jardim botânico de Amsterdã, fato que tornou a bebida uma das mais consumidas no velho continente, passando a fazer parte definitiva dos hábitos dos europeus.
gravura - muda de café cultivada no Jardim Botânico de Amsterdã
Muda de café cultivada no Jardim Botânico de Amsterdã

A partir destas plantas, os holandeses iniciaram em 1699, plantios experimentais em Java. Essa experiência de sucesso trouxe lucro, encorajando outros países a tentar o mesmo. A Europa maravilhava-se com o cafeeiro como planta decorativa, enquanto os holandeses ampliavam o cultivo para Sumatra, e os franceses, presenteados com um pé de café pelo burgomestre de Amsterdã, iniciavam testes nas ilhas de Sandwich e Bourbon.

Com as experiências holandesa e francesa, o cultivo de café foi levado para outras colônias européias. O crescente mercado consumidor europeu propiciou a expansão do plantio de café em países africanos e a sua chegada ao Novo Mundo. Pelas mãos dos colonizadores europeus, o café chegou ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas. Foi por meio das Guianas que chegou ao norte do Brasil. Desta maneira, o segredo dos árabes se espalhou por todos os cantos do mundo.
gravura - mercadores de café
Mercadores de café - século XVI quadro de Debret - colheita de café nas colônias
Colheita de café - quadro de Johann Moritz Rugendas



A CULTURA DA BEBIDA CAFÉ

Segure uma xícara exalando o aroma de um bom café e você estará com a história em suas mãos.

Apenas um pequena gole dessa saborosa bebida fará com que você possa fazer parte de uma enorme cadeia de produção, romantismo e lances de muito arrojo, iniciada há mais de mil anos na Etiópia.


O hábito de tomar café foi desenvolvido na cultura árabe. No início, o café era conhecido apenas por suas propriedades estimulantes e a fruta era consumida fresca, sendo utilizada para alimentar e estimular os rebanhos durante viagens. Com o tempo, o café começou a ser macerado e misturado com gordura animal para facilitar seu consumo durante as viagens.

Em 1000 d.C., os árabes começaram a preparar uma infusão com as cerejas, fervendo-as em água. Somente no século XIV, o processo de torrefação foi desenvolvido, e finalmente a bebida adquiriu um aspecto mais parecido com o dos dias de hoje. A difusão da bebida no mundo árabe foi bastante rápida. O café passou a fazer parte do dia-a-dia dos árabes sendo que, em 1475, até foi promulgada uma lei permitindo à mulher pedir o divórcio, se o marido fosse incapaz de lhe prover uma quantidade diária da bebida. A admiração pelo café chegou mais tarde à Europa durante a expansão do Império Otomano.

gravura - preparo da bebida café
Preparo da bebida café gravura - transporte de café
Transporte de café entre cidades árabes



AS CAFETERIAS
Foi em Meca que surgiram as primeiras cafeterias, conhecidas como Kaveh Kanes. Cidades como Meca, eram centros religiosos para reza e meditação e a religião muçulmana proibia o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica. Desta forma, os Kaveh Kanes se transformaram em casas onde era possível se passar à tarde conversando, ouvindo música e bebendo café. A bebida conquistou Constantinopla, Síria e demais regiões próximas. As cafeterias tornaram-se famosas no Oriente pelo seu luxo e suntuosidade e pelos encontros entre comerciantes, para a discussão de negócios ou reuniões de lazer.
casa de café em Constantinopla
Casa de café em Constantinopla casa de café na Turquia
Casa de café na Turquia - início do século XVIII

O café conquistou definitivamente a Europa a partir de 1615, trazido dos países árabes por comerciantes italianos. O hábito de tomar o café, principalmente em Veneza, estava associado aos encontros sociais e à música que ocorriam nas alegres Botteghe Del Caffè. Em 1687 os turcos abandonaram várias sacas de café às portas de Viena, após uma tentativa frustrada de conquista, e estas foram usadas como prêmio pela vitória. Assim é aberta a primeira coffee house de Viena e difundido o hábito de coar a bebida e bebê-la adoçada com leite - o famoso café vienense.

As cafeterias desenvolveram-se na Europa durante o século XVII, enquanto florescia o Iluminismo e se planejava a Revolução Francesa. Durante tardes inteiras, jovens reuniam-se em torno de várias xícaras de café, discutindo o destino das nações, declamando poemas, lendo livros ou simplesmente passando o tempo. Atualmente, algumas casas famosas como o Café Procope, em Paris, e o Café Florian, em Veneza, ainda preservam o glamour dessa época.

comércio de café - 1690 consumo na Europa - 1730 cafeteria - Europa séc. XVIII
Comércio de café entre
árabes e europeus - 1690 Hábito de consumo de café se
espalha pela Europa - 1730 Cafeteria - Europa, século XVIII
cafeteria - Europa, séc. XIX café em Veneza café em Veneza
Cafeteria - Europa, século XIX Café em Veneza Café em Veneza
Até hoje os cafés são locais onde pessoas se reúnem para discutir assunto importantes ou simplesmente passar o tempo, sendo o ritual do cafezinho uma tradição que sobreviveu a todas as transformações.

Nos últimos anos, houve uma onda provocada pelas modernas máquinas de café expresso, que revolucionaram o hábito do cafezinho, permitindo um crescimento vertiginoso das cadeias de lojas de café.

A técnica de gerenciamento por meio do sistema de licença da marca também permitiu um rápido desenvolvimento dessas lojas especiais, voltadas para um mercado mais exigente, o de café Gourmet.
máquina de expresso
Antiga máquina de expresso



O CAFÉ NO BRASIL

O café chegou ao norte do Brasil, mais precisamente em Belém, em 1727, trazido da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará, que o enviara às Guianas com essa missão. Já naquela época o café possuía grande valor comercial.

Palheta aproximou-se da esposa do governador de Caiena, capital da Guiana Francesa, conseguindo conquistar sua confiança. Assim, uma pequena muda de café Arábica foi oferecida clandestinamente e trazida escondida na bagagem desse brasileiro.
gravura - Francisco de Mello Palheta
Francisco de Mello Palheta

Devido às nossas condições climáticas, o cultivo de café se espalhou rapidamente, com produção voltada para o mercado doméstico. Em sua trajetória pelo Brasil o café passou pelo Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Num espaço de tempo relativamente curto, o café passou de uma posição relativamente secundária para a de produto-base da economia brasileira. Desenvolveu-se com total independência, ou seja, apenas com recursos nacionais, sendo, afinal, a primeira realização exclusivamente brasileira que visou a produção de riquezas.

Em condições favoráveis a cultura se estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, iniciando em 1825 um novo ciclo econômico no país. No final do século XVIII, a produção cafeeira do Haiti -- até então o principal exportador mundial do produto -- entrou em crise devido à longa guerra de independência que o país manteve contra a França. Aproveitando-se desse quadro, o Brasil aumentou significativamente a sua produção e, embora ainda em pequena escala, passou a exportar o produto com maior regularidade. Os embarques foram realizados pela primeira vez em1779, com a insignificante quantia de 79 arrobas. Somente em 1806 as exportações atingiram um volume mais significativo, de 80 mil arrobas.

fazenda de café - Brasil, final do séc. XVIII
Fazenda de café - Brasil, final do século XVIII armazenagem de café - Brasil, séc. XIX
Armazenagem de café - Brasil, século XIX

Por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do Brasil e o inseriram nas relações internacionais de comércio. A cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitando o surgimento de cidades e dinamização de importantes centros urbanos por todo o interior do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná. Ferrovias foram construídas para permitir o escoamento da produção, substituindo o transporte animal e impulsionando o comércio inter-regional de outras importantes mercadorias. O café trouxe grandes contingentes de imigrantes, consolidou a expansão da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos culturais. A partir de então o café e o povo brasileiro passam a ser indissociáveis.

A riqueza fluía pelos cafezais, evidenciada nas elegantes mansões dos fazendeiros, que traziam a cultura européia aos teatros erguidos nas novas cidades do interior paulista. Durante dez décadas o Brasil cresceu, movido pelo hábito do cafezinho, servido nas refeições de meio mundo, interiorizando nossa cultura, construindo fábricas, promovendo a miscigenação racial, dominando partidos políticos, derrubando a monarquia e abolindo a escravidão.

Além de ter sido fonte de muitas das nossas riquezas, o café permitiu alguns feitos extraordinários. Durante muito tempo, o café brasileiro mais conhecido em todo o mundo era o tipo Santos. A qualidade do café santista e o fato de ser um dos principais portos exportadores do produto, determinou a criação do Café Tipo Santos.

Implantado com o mínimo de conhecimento da cultura, em regiões que mais tarde se tornaram inadequadas para seu cultivo, a cafeicultura no centro-sul do Brasil começou a ter problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando prejuízos incalculáveis.

Depois de uma longa crise, a cafeicultura nacional se reorganizou e os produtores, industriais e exportadores voltaram a alimentar esperanças de um futuro melhor. A busca pela região ideal para a cultura do café se estendeu por todo o país, se firmando hoje em regiões do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O café continua hoje, a ser um dos produtos mais importantes para o Brasil e é, sem dúvida, o mais brasileiro de todos. Hoje o país é o primeiro produtor e o segundo consumidor mundial do produto.



O TRAJETO DO CULTIVO DO CAFÉ NO BRASIL

O primeiro plantio ocorreu em 1727, no Pará. Devido às nossas condições climáticas, o cultivo de café se espalhou rapidamente.

O ponto de partida das grandes plantações foi o Rio de Janeiro, com as matas da Tijuca tornando-se grandes cafezais. O café estende-se para Angra dos Reis, Parati e chegou a São Paulo por Ubatuba. Em pouco tempo, o vale do rio Paraíba se tornou a grande região produtora da lavoura cafeeira no Brasil. Esta região com altitude e clima excelentes para o cultivo, possibilitou o surgimento de uma área centralizadora de culturas e população. Subindo pelo rio, o café invadiu a parte oriental da província de São Paulo e a região da fronteira de Minas Gerais. Na época o Rio de Janeiro era o porto de escoamento do produto e centro financeiro.

Entretanto, a cultura do café em áreas com declive acentuado e o total descuido quanto à preservação do solo gerou uma erosão intensa. Por este motivo, as terras se esgotaram rapidamente e a cultura cafeeira migrou para um outro local, o oeste da província de São Paulo, centralizando-se em Campinas e estendendo-se até Ribeirão Preto.

