quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Por Henrique Fogli

Nesse sábado, dia 09/10/10, ao meio dia, eu vou até o vão do MASP tacar fogo no meu título de eleitor. É um gesto idiota que só vai me trazer a dor de cabeça de ter que tirar outro depois? É! Mas é algo que eu preciso. É como o fim de um relacionamento, você precisa de um ponto final. E isso vai servir pra marcar o fato de que, dali pra frente, eu não vou levar mais essa porra de país a sério. Recuso-me a fazer parte de um sistema pouco democrático e muito malicioso. Perca dois minutinhos e leia até o final, veja se concorda comigo.

Para começar, falemos em números: foram investidos pouco mais de R$ 590.000 na campanha do ilustre palhaço Tiririca. Estima-se que, apenas com o repasse do fundo partidário que sua votação dá direito, o retorno em 4 anos ultrapasse a marca de 5 milhões de reais. E não está contabilizado aqui o retorno em Lobby nem em verba de gabinete prometida pra um ou pra outro do partido. Não interessa se ele vai ser um bom deputado ou não. Não é isso que se discute aqui. O que se sabe é que sua candidatura não foi pautada em nenhum ativismo político do candidato, mas somente em sua popularidade, como isca de votos daqueles menos orientados que acreditavam estar protestando ao votar nesse palhaço e não em outro. Aqueles que compravam votos agora os resgatam em casas eleitorais de câmbio.

É a rifa da democracia. Nem o investimento mais arrojado do mercado proporciona tamanho retorno financeiro. Se temos dispositivos nas nossas leis que transformam voto em dinheiro, que permitem que algo dessa maneira seja comum, legal, moral, probo, devemos alterá-las. O problema aparece quando as pessoas incumbidas de fazer tais alterações são as únicas que se beneficiam desses termos. É o interesse público reduzido a um mero interesse parlamentar. Se essa é a democracia que me apresentam, eu prefiro não participar.

Agora, imagina um emprego no qual você ganha bem, não tem chefe, não precisa efetivamente fazer nada nem aparecer muito. Você ainda recebe uma grana pra contratar uns 20 amigos se quiser, e o dobro do seu salário em benefícios. Pra ajudar, você ainda é responsável, com seus colegas, de propor os reajustes do seu salário.
Você mudaria as regras do jogo?

Claro que não. Assim como você, nenhum parlamentar é besta nem deve apresentar reformas políticas no Congresso. O tema não é assunto de debates em nenhuma esfera e tampouco foi proposta de algum deputado ou senador. E, sem uma reforma política, ficamos sujeitos a absurdos como o do último domingo.

O que é preciso é uma reforma política. Os parlamentares precisam ser vistos como funcionários do governo, e não de seus partidos. Prestar contas, dar satisfações, seguir critérios de eficiência. Não precisam de assessores contratados em cargos de confiança, precisam de uma assessoria técnica, ligada à toda instituição, não a este ou àquele deputado. É preciso cobrar alternância de poder nos partidos políticos para coibir um pouquinho da sujeira que passa por todos eles. É preciso mudar a índole da política nacional, acabando com as regalias e cabides de emprego que a legislação permite, reduzindo assim o número de aproveitadores.

E mais uma coisa: não é o meu voto, nem o seu, nem o dos seus vizinhos, primos, colegas que vai mudar o rumo disso aqui. Ou a sociedade se mobiliza de alguma forma mais efetiva ou mantém essa esperança infantil de tentar mudar o país de 4 em 4 anos.

Sábado, 9 de outubro de 2010, ao meio dia no vão do MASP. Se a sua esperança também acabou, apareça por lá com seu título de eleitor. Isqueiro eu levo!

Henrique Fogli

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