domingo, 21 de novembro de 2010

O que ali se viu


O que ali se viu

Uma encenação do Coletivo Teatro Dodecafônico

Inspirada na obra literária de Lewis Carroll, as cenas recriam figuras retiradas do jogo de xadrez e convida o espectador a olhar o espaço arquitetônico sob nova perspectiva. Estreia dia 24 de outubro e as apresentações serão realizadas aos sábados e domingos, com entrada franca.

O que ali se viu - SINOPSE

O que ali se viu é uma encenação itinerante na qual a Alice dos textos de Lewis Carroll não aparece. O público assume o lugar da personagem, percorrendo cenas instaladas no espaço. O Coletivo Teatro Dodecafônico apresenta dez atores em formações corais e revezando-se na performance de figuras retiradas do jogo de xadrez non sense da obra literária.

NOTAS SOBRE O PROCESSO DA ENCENAÇÃO
por Verônica Veloso

O processo de criação de “O que ali se viu” partiu de um diálogo com as Alices de Lewis Carroll. O objetivo não era adaptar a obra do autor inglês, mas reagir ou responder à ela, utilizando imagens e trechos das obras de Carroll como ponto de partida para uma reflexão sobre a infância. O non sense e a fragmentação do discurso foram alguns dos atrativos desses textos que casavam perfeitamente com a ideia de encenação praticada pelo Coletivo Teatro Dodecafônico.

A escritura dessa encenação se baseou na proposição de uma trajetória, como sugerem as duas histórias inventadas por Carroll. Em nossa proposta, tal percurso deveria ser cumprido por todos, atores e público, que reviveriam algumas aventuras de Alice do outro lado do espelho e no suposto País das Maravilhas. Desse modo, as dependências do SESI Vila Leopoldina tornaram-se um imenso jardim a ser explorado de modo estranhado. As cenas foram instaladas nessa “locação” sem necessidade de complementações de cenários, apenas a ressignificação do espaço parece ser suficiente para torná-lo palco dessa viagem.

Em “O que ali se viu”, Alice não aparece, é apenas sugerida. A Alice dessa encenação é sempre renovada pelo espectador, que experimenta o gostinho do que ela pode ter sentido ou buscado em suas itinerâncias. Algumas cenas convidam os espectadores a parar e apreciar, às vezes bem acomodados; outras cenas transportam o público pela mão, como viajantes dessa trajetória. Nesse caso, o público se confunde com a própria Alice, que descobre a si mesma a cada passo desse mundo subterrâneo, ou talvez, íntimo.

Assim como o texto original, essa encenação se baseia numa escritura imagética, que coloca as imagens lado a lado com o texto e as sonoridades, propondo a não hierarquia entre esses elementos constitutivos da cena. Para tanto, as cenas são dispostas na trajetória a partir de pontos de vista que convidam o espectador a olhar o espaço arquitetônico do SESI com outra finalidade.O que ali se viu

Em “O que ali se viu”, o Coletivo Teatro Dodecafônico investe na pesquisa de formações corais com dez atores, investigando “coralidades”, tal como supõe a teoria do teatro contemporâneo. O coro preconizado pelos gregos representava a voz do povo, a opinião pública, e se caracterizava por comentar a ação vivida pelo protagonista. A coralidade aparece em um contexto de falas estilhaçadas, como um conjunto refratário de vozes, um coletivo discordante. O termo também serve para qualificar estéticas híbridas, próximas da instalação, apoiadas apenas sumariamente no texto. Assim sendo, a palavra é apresentada em forma de pluralidade, de dispersão e de entrelaçamento entre diferentes falas que se respondem musicalmente.

Nessa encenação, tais coralidades são compostas, em sua maioria, pelas figuras do xadrez. Todos os atores experimentam suas versões de Rainhas, Reis, Bispos, Cavalos e Torres e se revezam na formação da linha de peões. Por meio da construção corporal dessas figuras, e não da sobreposição de figurinos e enchimentos, diversas situações são apresentadas; nelas, Rainhas e Reis se deparam com a irreverente e dissonante linha de peões. Além das figuras do xadrez, outros personagens caros das Alices de Carroll sugeriram figuras que aparecem nessa trajetória.

Fica explícito, portanto, em “O que ali se viu”, a opção do Coletivo pela proposição de um teatro infanto-juvenil pautado em procedimentos contemporâneos do fazer teatral e, portanto, passível de ser visto por crianças e seus familiares adultos, sem prejuízos de interesse. A encenação pode ser uma oportunidade para os acompanhantes das crianças reavivarem a memória e a experiência da vitalidade e do imaginário infantil numa encenação afinada com seu tempo. O Coletivo Teatro Dodecafônico pretende tomar o público pela mão e levá-lo a atravessar o espelho e a olhar o mundo com olhos de Alice.

O que ali se viuBREVE HISTÓRICO
Coletivo Teatro Dodecafônico

O Coletivo Teatro Dodecafônico é formado por artistas de diversas áreas – corpo, voz, iluminação, arquitetura, música, moda, vídeo – que se uniram pela necessidade de pesquisar certos elementos do teatro contemporâneo. Desde 2006, com a encenação “ISAURA S/A + 1 Experimento Hidráulico”, parte prática da pesquisa de mestrado de Verônica Veloso, esses artistas se propõem a investigar:

– a utilização de espaços como locações cinematográficas, possibilitando que qualquer arquitetura possa ser utilizada como espaço teatral;
– a elaboração de corporalidades e sonoridades que colaborem para colocar o corpo no mesmo patamar dos demais elementos da cena;
– a alteração da relação entre público e cena, convidando o espectador a assumir pontos de vista inusitados em direção ao recorte observado.

A segunda encenação do Coletivo, “O Disfarce do Ovo”, estreou no SESC Pinheiros em maio de 2009, no espaço de leitura e oficinas da unidade. De outubro a dezembro de 2009, fez temporada na Casa de Dona Yayá, que pertence ao Centro de Preservação Cultural da USP. Em seguida, a encenação seguiu para o SESC Pompéia, ocupando a Choperia, em janeiro de 2010.

Desde fevereiro, uma equipe de 20 artistas encontra-se em estado de investigação e pesquisa para a criação de “O que ali se viu”, primeira encenação do Coletivo Teatro Dodecafônico voltada ao público infanto-juvenil.

FICHA TÉCNICA

Elenco: Ana Flávia Chrispiniano
Anna Dulce / Beatriz Cruz / Claudia Tordatto / Katia Lazarini / Lígia Borges / Paulina Caon
Pedro Felício / Samir Signeu / Sérgio Pupo
Dramaturgia: Silvia Camossa
Preparação Vocal: Sandra Ximenez
Músicas: Anna Dulce
Assistência de Encenação: Daniel Cordova
Vídeo: Marina Bastos
Figurino: Jorge Wakabara
Design Gráfico, Fotografia e Cenografia: Renata Velguim
Produção: Gabriela Cordaro e Verônica Veloso
Encenação: Verônica Veloso
Confecção de figurinos: João Pimenta
Edição da trilha sonora: Felipe Julian

http://www.sesisp.org.br/leopoldina/centrocultural/teatro.asp

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