Campinas passou a ser então o grande pólo produtor do país. As culturas estendiam-se em largas superfícies uniformes, cobrindo a paisagem a perder de vista, formando os famosos "mares de café". Na região, os cafezais sofriam menos com esgotamento dos solos pela superfície plana da região, que facilitava ainda a comunicação e o transporte e proporcionava uma concentração da riqueza. Enquanto no Vale do Paraíba foi estabelecido um sistema complexo de estradas férreas, nessa nova região foi implantada uma boa rede de estradas rodoviárias e ferroviárias. Com este novo pólo produtor, o café mudou seu centro de escoamento, sendo toda a produção do oeste paulista a enviada a São Paulo e depois exportada a partir do porto de Santos.
ferrovia Santos-Jundiaí - 1860 embarque Porto de Santos - 1908 Bolsa do Café - Santos
Transporte de café pela
ferrovia Santos-Jundiaí - 1860 Embarque de café no
Porto de Santos - 1908 Pregão na Bolsa do Café, em
Santos (atual Museu do Café)
A cafeicultura no centro-sul do Brasil enfrentou problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando grandes prejuízos, e, mais tarde, durante a crise de 1929. No entanto, após se recuperar das crises, a região se manteve como importante centro produtor. Nela se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. Como a busca pela região ideal para a cultura do café cobriu todo o país, a Bahia se firmou como pólo produtor no Nordeste e a Rondônia na região Norte.




AS GRANDES FAZENDAS DE CAFÉ

As plantações de café foram fundadas em grandes propriedades monoculturais trabalhadas por escravos, substituídos mais tarde por trabalhadores assalariados: as grandes fazendas de café.

Estas fazendas ficaram famosas por sua arquitetura típica e seus equipamentos. Tanques em que o grão é lavado logo depois da colheita, terreiros para secagem, máquinas de seleção e beneficiamento fazem parte desse ambiente. A senzala dos escravos ou colônias de trabalhadores livres finalizam a caracterização das fazendas cafeeiras. A fazenda de café, desde a semente até a xícara, era um pequeno mundo, quase isolado.
fazenda de café
Sede de antiga fazenda de café fazenda de café
Terreiro de antiga fazenda de café

O desenvolvimento da produção cafeeira esteve intimamente relacionado com a quantidade de mão-de-obra disponível. Para incentivar a produção de café, a administração do Estado de São Paulo fez da questão imigratória o projeto central de suas atividades, estabelecendo um sistema que oferecia auxílio formal à imigração européia, principalmente à italiana. Por meio de um programa que cuidava da propaganda em seu país de origem, os imigrantes eram trazidos desde seu domicílio na Europa até a fazenda de café. A imigração ajudou na conquista de áreas ainda não exploradas, permitindo rápido desenvolvimento do Estado de São Paulo.

Com a mão-de-obra imigrante a cultura ganhou impulso e durante três quartos de século, quase toda riqueza do país se concentrou na agricultura cafeeira. O Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado. Nessa época os fazendeiros de café se tornaram a elite social e política, formando umas das últimas aristocracias brasileiras. A opulência dos plantadores de café permitiu a construção dos grandes e bonitos casarões das fazendas e de mansões na cidade de São Paulo e financiou a industrialização no sudeste do país.




A CRISE DE 29

A quebra na bolsa de Nova York em outubro de 29 foi um golpe para a estabilidade da economia cafeeira.

O café não resistiu ao abalo sofrido no mundo financeiro e o seu preço caiu bruscamente. As lavouras de café enfrentaram a verdadeira dimensão do mercado.

Nesse processo, milhões de sacas de café estocadas foram queimadas e milhões de pés de café foram erradicados, na tentativa de estancar a queda contínua de preços provocada pelos excedentes de produção.
quadro de preços - Bolsa Oficial de Café
Quadro de preços - Bolsa Oficial de Café

Quando a economia mundial conseguiu se recuperar do golpe de 1929, o Sudeste do país voltou a crescer, desta vez com perspectivas lastreadas na cafeicultura e na indústria, que assumia parcelas maiores da economia. O café retomou sua importante posição nas exportações brasileiras e, mesmo perdendo mercado para outros países produtores, o país ainda se mantém como maior produtor de café do mundo.

Das suas épocas áureas, ainda nos restam as belas sedes das fazendas coloniais, um extenso material técnico-científico, plantações centenárias e o hábito nacional do cafezinho.




O CAFÉ BRASILEIRO NA ATUALIDADE

Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café, volume equivalente à soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É também o segundo mercado consumidor, atrás somente dos Estados Unidos.

As áreas cafeeiras estão concentradas no centro-sul do país, onde se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. A região Nordeste também tem plantações na Bahia, e da região Norte pode-se destacar Rondônia.

A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado principalmente no Espírito Santo e Rondônia.
cafezal cafezal cafezal
Cafezal - detalhe de linha de plantio Cafezal - sistema de irrigação Cafezal - vista aérea

As principais regiões produtoras no Estado de São Paulo são a Mogiana, Alta Paulista Região de Pirajú. Uma das mais tradicionais regiões produtoras de café, a Mogiana está localizada ao norte do estado, com cafezais a uma altitude que varia entre 900 e 1.000 metros. A região produz somente café da espécie arábica, sendo que as variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo. Localizada na região oeste do estado, a Alta Paulista tem uma altitude média de 600 metros. A região é produtora de café arábica, sendo que a variedade mais cultivada é a Mundo Novo. A região de Piraju, a uma altitude média de 700 metros, produz café arábica, com cerca de 75% sendo da variedade Catuaí, 15% da variedade Mundo Novo e 10% de novas variedades, como Obatã, Icatu, entre outras.

Em Minas Gerais, as principais regiões produtoras são: Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Matas de Minas e Jequitinhonha. A altitude média do Cerrado Mineiro é de 800 metros e dentre o café arábica cultivado, a predominância é de plantas das variedades Mundo Novo e Catuaí. O Sul de Minas também produz apenas café arábica e a altitude média é de aproximadamente 950 metros. As variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo, mas também há lavouras das variedades Icatu, Obatã e Catuaí Rubi. A região das Matas de Minas e Jequitinhonha está a uma altitude média de 650 metros e possui lavouras de arábica das variedades Catuaí (80%), Mundo Novo, entre outras.

O Paraná chegou a ter 1,8 milhão de hectares dedicados ao cultivo de café. Hoje esse número é de apenas 156 mil hectares, mas o café ainda está presente em aproximadamente 210 municípios do estado e é responsável por 3,2% da renda agrícola paranaense. O café é cultivado nas regiões do Norte Pioneiro, Norte, Noroeste e Oeste do Estado. As áreas de cultivo são muito extensas, o que justifica a grande variação de altitudes. A altitude média é de aproximadamente 650 metros, sendo que na região do Arenito, próximo ao rio Paraná, a altitude é de 350 metros e na região de Apucarana chega a 900 metros. No Estado é cultivada a espécie arábica e as variedades predominantes são Mundo Novo e Catuaí.

A cafeicultura na Bahia surgiu a partir da década de 1970 e teve uma grande influência no desenvolvimento econômico de alguns municípios. Há atualmente três regiões produtoras consolidadas: a do Planalto, mais tradicional produtora de café arábica; a Região Oeste, também produtora de café arábica, sendo uma região de cerrado com irrigação e a Litorânea, com plantios predominantes do café robusta (variedade Conillon). Na Região Oeste, um número expressivo de empresas utilizando alta tecnologia para café irrigado vem se instalando, contribuindo, assim, para a expansão da produção em áreas não tradicionais de cultivo e consolidando a posição do Estado como o quinto maior produtor com, aproximadamente, 5% da produção nacional. No parque cafeeiro estadual predomina a produção de café Arábica com 76% da produção (com 95% sendo da variedade Catuaí) contra 24% de Café Robusta.

No Espírito Santo, os principais municípios produtores são Linhares, São Mateus, Nova Venecia, São Gabriel da Palha, Vila Valério e Águia Branca. O café foi o produto responsável pelo desenvolvimento de um grande número de cidades no Estado. São cultivadas no estado as espécies arábica e robusta (Conillon), tendo sido marcante a produção desta última, que se expandiu principalmente nas regiões baixas, de temperaturas elevadas. Atualmente as lavouras de robusta ocupam mais de 73% do parque cafeeiro estadual e respondem por 64,8% da produção brasileira da variedade. O Estado coloca o Brasil como segundo maior produtor mundial de Conillon.

No Estado de Rondônia a produção de café está concentrada nas cidades de Vilhena, Cafelândia, Cacoal, Rolim de Moura e Ji-Paraná. No cenário nacional, Rondônia representa o sexto maior estado produtor e o segundo maior estado produtor de café Robusta, com uma área de 165 mil hectares e uma produção de 2,1 milhões de sacas, constituídas exclusivamente pelo café robusta (variedade Conillon).




LINHA DO TEMPO DO CAFÉ
Lenda de Kaldi, um pastor de cabras que descobre o valor estimulante do café.
O café, utilizado como alimento cru, começa a ser cultivado em grande quantidade no Yêmen.
Tribos da Etiópia consomem a fruta macerada, misturada com banha, como alimento.
Descobre-se a infusão de café. A fruta é mergulhada em água fervida, e esta infusão é usada com fins medicinais.
O hábito de beber café torna-se popular em Constantinopla, levado pelo Império Otomano.
Primeiro café do mundo é aberto em Constantinopla, o Kiva Han. As leis turcas permitiam que a esposa pedisse o divórcio caso o marido não fosse capaz de prover um cota de café.
A bebida é preparada da mesma forma que conhecemos nos dias de hoje. O café se torna popular na Arábia, e como o Alcorão proíbe as bebidas alcoólicas, passa a ser bastante utilizado em cerimônias religiosas.
Khair Beg, governador de Meca, tenta proibir o consumo de café. O sultão, sabendo do ocorrido, decreta uma lei torna o café uma bebida sagrada e condena o governador à morte.
O café é levado para Mokha, onde se inicia um grande cultivo.
Prospero Alpino descreve o cafeeiro no livro De Plantis Aegypti, publicado em Veneza.
A primeira importação de café para Europa é feita pelos Venezianos.
A prática da torrefação e moagem de café espalha-se pela Europa. Um dos responsáveis por esta divulgação foi a "Botteghe del Caffè". No Cairo, inicia-se o uso de açúcar para adoçar o café.
Abre-se o primeiro café de Londres, Pasquar Rose, que causou conflito religioso, já que o café era considerado uma bebida impura por alguns religiosos da Inglaterra.
Os holandeses conseguem algumas mudas de café de Mokha.
O café invade a América do Norte, levado pelos holandeses.
Em Nova Amsterdã (Nova York) e Filadélfia, são abertas as primeiras coffee shops.
Nova York inicia um grande mercado de grãos de café em Wall Street, a Exchange Coffee House.
O exército otomano cerca Viena. Franz Georg Kolschitzky, um vienense, escapa do cerco turco e sai em busca de reforço. Os turcos recuam, deixando para trás várias sacas de café que Franz declara suas como "recompensa" pela vitória. Assim é aberta a primeira coffee house de Viena e difundido o hábito de coar a bebida e bebê-la adoçada com leite.
É aberto o primeiro café de Paris, o Procope, que atualmente é um restaurante em que se pode sentir a tradição das primeiras cafeterias européias.
Da estufa do jardim botânico de Amsterdã, saem alguns pés de café e, em 1699, inicia-se plantio experimental em Java e posteriormente em Sumatra.
O rei francês Louis XIV é presenteado com plantas de café pelo burgomestre de Amsterdã. Estas são colocadas na estufa dos jardins de Versailles. Destas mudas, os franceses levam o café para as Ilhas de Sandwich e Bourbon.
Holandeses levam o café para o Suriname, região nordeste da América do Sul, que se transforma em um grande centro produtor.
Floriano Francesconi inaugura o café Florian na Piazza San Marco, em Veneza, até hoje uma tradição.
Gabriel Mathieu de Clieu, capitão da marinha francesa, viaja para a Martinica levando mudas de café. A viagem é longa e algumas mudas morrem. O capitão resolve dividir com elas a sua ração de água para que chegassem ao continente. As plantas sobrevivem à viagem e se adaptam muito bem ao clima local. Infelizmente o capitão, que já tinha 80 anos na época da viagem, não ficou vivo o suficiente para ver o resultado de seus esforços, que deram origem a grandes plantações, que seriam as ancestrais da América.
Primeira plantação de café em terras brasileiras. O café começa a ser cultivado no Pará, a partir de uma muda trazida do Suriname, por Francisco de Melo Palheta.
Ingleses iniciam plantações na Jamaica, dando origem ao famoso café Blue Mountain.
Johann Sebastian Bach compõe a Contata do Café. As cafeterias já haviam se tornado um local para apreciação da música.
Mudas de Goa são trazidas para o Rio de Janeiro. O café é plantado na Gávea e na Tijuca por João Alberto Castello Branco.
O cientista alemão Ferdinand Runge descobre a cafeína a partir do café.
Depois de avançar pelo Vale do Paraíba, o café torna-se uma commodity importante para os brasileiros e chega a Campinas consagrando-a como a capital da cafeicultura paulista.
Brasil torna-se uma grande potência exportadora de café com 26 milhões de pés plantados.
Inaugurada a Estrada de Ferro Santos Jundiaí, que unia o principal porto de exportação à região produtora de café.
Ludwig Roselius coloca no mercado o primeiro café sem cafeína.
Com a crise de 29, decorrente da quebra na bolsa, há uma desestabilização do mercado. O financiamento junto aos bancos estrangeiros é interrompido, e os preços despencam, levando o setor para uma enorme crise.
Fim do domínio brasileiro no mercado de café.
Começa nos EUA a popularização do café expresso, com a difusão de redes de cafeterias.
As máquinas de café expresso automáticas ganham presença no mundo todo.
Consumo mundial supera a barreira dos 100 milhões de sacas.
Brasil atingiu recorde de quase 3 milhões de dólares na exportação de café, tendo a Alemanha superado os Estados Unidos como maior importador.
Comitê do Conselho da Bolsa de Nova York coloca na pauta o café despolpado brasileiro. A quantidade de lojas especiais para café na América do Norte supera a casa das 10 mil.




BIBLIOGRAFIA
NEVES, C. - A estória do café. Rio de janeiro, Instituto Brasileiro do Café, 1974. 52 p.
TAUNAY, A. de E. - História do café no Brasil: no Brasil Imperial 1822-1872. Rio de Janeiro, Departamento Nacional do Café, 1939.
DPASCHOAL, L. N. - Aroma de Café - DPaschoal, 2006


Fonte: Associação Brasileira da Industria de Café http://www.abic.com.br

OS PRIMEIROS CULTIVOS DE CAFÉ

A planta de café é originária da Etiópia, centro da África, onde ainda hoje faz parte da vegetação natural. Foi a Arábia a responsável pela propagação da cultura do café. O nome café não é originário da Kaffa, local de origem da planta, e sim da palavra árabe qahwa, que significa vinho. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no século XIV.

Os manuscritos mais antigos mencionando a cultura do café datam de 575 no Yêmen, onde, consumido como fruto in natura, passa a ser cultivado. Somente no século XVI, na Pérsia, os primeiros grãos de café foram torrados para se transformar na bebida que hoje conhecemos.
gravura - degustação de café na Etópia
Degustação de café na Etópia

O café tornou-se de grande importância para os Árabes, que tinham completo controle sobre o cultivo e preparação da bebida. Na época, o café era um produto guardado a sete chaves pelos árabes. Era proibido que estrangeiros se aproximassem das plantações, e os árabes protegiam as mudas com a própria vida. A semente de café fora do pergaminho não brota, portanto, somente nessas condições as sementes podiam deixar o país.

antigos instrumentos árabes para preparo de café
Antigos instrumentos árabes para preparo de café gravura - sultão
Sultão em Meca, bebendo café

A partir de 1615 o café começou a ser saboreado no Continente Europeu, trazido por viajantes em suas frequentes viagens ao oriente. Até o século XVII, somente os árabes produziam café. Alemães, franceses e italianos procuravam desesperadamente uma maneira de desenvolver o plantio em suas colônias.

Mas foram os holandeses que conseguiram as primeiras mudas e as cultivaram nas estufas do jardim botânico de Amsterdã, fato que tornou a bebida uma das mais consumidas no velho continente, passando a fazer parte definitiva dos hábitos dos europeus.
gravura - muda de café cultivada no Jardim Botânico de Amsterdã
Muda de café cultivada no Jardim Botânico de Amsterdã

A partir destas plantas, os holandeses iniciaram em 1699, plantios experimentais em Java. Essa experiência de sucesso trouxe lucro, encorajando outros países a tentar o mesmo. A Europa maravilhava-se com o cafeeiro como planta decorativa, enquanto os holandeses ampliavam o cultivo para Sumatra, e os franceses, presenteados com um pé de café pelo burgomestre de Amsterdã, iniciavam testes nas ilhas de Sandwich e Bourbon.

Com as experiências holandesa e francesa, o cultivo de café foi levado para outras colônias européias. O crescente mercado consumidor europeu propiciou a expansão do plantio de café em países africanos e a sua chegada ao Novo Mundo. Pelas mãos dos colonizadores europeus, o café chegou ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas. Foi por meio das Guianas que chegou ao norte do Brasil. Desta maneira, o segredo dos árabes se espalhou por todos os cantos do mundo.
gravura - mercadores de café
Mercadores de café - século XVI quadro de Debret - colheita de café nas colônias
Colheita de café - quadro de Johann Moritz Rugendas



A CULTURA DA BEBIDA CAFÉ

Segure uma xícara exalando o aroma de um bom café e você estará com a história em suas mãos.

Apenas um pequena gole dessa saborosa bebida fará com que você possa fazer parte de uma enorme cadeia de produção, romantismo e lances de muito arrojo, iniciada há mais de mil anos na Etiópia.


O hábito de tomar café foi desenvolvido na cultura árabe. No início, o café era conhecido apenas por suas propriedades estimulantes e a fruta era consumida fresca, sendo utilizada para alimentar e estimular os rebanhos durante viagens. Com o tempo, o café começou a ser macerado e misturado com gordura animal para facilitar seu consumo durante as viagens.

Em 1000 d.C., os árabes começaram a preparar uma infusão com as cerejas, fervendo-as em água. Somente no século XIV, o processo de torrefação foi desenvolvido, e finalmente a bebida adquiriu um aspecto mais parecido com o dos dias de hoje. A difusão da bebida no mundo árabe foi bastante rápida. O café passou a fazer parte do dia-a-dia dos árabes sendo que, em 1475, até foi promulgada uma lei permitindo à mulher pedir o divórcio, se o marido fosse incapaz de lhe prover uma quantidade diária da bebida. A admiração pelo café chegou mais tarde à Europa durante a expansão do Império Otomano.

gravura - preparo da bebida café
Preparo da bebida café gravura - transporte de café
Transporte de café entre cidades árabes



AS CAFETERIAS
Foi em Meca que surgiram as primeiras cafeterias, conhecidas como Kaveh Kanes. Cidades como Meca, eram centros religiosos para reza e meditação e a religião muçulmana proibia o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica. Desta forma, os Kaveh Kanes se transformaram em casas onde era possível se passar à tarde conversando, ouvindo música e bebendo café. A bebida conquistou Constantinopla, Síria e demais regiões próximas. As cafeterias tornaram-se famosas no Oriente pelo seu luxo e suntuosidade e pelos encontros entre comerciantes, para a discussão de negócios ou reuniões de lazer.
casa de café em Constantinopla
Casa de café em Constantinopla casa de café na Turquia
Casa de café na Turquia - início do século XVIII

O café conquistou definitivamente a Europa a partir de 1615, trazido dos países árabes por comerciantes italianos. O hábito de tomar o café, principalmente em Veneza, estava associado aos encontros sociais e à música que ocorriam nas alegres Botteghe Del Caffè. Em 1687 os turcos abandonaram várias sacas de café às portas de Viena, após uma tentativa frustrada de conquista, e estas foram usadas como prêmio pela vitória. Assim é aberta a primeira coffee house de Viena e difundido o hábito de coar a bebida e bebê-la adoçada com leite - o famoso café vienense.

As cafeterias desenvolveram-se na Europa durante o século XVII, enquanto florescia o Iluminismo e se planejava a Revolução Francesa. Durante tardes inteiras, jovens reuniam-se em torno de várias xícaras de café, discutindo o destino das nações, declamando poemas, lendo livros ou simplesmente passando o tempo. Atualmente, algumas casas famosas como o Café Procope, em Paris, e o Café Florian, em Veneza, ainda preservam o glamour dessa época.

comércio de café - 1690 consumo na Europa - 1730 cafeteria - Europa séc. XVIII
Comércio de café entre
árabes e europeus - 1690 Hábito de consumo de café se
espalha pela Europa - 1730 Cafeteria - Europa, século XVIII
cafeteria - Europa, séc. XIX café em Veneza café em Veneza
Cafeteria - Europa, século XIX Café em Veneza Café em Veneza
Até hoje os cafés são locais onde pessoas se reúnem para discutir assunto importantes ou simplesmente passar o tempo, sendo o ritual do cafezinho uma tradição que sobreviveu a todas as transformações.

Nos últimos anos, houve uma onda provocada pelas modernas máquinas de café expresso, que revolucionaram o hábito do cafezinho, permitindo um crescimento vertiginoso das cadeias de lojas de café.

A técnica de gerenciamento por meio do sistema de licença da marca também permitiu um rápido desenvolvimento dessas lojas especiais, voltadas para um mercado mais exigente, o de café Gourmet.
máquina de expresso
Antiga máquina de expresso



O CAFÉ NO BRASIL

O café chegou ao norte do Brasil, mais precisamente em Belém, em 1727, trazido da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará, que o enviara às Guianas com essa missão. Já naquela época o café possuía grande valor comercial.

Palheta aproximou-se da esposa do governador de Caiena, capital da Guiana Francesa, conseguindo conquistar sua confiança. Assim, uma pequena muda de café Arábica foi oferecida clandestinamente e trazida escondida na bagagem desse brasileiro.
gravura - Francisco de Mello Palheta
Francisco de Mello Palheta

Devido às nossas condições climáticas, o cultivo de café se espalhou rapidamente, com produção voltada para o mercado doméstico. Em sua trajetória pelo Brasil o café passou pelo Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Num espaço de tempo relativamente curto, o café passou de uma posição relativamente secundária para a de produto-base da economia brasileira. Desenvolveu-se com total independência, ou seja, apenas com recursos nacionais, sendo, afinal, a primeira realização exclusivamente brasileira que visou a produção de riquezas.

Em condições favoráveis a cultura se estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, iniciando em 1825 um novo ciclo econômico no país. No final do século XVIII, a produção cafeeira do Haiti -- até então o principal exportador mundial do produto -- entrou em crise devido à longa guerra de independência que o país manteve contra a França. Aproveitando-se desse quadro, o Brasil aumentou significativamente a sua produção e, embora ainda em pequena escala, passou a exportar o produto com maior regularidade. Os embarques foram realizados pela primeira vez em1779, com a insignificante quantia de 79 arrobas. Somente em 1806 as exportações atingiram um volume mais significativo, de 80 mil arrobas.

fazenda de café - Brasil, final do séc. XVIII
Fazenda de café - Brasil, final do século XVIII armazenagem de café - Brasil, séc. XIX
Armazenagem de café - Brasil, século XIX

Por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do Brasil e o inseriram nas relações internacionais de comércio. A cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitando o surgimento de cidades e dinamização de importantes centros urbanos por todo o interior do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná. Ferrovias foram construídas para permitir o escoamento da produção, substituindo o transporte animal e impulsionando o comércio inter-regional de outras importantes mercadorias. O café trouxe grandes contingentes de imigrantes, consolidou a expansão da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos culturais. A partir de então o café e o povo brasileiro passam a ser indissociáveis.

A riqueza fluía pelos cafezais, evidenciada nas elegantes mansões dos fazendeiros, que traziam a cultura européia aos teatros erguidos nas novas cidades do interior paulista. Durante dez décadas o Brasil cresceu, movido pelo hábito do cafezinho, servido nas refeições de meio mundo, interiorizando nossa cultura, construindo fábricas, promovendo a miscigenação racial, dominando partidos políticos, derrubando a monarquia e abolindo a escravidão.

Além de ter sido fonte de muitas das nossas riquezas, o café permitiu alguns feitos extraordinários. Durante muito tempo, o café brasileiro mais conhecido em todo o mundo era o tipo Santos. A qualidade do café santista e o fato de ser um dos principais portos exportadores do produto, determinou a criação do Café Tipo Santos.

Implantado com o mínimo de conhecimento da cultura, em regiões que mais tarde se tornaram inadequadas para seu cultivo, a cafeicultura no centro-sul do Brasil começou a ter problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando prejuízos incalculáveis.

Depois de uma longa crise, a cafeicultura nacional se reorganizou e os produtores, industriais e exportadores voltaram a alimentar esperanças de um futuro melhor. A busca pela região ideal para a cultura do café se estendeu por todo o país, se firmando hoje em regiões do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O café continua hoje, a ser um dos produtos mais importantes para o Brasil e é, sem dúvida, o mais brasileiro de todos. Hoje o país é o primeiro produtor e o segundo consumidor mundial do produto.



O TRAJETO DO CULTIVO DO CAFÉ NO BRASIL

O primeiro plantio ocorreu em 1727, no Pará. Devido às nossas condições climáticas, o cultivo de café se espalhou rapidamente.

O ponto de partida das grandes plantações foi o Rio de Janeiro, com as matas da Tijuca tornando-se grandes cafezais. O café estende-se para Angra dos Reis, Parati e chegou a São Paulo por Ubatuba. Em pouco tempo, o vale do rio Paraíba se tornou a grande região produtora da lavoura cafeeira no Brasil. Esta região com altitude e clima excelentes para o cultivo, possibilitou o surgimento de uma área centralizadora de culturas e população. Subindo pelo rio, o café invadiu a parte oriental da província de São Paulo e a região da fronteira de Minas Gerais. Na época o Rio de Janeiro era o porto de escoamento do produto e centro financeiro.

Entretanto, a cultura do café em áreas com declive acentuado e o total descuido quanto à preservação do solo gerou uma erosão intensa. Por este motivo, as terras se esgotaram rapidamente e a cultura cafeeira migrou para um outro local, o oeste da província de São Paulo, centralizando-se em Campinas e estendendo-se até Ribeirão Preto.

Campinas passou a ser então o grande pólo produtor do país. As culturas estendiam-se em largas superfícies uniformes, cobrindo a paisagem a perder de vista, formando os famosos "mares de café". Na região, os cafezais sofriam menos com esgotamento dos solos pela superfície plana da região, que facilitava ainda a comunicação e o transporte e proporcionava uma concentração da riqueza. Enquanto no Vale do Paraíba foi estabelecido um sistema complexo de estradas férreas, nessa nova região foi implantada uma boa rede de estradas rodoviárias e ferroviárias. Com este novo pólo produtor, o café mudou seu centro de escoamento, sendo toda a produção do oeste paulista a enviada a São Paulo e depois exportada a partir do porto de Santos.
ferrovia Santos-Jundiaí - 1860 embarque Porto de Santos - 1908 Bolsa do Café - Santos
Transporte de café pela
ferrovia Santos-Jundiaí - 1860 Embarque de café no
Porto de Santos - 1908 Pregão na Bolsa do Café, em
Santos (atual Museu do Café)
A cafeicultura no centro-sul do Brasil enfrentou problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando grandes prejuízos, e, mais tarde, durante a crise de 1929. No entanto, após se recuperar das crises, a região se manteve como importante centro produtor. Nela se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. Como a busca pela região ideal para a cultura do café cobriu todo o país, a Bahia se firmou como pólo produtor no Nordeste e a Rondônia na região Norte.




AS GRANDES FAZENDAS DE CAFÉ

As plantações de café foram fundadas em grandes propriedades monoculturais trabalhadas por escravos, substituídos mais tarde por trabalhadores assalariados: as grandes fazendas de café.

Estas fazendas ficaram famosas por sua arquitetura típica e seus equipamentos. Tanques em que o grão é lavado logo depois da colheita, terreiros para secagem, máquinas de seleção e beneficiamento fazem parte desse ambiente. A senzala dos escravos ou colônias de trabalhadores livres finalizam a caracterização das fazendas cafeeiras. A fazenda de café, desde a semente até a xícara, era um pequeno mundo, quase isolado.
fazenda de café
Sede de antiga fazenda de café fazenda de café
Terreiro de antiga fazenda de café

O desenvolvimento da produção cafeeira esteve intimamente relacionado com a quantidade de mão-de-obra disponível. Para incentivar a produção de café, a administração do Estado de São Paulo fez da questão imigratória o projeto central de suas atividades, estabelecendo um sistema que oferecia auxílio formal à imigração européia, principalmente à italiana. Por meio de um programa que cuidava da propaganda em seu país de origem, os imigrantes eram trazidos desde seu domicílio na Europa até a fazenda de café. A imigração ajudou na conquista de áreas ainda não exploradas, permitindo rápido desenvolvimento do Estado de São Paulo.

Com a mão-de-obra imigrante a cultura ganhou impulso e durante três quartos de século, quase toda riqueza do país se concentrou na agricultura cafeeira. O Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado. Nessa época os fazendeiros de café se tornaram a elite social e política, formando umas das últimas aristocracias brasileiras. A opulência dos plantadores de café permitiu a construção dos grandes e bonitos casarões das fazendas e de mansões na cidade de São Paulo e financiou a industrialização no sudeste do país.




A CRISE DE 29

A quebra na bolsa de Nova York em outubro de 29 foi um golpe para a estabilidade da economia cafeeira.

O café não resistiu ao abalo sofrido no mundo financeiro e o seu preço caiu bruscamente. As lavouras de café enfrentaram a verdadeira dimensão do mercado.

Nesse processo, milhões de sacas de café estocadas foram queimadas e milhões de pés de café foram erradicados, na tentativa de estancar a queda contínua de preços provocada pelos excedentes de produção.
quadro de preços - Bolsa Oficial de Café
Quadro de preços - Bolsa Oficial de Café

Quando a economia mundial conseguiu se recuperar do golpe de 1929, o Sudeste do país voltou a crescer, desta vez com perspectivas lastreadas na cafeicultura e na indústria, que assumia parcelas maiores da economia. O café retomou sua importante posição nas exportações brasileiras e, mesmo perdendo mercado para outros países produtores, o país ainda se mantém como maior produtor de café do mundo.

Das suas épocas áureas, ainda nos restam as belas sedes das fazendas coloniais, um extenso material técnico-científico, plantações centenárias e o hábito nacional do cafezinho.




O CAFÉ BRASILEIRO NA ATUALIDADE

Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café, volume equivalente à soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É também o segundo mercado consumidor, atrás somente dos Estados Unidos.

As áreas cafeeiras estão concentradas no centro-sul do país, onde se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. A região Nordeste também tem plantações na Bahia, e da região Norte pode-se destacar Rondônia.

A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado principalmente no Espírito Santo e Rondônia.
cafezal cafezal cafezal
Cafezal - detalhe de linha de plantio Cafezal - sistema de irrigação Cafezal - vista aérea

As principais regiões produtoras no Estado de São Paulo são a Mogiana, Alta Paulista Região de Pirajú. Uma das mais tradicionais regiões produtoras de café, a Mogiana está localizada ao norte do estado, com cafezais a uma altitude que varia entre 900 e 1.000 metros. A região produz somente café da espécie arábica, sendo que as variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo. Localizada na região oeste do estado, a Alta Paulista tem uma altitude média de 600 metros. A região é produtora de café arábica, sendo que a variedade mais cultivada é a Mundo Novo. A região de Piraju, a uma altitude média de 700 metros, produz café arábica, com cerca de 75% sendo da variedade Catuaí, 15% da variedade Mundo Novo e 10% de novas variedades, como Obatã, Icatu, entre outras.

Em Minas Gerais, as principais regiões produtoras são: Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Matas de Minas e Jequitinhonha. A altitude média do Cerrado Mineiro é de 800 metros e dentre o café arábica cultivado, a predominância é de plantas das variedades Mundo Novo e Catuaí. O Sul de Minas também produz apenas café arábica e a altitude média é de aproximadamente 950 metros. As variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo, mas também há lavouras das variedades Icatu, Obatã e Catuaí Rubi. A região das Matas de Minas e Jequitinhonha está a uma altitude média de 650 metros e possui lavouras de arábica das variedades Catuaí (80%), Mundo Novo, entre outras.

O Paraná chegou a ter 1,8 milhão de hectares dedicados ao cultivo de café. Hoje esse número é de apenas 156 mil hectares, mas o café ainda está presente em aproximadamente 210 municípios do estado e é responsável por 3,2% da renda agrícola paranaense. O café é cultivado nas regiões do Norte Pioneiro, Norte, Noroeste e Oeste do Estado. As áreas de cultivo são muito extensas, o que justifica a grande variação de altitudes. A altitude média é de aproximadamente 650 metros, sendo que na região do Arenito, próximo ao rio Paraná, a altitude é de 350 metros e na região de Apucarana chega a 900 metros. No Estado é cultivada a espécie arábica e as variedades predominantes são Mundo Novo e Catuaí.

A cafeicultura na Bahia surgiu a partir da década de 1970 e teve uma grande influência no desenvolvimento econômico de alguns municípios. Há atualmente três regiões produtoras consolidadas: a do Planalto, mais tradicional produtora de café arábica; a Região Oeste, também produtora de café arábica, sendo uma região de cerrado com irrigação e a Litorânea, com plantios predominantes do café robusta (variedade Conillon). Na Região Oeste, um número expressivo de empresas utilizando alta tecnologia para café irrigado vem se instalando, contribuindo, assim, para a expansão da produção em áreas não tradicionais de cultivo e consolidando a posição do Estado como o quinto maior produtor com, aproximadamente, 5% da produção nacional. No parque cafeeiro estadual predomina a produção de café Arábica com 76% da produção (com 95% sendo da variedade Catuaí) contra 24% de Café Robusta.

No Espírito Santo, os principais municípios produtores são Linhares, São Mateus, Nova Venecia, São Gabriel da Palha, Vila Valério e Águia Branca. O café foi o produto responsável pelo desenvolvimento de um grande número de cidades no Estado. São cultivadas no estado as espécies arábica e robusta (Conillon), tendo sido marcante a produção desta última, que se expandiu principalmente nas regiões baixas, de temperaturas elevadas. Atualmente as lavouras de robusta ocupam mais de 73% do parque cafeeiro estadual e respondem por 64,8% da produção brasileira da variedade. O Estado coloca o Brasil como segundo maior produtor mundial de Conillon.

No Estado de Rondônia a produção de café está concentrada nas cidades de Vilhena, Cafelândia, Cacoal, Rolim de Moura e Ji-Paraná. No cenário nacional, Rondônia representa o sexto maior estado produtor e o segundo maior estado produtor de café Robusta, com uma área de 165 mil hectares e uma produção de 2,1 milhões de sacas, constituídas exclusivamente pelo café robusta (variedade Conillon).

http://www.abic.com.br/scafe_historia.html

Cafézinho mineiro

CAFÉ - Hospitalidade Árabe e Paixão Nacional
por Inês Bomfim


Assim como os árabes, que em sinal de boas vindas, honram a seus convidados, com a preparação do café, também, não se visita casa de mineiro, sem provar de seu famoso cafezinho....

Diz-se que o mineiro fala pouco e, ás vezes nem termina as frases, num linguajar bastante característico, especialmente das cidades do interior.
Nestas cidades do interior de Minas, é muito popular um caso engraçado, a respeito de um diálogo travado por dois amigos enquanto preparavam, á moda mineira, o tradicional cafezinho da roça...
A água fervendo, o velho coador de pano a postos, e um dos amigos diz ao outro: - "Cumpá, po pô o pó?"
e o outro responde - "po pô!"

Diz-se também, que só quem é mineiro consegue traduzir imediatamente, esse estranho diálogo.... mas, para os que não sabem, aí vai a tradução:
- Compradre, posso pôr o pó?
- resposta do outro - pode pôr!

Um delicioso aroma espalha-se no ar.... toma conta das ruas pacatas das pequeninas cidades, cidadezinhas de Minas Gerais, onde é acompanhado pelo famoso pão de queijo! Alguém brinca dizendo: - È Minas Gerais espalhando seu jeitinho pelo ar.....
Cheirinho de café que invade as ruas, avenidas, pequenas cidades e grandes metrópoles....
e penso cá com meus botões - Não somente Minas, mas um cheiro de brasilidade, mania nacional, tomando conta do ar, dos lugares.....
Como se espalhou esse delicioso agrado árabe, pelo mundo afora?!!
Vejamos algumas curiosidades a respeito do café:

"O nome vem do árabe qahwa, através do turco,qahvé, passando ao italiano caffé.
A história do café perdeu-se nos primórdios do tempo.
Conta-se que há 3.000 a.C. em Kaffa (Àfrica), um certo pastor ficou surpreendido observando certa agitação nas suas ovelhas, quando comiam um fruto avermelhado. Cheio de curiosidade, levou vários desses frutos ao mosteiro próximo. No mosteiro, havia um revezamento noturno entre os monges, ao qual vários deles faltavam por não poder controlar o sono. Crentes na história do pastor, os superiores do mosteiro decidiram aproveitar as qualidades estimulantes desse fruto, e os resultados foram surpreendentes: não mais faltaram os monges à sua missão, dominados por uma estranha insônia e vivacidade.
tempos depois, na cidade de Moca, na Arábia, a planta encontrou o seu clima ideal. Deu-se tão bem que em todo o mundo tornou-se comum a expressão "café moca", lembrando a cidade de onde se acreditava ser originário. O naturalista sueco Karl Linen, classificou as plantas em 24 famílias diversas; imaginando que o café provinha da Arábia, deu-lhe o nome de "coffea arábica"; porém, está provado que foi a Abissínia o berço do café. O Professor Acquarone afirma: o café surgiu mesmo na Abissínia; porém, alguns estudiosos afirmam que o café, antes da Arábia, já era conhecido na Pérsia. Foi o xeque Gamaleddin Dhabhain, quem introduziu o uso do café na Arábia, e quem o vulgarizou em Aden (Pérsia); desta cidade passou a rubiácea, no fim do século IX da Hégira, isto é, do calendário árabe para Meca, Medina e depois para toda a Arábia. No século XV, os maiores propagadores da bebida foram os maometanos, que acreditavam na salvação do espírito de todos os bebedores de café. Em 1551 na cidade de Meca, o prefeito Clair Bey proibiu o seu uso, por ser uma bebida excitante, espalhando-se a crença de que bebedores de café, após a morte, apareciam diante de Allah completamente negros. O Sultão do Cairo revogou a lei.
Da Arábia, foi o café para o Egito no século XVI, onde após grandes discussões foi aprovado. Foi um dos produtos mais combatidos na época. Foi introduzido na Europa em 1554, primeiro na Itália e depois na Alemanha.
O primeiro estabelecimento para a venda de café na Europa, foi instalado em 1645e, Veneza (Itália). Na Suécia, sua divulgação causou grande celeuma; havia o grupo pró e o contra, a tal ponto que o Rei Gustavo III ordenou a suspensão da execução de dois condenados à morte e mandou encarcerá-los determinando que um deles tomasse café, e o outro chá, até morrerem, para descobrir qual dos dois é o mais venenoso. Passaram-se dias, meses, e anos, morreram os médicos que acompanhavam os pacientes, o rei foi assassinado, e um deles só veio a morrer com a idade de 82 anos ( o bebedor de chá).
Na América do Norte, foi introduzido em 1688.
A província do Pará foi a primeira do Brasil, em que se cultivou o café no ano de 1723.
Foi com o café que conseguimos obter todo o material imprescindível para a nossa indústria, instalação de usinas, máquinas diversas, etc."

O café faz parte da história do Brasil!
humm... falar nisso...... está sentindo?........que aroma delicioso se espalhando no ar?.....
Uma pausa para um cafezinho.....
Existe coisa mais corriqueira que essa, no Brasil?
Afinal, quem resiste a esta verdadeira paixão nacional: um saboroso "cafezinho"?

domingo, 30 de agosto de 2009

Café café Café

Significado do nome Cafe
CAFE: variante de CAUE (Sugerida por internauta - pendente de revisão)
Origem do Nome Cafe

Qual a origem do nome Cafe: TUPI
Significado de Cafe

Qual o significado do nome Cafe: HOMEM BONDOSO QUE AGE COM INTELIGÊNCIA.
Significado e origem do nome cafe - Analise da Primeira Letra do Nome: C

Pessoa charmosa, amavel e expressiva, muito criativa e um tanto curiosa. Tem uma certa dificuldade na concentração e como gosta de compartilhar tudo com os outros é o tipo de pessoa que não consegue guardar suas idéias só para si. Sempre de bom astral, é daquelas que adora festa. Só tem um problema em enfeitar demais a realidade, exagerando na dose e não conseguindo controlar sua mania de falar. Pode criar a imagem de fofoqueiro.



CAFEOMANCIA: Leitura da Borra do Café



A Cafeomancia é uma prática usada para adivinhar o futuro através da leitura da borra de café que aparece na parede e fundo de uma xícara, depois de bebê-lo.





Faytma de Moraes




Muito difundida nos países árabes, tornando-se uma de suas mais ricas tradições, principalmente no Irã, na Turquia e no Sul da Rússia, onde era praticada pelas cortes dos grandes czares. Posteriormente, foi introduzida na Europa, no século XVIII, sendo a França o primeiro país a adotá-la. Mais tarde, foi a vez da Itália, na cidade de Veneza, partindo para o resto do mundo.



Atualmente a prática da Cafeomancia é muito utilizada na Turquia e nos países do norte da África, que conservam essa prática há vários séculos, passando-a de geração a geração.

Para uma boa interpretação é necessário observar o aspecto geral da borra sobre a borda, quanto mais espessa (grossa) ficar, significa que o consulente está bloqueando a energia.

Faça uma meditação depois faça outra borra.



Quando sair muito “fraco” os traços ou com várias ramificações significa que o consulente precisa focar melhor seus objetivos, muitas ramificações significa excesso mental, estresse.

Observe sempre os desenhos que acompanham o conjunto. Por exemplo: Cachorro significa Fidelidade ou representa amigo, mas outro desenho próximo a ele pode modificar as condições, por exemplo, estiver uma serpente perto dele, ou uma cruz.



Traços fortes e bem definidos significa que o consulente está seguro no momento e que está seguro em relação aos seus objetivos.



Fatyma de Moraes no Programa

"Estrelas" da Rede Globo



Observe a xícara de um modo geral e tente perceber que elemento está. Note se a xícara está pesada ou leve, se o conjunto dos desenhos tem movimento, água, ar ou terra, você poderá desta maneira complementar os significados dos desenhos.



A Cafeomancia é um excelente oráculo para desenvolver a intuição facilitando a comunicação espiritual. É um excelente exercício para desenvolver sua percepção espiritual a medida que se tenta desvendar os significados dos símbolos.



É importante preparar o ambiente, acenda um incenso. Não é aconselhável fazer a borra de café quando está angustiado ou muito ansioso. Faça quando estiver tranqüilo, assim não influencia nos significados. Isso porque os elementais acabam brincando com você, e os desenhos podem sair de forma estranha. Respeite o oráculo



Se por acaso xícara mostrar apenas uma visão indistinta,confusa visualmente, considere o momento como disperso (Mental), o ambiente ou a pessoa estão carregados. Concentre-se e faça outra leitura. Caso não obtiver respostas melhor deixar para o outro dia.





O café é excelente para atrair a prosperidade e atua como elemento de limpeza em rituais. Incensos de café atraem a prosperidade e limpa o ambiente, além disso pode ser utilizado em magias para os relacionamentos.

Cafeomancia - O despertar da intuição

Histórias e lendas do café, importancia da cultura do café no mundo.
O café turco: preparação e consagração das xicaras.
Simbologia: o que é simbolismo, importancia da simbologia desde os primordios até os dias atuais.
Divisão da xicara de café:passado presente e futuro.
Os quatro elementos e as casas astrologicas.
Identificação dos pontos na xicara de café.
Simbologia geral:objetos, figuras, numeros, letras, simbolos runicos, corpo humano, figuras geométricas, entre outros.
Figuras de animais: interpretação e conselho desde o ponto de vista de diferentes mitologias e da cultura indigena.
O despertar da intuição, desbloqueio de formas, pensamentos com a xicara de café.

calcinha


esqueci minha calcinha no varal da casa dela...

poesias sobre café





"Depois de muito tempo,
Percebi que pior que a separação
É o esquecimento...

Prefiro que briguem comigo
A que me ignorem.

Nunca a palavra "amigo"
Me soou tão mal e amargo...

Achei que estivesse
Nas minhas mãos
O que hoje vejo nos braços de outro...

Percebi que não se requenta o amor...
Fica amargo, feito café...

Melhor mesmo, é não deixar esfriar
Pois as minhas lágrimas hoje,
São os sorrisos de outro

E o tempo,
Que pensava eu,
Ser um Mestre...

Não passa de um coadjuvante e espectador
Da minha triste atuação...."(Rose Felliciano)







O teu café não desce
Balança, balança
Mas não perece
Contigo ele até dança
Nem sei o que parece!

Esse café de duas horas
Que resiste a gravidade
Meu Deus!
Seria uma felicidade
Se tu o engolisse agora

Mas quem sou eu para dizer assim?
Esse café é forte
Ou tem muita sorte,
Pois nem eu vou durar até o fim!

Filosofia é questionar
O café da tua mão,
Aonde ele vai parar!?
Ou vai evaporar?
Antes da tua goela,
Não vai cair no chão
Teu café que congela
Pelo jeito vai perdurar
(queria que não!)

O teu café que não desce
Enquanto o copo apodrece
É negro feito a escuridão
Não acaba
Não emagrece
Seria bom se queimasse
(a tua mão!)

Essa bebida que te agüenta
Um dia vai secar com o tempo
Nada a ver com ser nojento
Mas como é chata
Essa tua mania de lentidão...





Poema de Cafe
Regresso ao cafe
a turbulencia das conversas
as chavenas que tilintam
as misses que passam

Oxala a que esta a meu lado
me de atençao
pelo menos, foi solidaria e benevolente
com o vendedor da "Cais"
Eu nao.
Ja tinha gasto os trocos
no "Diario de Noticias"
e numa revista vanguardista
chamada "Voz de Deus"
Oxala ela me prestasse atençao
em vez de andar entretida com o "Sudoku"
Oxala eu deixasse de ser timido.
A. Pedro RIbeiro, Porto, Piolho, 10.10.05

CAFÉ

Fui fuçando e cheguei até Mario de Andrade...

SOBRE "CAFÉ"

Mário de Andrade ocupou-se durante boa parte de sua vida literária com o projeto de escritura de "CAFÉ", inicialmente concebido como "Romance de oitocentas páginas cheias de psicologia e intensa vida", como afirma em carta endereçada a Manuel Bandeira em julho de 1929. A idéia inicial tomou outro curso constituindo-se como matéria para uma ópera coral, finalizada em 1942.

O poeta modernista tinha intenção de confiar a partitura musical de seu experimento dramático a Francisco Mignone, o que não aconteceu devido à sua morte prematura em 1945.

Inspirado nas mais diversas matrizes poéticas e musicais da cultura popular brasileira, Mário de Andrade esboçou um painel altamente crítico da decadência da economia cafeeira de São Paulo, após a crise de 1929, privilegiando o olhar amargurado e sarcástico da massa operária que tocava o trem do desenvolvimento da maior metrópole brasileira nas primeiras décadas do século vinte.

"CAFÉ" narra em versos a deterioração das relações de trabalho, num momento em que os barões do café (os "Donos da Vida") cedem às contingências da reordenação econômica mundial, submetendo-se às exigências do mercado externo, o que os leva a queimar quase a totalidade da produção de café, e a vender - não sem lucro garantido - suas fazendas espalhadas por todo o interior do estado.

Entretanto, o que poderia ser uma endeixa melancólica sobre a impotência do homem diante das grandes leis da economia, torna-se um canto de afirmação de seu poder de crítica e intervenção social ante a indigência mental e negligência criminosa de uma elite econômica, e de seus representantes políticos.

É importante lembrar que a obra de Mário de Andrade refere-se a um período em que o autor alimentava interesse pela reflexão sobre temas sociais. Essa atitude imprime ao texto a convicção de uma transformação radical da sociedade por meio de uma revolução. Essa perspectiva confere à obra extrema atualidade, na medida em que propõe a análise de um período fundamental da história do país a partir do olhar sensível do homem comum. Além do testemunho histórico, "CAFÉ", apesar de ser uma obra inacabada, constitui-se num dos mais arrojados experimentos estilísticos de Mário de Andrade, tanto no que diz respeito ao tratamento dos temas ligados à prosódia popular - a fala do migrante nordestino e do imigrante europeu -
quanto da estruturação formal do poema, tratado como embrião de uma ópera de feição brasileira.

Nessa radicalidade formal reside o interesse prático maior da pesquisa que visa a materialização da poesia de Mário de Andrade em música e imagens cênicas que componham a partitura do espetáculo "CAFÉ: Ópera Imcompleta".




A ENCENAÇÃO

O poema dramático "CAFÉ", de Mário de Andrade, foi levado poucas vezes ao palco. Talvez esse fato se deva à radicalidade formal com que o poeta abordou o tema da derrocada da indústria cafeeira em São Paulo nas primeiras décadas deste século. Além da difícil empreitada de transpor para a cena os vários poemas que compõem essa obra, nos parece que o maior obstáculo está em lidar com outra espécie de radicalismo. Um radicalismo que diz respeito menos à forma do que ao assunto tratado, e à sua indesejável atualidade.

Mário de Andrade refere-se ao poema como "uma tragédia secular". De fato, uma dos personagens principais é ninguém menos do que a FOME. Entretanto, o poeta vislumbra em meio ao caos econômico uma alternativa ao quadro de horror que ela proporciona. É preciso considerar que a obra foi finalizada em 1942, um período obscuro da história (não só do Brasil), que exigia coragem de quem se punha o problema de pensar sobre o destino da humanidade. "CAFÉ" é emblema dessa disposição para a luta por um futuro melhor. Espelha a indignação e a esperança de um poeta que acredita na transformação
do mundo, e não tem vergonha de expor esse seu desejo.

Embora já tenham se passado quase sessenta anos de sua publicação, o poema de Mário de Andrade conserva o mesmo
vigor com que foi escrito. Levá-lo à cena nos dias de hoje, nos parece mais do que oportuno, necessário. Essa necessidade impõe desafios tanto no que se refere ao tratamento formal, quanto à reelaboração dramatúrgica do texto original.

A encenação tem como pressuposto a concretização da poesia de Mário de Andrade em imagens cênicas que não sirvam apenas de ilustração para a declamação. Tampouco tem a intenção de apresentá-la como ópera no sentido mais tradicional do termo, cuja padronização formal parte de um convencionalismo morto. Ao contrário, seu objetivo é transpor para a cena a riqueza imagética do poema, valendo-se da música como recurso narrativo, sem contudo diminuir ou anular as contradições de seus personagens.

Essa opção requer um tratamento cenográfico que prescinde do aparato tradicional do palco italiano. Valendo-se de elementos mínimos que possam preencher o espaço da ação ficcional, através de um procedimento que solicite do espectador sua contribuição imaginária, o espetáculo propõe o espaço vazio como lugar privilegiado para a construção da cena. Essa economia de recursos, associada à execução da partitura musical pelos próprios atores, à vista do público, dá o caráter geral da encenação.


Mário de Andrade no Café

Flávia Camargo Toni; Marcos Antonio de Moraes


"Nem todo o trigo do universo feito pão
Acalmava esta fome antiga e multiplicada
Fome de fome"

Mário de Andrade, Café



MÁRIO DE ANDRADE moderno e modernista, ao longo de toda a sua obra de artista, crítico e historiador preocupou-se com seu papel na humanidade e sua função na História. Essa preocupação marca fortemente Café, uma "tragédia secular" em forma de ópera, no momento em que, já superado o modernismo de programa, repensa o papel social da arte.

Passada a euforia do primeiro tempo modernista, os anos 30 procuram redefinir a questão da modernidade na literatura e nas artes. Oswald de Andrade, em 1933, ao publicar Serafim Ponte Grande, pondera: "A valorização do café foi uma operação imperialista. A poesia pau-brasil também. Isso tinha que ruir com as cornetas da crise. Como ruiu quase toda a literatura 'de Vanguarda', provinciana e suspeita, quando não extremamente esgotada e reacionária. Ficou da minha este livro". É importante, pois, constatar que o mesmo café, "mecenas" e patrocinador da geração "sarampão antropofágico", traz com o próprio declínio e crise o fim do primeiro modernismo em 1929, após a guerra da bolsa de Nova York e o conseqüente comprometimento de toda a estrutura da "semicolônia". Data de 1933 o primeiro esboço da Ópera Café e a poesia de A costela do Grão-Cão, quando cresce a voz do poeta profeta, demolindo ilusões e clamando por um tempo novo.

O texto de Café passará por várias redações, sendo a última de dezembro de 1942. Em 1939, vivendo no Rio de Janeiro, Mário acha o parceiro musical no amigo e compositor Francisco Mignone. O projeto, todavia, não se completará musicalmente. Dividido em "Concepção melodramática" e "Tragédia secular" (o poema), Café, dedicado a Liddy Chiafarelli, mulher de Mignone, aparecerá em Poesias completas em 1955, 10 anos depois da morte de Mário de Andrade. Tendo referências imediatas a fatos históricos, o texto/poema correria perigo de se tornar panfletário, se o autor não tivesse trabalhado cuidadosamente o sentido simbólico da crise do café. Constata Victor Knoll (Paciente arlequinada) que um juízo de valor muito forte acaba por sublimar a obra: a crença utópica em um "Dia Novo", melhor, comunitário e humano.

Em novembro de 1943, decorridos 11 meses da conclusão de Café, Mário, em dois artigos de sua coluna Mundo Musical — "Do teatro cantado" e "Psicologia da criação" — na Folha da Manhã, conta a gênese do libreto. No primeiro, relata a conversão daquele que, na imprensa, tanto se opusera à ópera e, no segundo, destaca a "idéia criadora" do texto de Café.

A conversão se dera em 1933, quando a agenda musical da cidade de São Paulo estava lotada de apresentações de óperas montadas por companhias líricas italianas e brasileiras. Mário, como crítico musical, se aborrecia com o número de encenações a que devia comparecer, devendo mesmo suportar a má qualidade de algumas. Naquele momento começara a pensar mais detidamente sobre a ópera: "(...) aos poucos os problemas do teatro cantado se impunham a mim, me empolgavam, eu já não ria mais, eu não desprezava mais ninguém, e ao mesmo tempo que, embora ainda desconfiado, eu me convertia à ópera como valor estético, me perseguia como prodigiosamente grava a importância social dela." Cumpria pois, revitalizar o gênero em função da escolha de assuntos contemporâneos "que tivessem para nós o mesmo interesse e a mesma possibilidade de coletivização e ensinamento. O café! A imagem pulou. Não seria possível acaso tentar uma ópera de interesse coletivo, tendo como base de assunto o café?..."

"Seria sim!" E ele, Mário de Andrade, o poeta que, em 1922, já era grande conhecedor da múscia e havia publicado, em Paulicéia desvairada, "As enfibraturas do Ipiranga", um "oratório profano", em 1933 tomava para si o encargo de uma ópera de interesse coletivo centrada na crise do café. E moderno, arrojado, acreditava em uma originalidade maior, ao escrever exclusivamente para coros, eliminando os virtuoses, ou seja, desenvolvendo "personagens corais".

Encontrava uma forma de banir o virtuosismo de palco, preso a heróis e heroínas representados por primasdonas e tenores malabaristas, que detestava. Pretendia levar ao extremo aquilo que o Guilherme Tell de Rossini, que Verdi nas Vésperas sicilianas, na Aída e no Nabuco ou Boris Gudonov de Mussorgski haviam inaugurado: a transferência da narrativa para grupos corais, a "ópera de interesse coletivo", cantada enquanto representação do povo. E para evitar a monotonia coral, buscava solução no jogo de timbres e volumes vocais alternando vozes mistas, masculinas e femininas, combinadas em madrigais e tutti.

Quanto ao assunto — Mário recapitula a eclosão do projeto — o café, tão familiar aos brasileiros, não seria explorado a partir de sua experiência de jornalista que presenciara a crise de 1929 e a revolução de 30. Queria, isto sim, retomar a idéia do "princípio místico de morte e ressurreição" de deus da natureza, do sustento tribal, "mito na raiz de tantas culturas, desde a Grécia Antiga". E como esse princípio persiste "na base das próprias formas econômicas e institucionais das sociedades", a economia paulista oscilava em função da "morte e ressurreição ânua do café". A partir do momento em que o produto baixasse de preço no mercado, a insatisfação pública geraria a revolta exigindo a mudança de regime.

Surgira assim o enredo "com muita lógica conclusiva": três atos, culminando com o triunfo da revolução. Café, segundo o autor, vai expressar os "sofrimentos verdadeiros" e a quebra do jogo, quando as massas oprimidas renascerem no "Dia Novo", livres de fome, em um mundo onde as desigualdades sociais inexistem, porque, havendo união não haverá fracasso; mundo onde o individual é substituído pelo social. No primeiro ato, tanto no porto, como no campo, as massas corais, estivadores e colonos externam sua impotência perante "os donos da vida", a ópera denunciando as condições de penúria e opressão daqueles que dependem do café; trazendo já o ânimo de resposta e resistência das mulheres. No "Coral das famintas", as mulheres dos estivadores incitam à luta; na voz das colonas vem: "O homem não é propriedade do homem", verso marcado no texto como citação.

No segundo ato, formado pelas cenas da Câmara dos deputados e do êxodo, a intenção é confrontar abastados e desvalidos. Os primeiros sempre usando o palavreado vazio e os segundos, a linguagem do medo e da necessidade. Nos apelidos, deputado do Som-Só, deputadinho da Ferrugem, deputado Cinza, e nos papéis que lhes cabem, o sarcasmo se afirma. A indiferença dos deputados é compartilhada pela dos jornalistas; na Câmara, nada se discute de útil. Os protestos da galeria criando tumulto precedem a entrada da Mãe, o momento mais trágico do libreto. O deputado Cinza, populista e manipulador, tenta fazer com que a Mãe derrame esperança sobre os desesperados, no discurso por ele escrito, que ela não logra decorar. A Mãe se lança então na "Endeixa" em que delira e expande o discurso da angústia e da dor. Encarna todas as mães do mundo; torna-se uma espécie de arquétipo do sofrimento milenar, quando se apropria do canto da Verônica: "Falai si há dor que se compare à minha!..."

O terceiro ato, "Dia Novo", apresenta, em cena única, a revolução, a vitória sobre o "presidente Papai Grande" e os "gigantes opressores". Na apoteose final, em um grande quadro móvel, o "Hino à fonte da vida" une:

"força!... amor!... trabalho!... paz!..."

Como se vê, a tensão dramática que cresce no decorrer dos três atos só é rompida em uma única e eficaz cena cômica. Mário dá sua explicação, em 1943 ("Do teatro cantado"), quando focaliza a diferença entre o imaginar e o escrever, pois, no passar dos anos, muita coisa mudara em sua ópera coral. Em um determinado momento, diante do excesso de gravidade na predominância dos coros masculinos, entendera que deveria desfatigar o público dando-lhe a pândega de "Câmara de ballet", uma sátira às câmaras de deputados. Associara-se então às soluções do Ballet Joos, da moderna dança sueca, cujo espetáculo, Table Verte, o havia deslumbrado em 1940.

Entusiasma saber que Café chega finalmente ao palco e recebe a música de Koellreutter. Cabe lembrar que, nos anos 60, a montagem teatral por estudantes universitários foi proibida pela censura; ameaçava o "regime, a ordem pública e as autoridades". Esse tempo sem sol tudo fez par sufocar a crença em um "Novo Dia", reiterada nos festivais de música, como estuda Walnice Nogueira Galvão em "MPB: uma análise ideológica".

Conhecida na leitura, a "concepção melodramática" de Café nos surpreende pela visão de cenografia, de marcação de cena, e nos dá a certeza de que o autor ouvia/construía a música que não viu concretizada na partitura. E o poema nos emociona; nos empolga. Quando, no jornal e na TV, testemunhamos o perambular de todos os sem-terra e sem-teto, no Brasil e no mundo, escutamos a Mãe que repete:

"Falai!...

Falai si há dor que se compare à minha!..."





Flávia Camargo Toni é pesquisadora na área de Música.
Marcos Antonio de Moraes é doutorando em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP.

Virei a página


Alice tem manipulado muito minha imaginação, isto tem me cansado. Resolvi deixa-la um pouquinho de lado. Pensei num monólogo (alice)2 = Alice ao Quadrado. Mas vou deixa-la, só um pouquinho. Tenho ido pras ruas veender meus cds. Penso num segundo e também já num terceiro. Este segundo vou juntar o restantes das músicas que já tenho gravado. O terceiro penso em pesquisar o CAFÉ. O que esta me extimulando é a capinha que o Glaucos fez pra mim. Ele mergulha a folha na panela com o pó de café. Fica massa. To pesquisando... Ja encontrei coisas interessantes...


A História do Café


Há cerca de trezentos anos, o café tem sido uma bebida popular em todo o mundo civilizado, mas pouco se sabe sobre a maneira exata como foi descoberto.

Talvez você tenha ouvido algumas lendas antigas sobre cabras pastando nas montanhas, comendo os frutos do cafeeiro, e em seguida dando cabriolas devido às propriedades estimulantes do café.

Existem outras narrativas que falam sobre um fanático religioso expulso de Moca que se refugiou nas montanhas da Arábia. Ele provou alguns frutos estranhos que cresciam num arbusto. Como eram amargos, ele tentou melhorar o sabor tostando-os sobre o fogo. Isso os tornou quebradiços, e ele tentou amolecê-los na água, e quando a água na qual os grãos estavam imersos se tornou marrom, este Sr. Omar (pois este era o seu nome) bebeu e descobriu como aquilo era bom e revigorante. Isso foi lá pelos idos do século treze. Muito antes disso o café crescia à vontade na Abissínia.

O café, até o final do século dezessete, vinha totalmente da Arábia e era conhecido como Moca, o nome da cidade de sua origem. Mais ou menos naquela época, espertos mercadores holandeses, percebendo a crescente demanda e as perspectivas de um novo comércio, induziram seu governo a experimentar a plantação de café nas possessões das Índias Orientais Holandesas. O governador da Ilha de Java distribuiu sementes em várias partes da Ilha e devido à fertilidade do solo e as condições climáticas favoráveis, logo as plantas se desenvolveram. De Java, o café espalhou-se para as Índias Ocidentais e finalmente para a América do Sul e Central, onde o clima era particularmente propício ao rápido desenvolvimento do cafeeiro. Ali o seu cultivo foi feito de maneira extensiva, até agora, e provavelmente 90% de todo o café cultivado vem do Hemisfério Ocidental.

Assim o centro da produção se mudou do antigo mundo para o novo e, com um começo promissor, o café atualmente é uma das produções mais rentáveis do comércio mundial. O consumo chega a 2 bilhões de quilos, dos quais cerca de 57% são fornecidos pelo Brasil. Os Estados Unidos lideram como país consumidor de café, com cerca de metade de toda a quantidade consumida mundialmente. O consumo per capita excede 7 quilos por ano.

O cafeeiro é plantado com as sementes totalmente amadurecidas, selecionadas com esta finalidade. Quando as mudas atingem trinta centímetros de altura, são levadas para a plantação e dispostas em fileiras, com três metros de distância entre elas. Quando estão totalmente crescidas, atingem a altura de 3 metros ou pouco mais.

Cada arbusto produz anualmente até um quilo e meio de café, depois do quarto ou quinto ano. Os cafeeiros podem produzir até os 100 anos de idade, mas seu período mais produtivo vai do 5º ao 50º ano. A folhagem é de um verde escuro brilhante. As flores são pequenas em formato de estrelas, perfumadas, e crescem em cachos.

O desenvolvimento do fruto exige cerca de seis meses e, quando maduro, tem uma cor vermelho profundo e é conhecido como "cereja". Durante a estação da colheita, os serviços de todos os trabalhadores da fazenda e suas famílias são necessários para que o fruto possa ser colhido rapidamente e encaminhado para os preparativos finais.
O café é preparado de duas maneiras:

1 – O processo natural. 2 – O processo de lavagem.

"O café natural" é obtido permitindo-se que os frutos permaneçam na planta após terem amadurecido. O sol tropical em pouco tempo faz com que a umidade da polpa se evapore, e o fruto se torne enrugado e preto. Neste estágio os trabalhadores fazem os frutos caírem ao chão, onde as mulheres e crianças os varrem e ensacam. São em seguida enviados para o "benefício", ou fábrica, para tratamento. Este consiste de uma rápida lavagem para remoção dos gravetos e outras substâncias estranhas.

As sementes são então espalhadas num pátio de cimento para secar, e permanecem expostas ao sol durante cerca de sete dias. Todas as noites, porém, são juntadas e cobertas com lonas para protegê-las do orvalho, pois a umidade neste estágio seria prejudicial.

Quando o café está totalmente seco, a película externa torna-se quebradiça e pode ser removida facilmente por uma máquina debulhadora.

Os frutos são então separados de acordo com o tamanho e qualidade, após o qual são empacotados para exportação. O processo natural de seleção é usado quase que inteiramente no Brasil.

"O café lavado" exige um manuseio totalmente diferente, como o nome sugere, uma verdadeira lavagem ocorre durante a secagem.

Em vez de tirar os frutos secos dos galhos, como é feito com o "café natural", cada fruto maduro é apanhado individualmente, transportado para uma máquina de polpa, bastante similar à que processa as cerejas. Esta máquina remove a polpa. Deixando o grão de café envolvido numa casca dura como o couro. Os grão são colocados em grandes tanques de cimento ou barris cheios de água. Os frutos permanecem nestes tanques por cerca de vinte a trinta horas. Durante a imersão, ocorre uma fermentação que muda o sabor, produzindo aquilo que se conhece como "acidez".

Depois que o processo de lavagem é completado, o método de secar e debulhar é parecido com o do "café natural". Na aparência, porém, o grão lavado mudou por completo. Está muito mais limpo e com melhor aparência, e quando devidamente lavado e curado, fica de um verde escuro e tem mais valor que o grau correspondente de "café natural". Seu valor aumenta ainda mais quando os grãos imperfeitos ou danificados que não puderam ser removidos pela máquina são retirados à mão. Isso é conhecido como "catar à mão".

O cafeeiro exige clima quente e pode ser cultivado com lucro num cinturão de vinte graus ao norte ou ao sul da linha do Equador. A condição do solo, local da plantação e altitude, todos são vitais para o cultivo do café, e todos têm maior ou menor influência na qualidade do café produzido. Os cafés mais finos vêm das plantações situadas a mil ou mil e quinhentos metros acima do nível do mar, onde os dias são quentes e as noites frescas, e onde os cafeeiros são plantados num solo gradualmente inclinado para melhor drenagem.

A colheita em cada país é similar em aparência e sabor de ano para ano, embora o excesso de chuvas ou a sua falta possa modificar de alguma forma a aparência, e o excesso de umidade durante a estação seca possa provocar um efeito prejudicial na qualidade da bebida.

Há uma grande diferença, especialmente na xícara, do produto de cada país. Cada qual tem suas características peculiares e sabor individual. A mistura do café é realmente uma arte em si. Ao juntar sabores distintos e individuais, em proporções exatas, os especialistas produzem um café delicioso.

Suave estimulante

Os estimulantes são substâncias que excitam os nervos e alguns órgãos do corpo. Os nervos estimulados enviam mensagens ao cérebro e dele para outras partes, com muita rapidez. Isso faz a pessoa agir e pensar de maneira mais alerta e animada.

O café (como o chá) contém cafeína que eleva a pressão sanguínea e age como um leve estimulante. Uma ou duas xícaras diárias de café provavelmente é algo inofensivo para a maioria das pessoas. Porém algumas pessoas acham que beber café antes de ir para a cama pode causar insônia.

Os médicos às vezes aconselham determinados pacientes a se absterem completamente de café, ou a beberem um café descafeinado. Em muitas fábricas e escritórios, portanto, "a pausa para o café" é fornecida aos empregados às custas da empresa. Isso é considerado boa política – e bom investimento, pois a pausa para o café recobra as energias e estimula os trabalhadores a trabalharem com maior eficiência. Para muitas pessoas, o café é simplesmente uma bebida deliciosa, mas para nós ele possui também uma mensagem especial, relacionada à nossa vida espiritual.

Na vida espiritual e religiosa também é possível ficar cansado e desgastado por realizar sempre os mesmos deveres. Durante as preces diárias e o cumprimento de nossas mitsvot podemos nos tornar mecânicos, sem vitalidade e entusiasmo.

Uma "pausa para o café" espiritual, portanto, é necessária. Quais são os estimulantes espirituais que podem renovar a alma como o café renova o corpo?

A própria Torá, com toda a certeza, é o maior estimulante da vida religiosa e espiritual, mas algumas partes da Torá são ainda mais estimulantes para determinadas pessoas. Estas partes são Mussar (ética religiosa) e especialmente a Chassidut, que despertam as qualidade que fornecem vitalidade e entusiasmo no cumprimento de todas as mitvsot.

Existem também alguns dias do ano que agem como estimulantes em nossa vida judaica.
Shabat e Yom Tov, o mês de Tishrei, e ocasiões similares são nossas doses, nossas "xícaras de café" no sentido espiritual. Seu objetivo não é fornecer estimulantes espirituais temporários, mas inspiração para o ano inteiro. No entanto, é provável que o efeito desapareça sob o estresse da rotina diária, que lida principalmente com coisas materiais. Portanto uma "pausa para o café" espiritual, reavaliando nossa atuação no estudo e na prática é uma necessidade vital e permanentemente estimulante.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Aline Reis

Aline Reis é compositora intuitiva e visceral. Dotada de um estilo muito próprio de cantar e tocar violão, sua voz doce e sutil cativa à primeira escuta. O contraste entre a pujança de suas letras e a doçura da voz capta e intriga o ouvinte, que aguarda ansioso pelo melodioso refrão.

Os arranjos de Aline Reis, releituras livres de ritmos tradicionais brasileiros, sonoridades modernas e poemas cantados, marcam a obra criativa da compositora. Jongos, sambas, funk e pop são ingredientes de sua receita bem temperada, que faz a crítica às contradições de nosso tempo com simplicidade poética. Como não poderia deixar de ser, Aline Reis canta o amor, e rima, primorosamente, com a dor de amores inconclusos e confusos pelos quais viveu.

Filha mais velha de um casal de mineiros migrantes, Aline Reis cresceu em bairro periférico de São Paulo, onde entrou em contato com a produção cultural situada às margens da indústria cultural. Sagaz, cursou 2 anos da Escola de Sociologia e Política, o qual interrompeu quando deu-se conta de sua pulsão inexorável para a criação artística.



"Nas Paredes Gritos"
Aline Reis