quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Poder Corrompe?

Blog do Emir

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2010.



Pausa para uma Reflexão -
O Poder Corrompe?


Algumas frases que correm soltas e parecem, inclusive pela força da sua formulação, parecer evidentes por si mesmas, se prestam a somar-se à desmoralização da política, das ações coletivas, do Estado, favorecendo, como contrapartida, o individualismo, o egoísmo, o mercado – que busca congregar a todos como indivíduos na sua dimensão de consumidores.

Há poderes corruptos e outros não. Absolutizar é fazer o jogo dos que querem governos e Estados fracos, como os monopólios privados da mídia. Como dizer que “político é corrupto”, que “partidos são tudo a mesma coisa”, que “as pessoas não prestam”, que “todo mundo é egoísta”, “que o mundo não tem jeito”, “que as coisas estão cada vez pior no Brasil e no mundo”.


O senso comum costuma ser a representação popular de grandes preconceitos.
Aparece como “verdades” evidentes por si mesmas, que nem precisam demonstração. E camuflam valores muito reacionários. Para isso, precisam naturalizar as coisas, tirando seu caráter histórico.

O poder da ditadura, o do Collor, o do FHC e o do Lula são iguais? Basta se chegar ao poder, para alguém se tornar corrupto? O poder de uma grande potência imperialista, como os EUA, é mais ou menos corrupto que o poder de um país da periferia? O poder de um grande conglomerado econômico transnacional é maior ou menor do que o dos governos?

Uma ONG internacional publica anualmente o ranking do que seriam os governos mais corruptos do mundo. Um deles colocou o Haiti entre os lideres.

Será que o governo do Haiti é mais ou menos corrupto que o governo dos EUA?

Mas o principal problema dessa lista é que ela lista os corruptos, mas não os corruptores, que certamente estão entre as grandes corporações multinacionais. Mas se trata de uma ONG, busca criminalizar os governos e, por dedução, absolver as empresas privadas.

Essa visão criminalizadora da política e do poder sugere que as pessoas são “boas” na “sociedade civil” e quando “entram” para o Estado, para a política, se corrompem. É a visão que sustenta a opinião, tão disseminada, de “quanto menos imposto se paga, melhor”, de que “o seu imposto está sustentando aos burocratas”, etc.

Do que se trata é de historicizar o tema. Há poderes e poderes. Todos eles têm natureza de classe. Mas mesmo nesse marco, há poderes assentados diretamente em organizações populares, em dirigentes com compromisso ideológico com os processos de transformação profunda da realidade.

Senão contribuiríamos para a rejeição da política, deixando para que ela seja feita justamente pelos políticos tradicionais, acostumados a tirar proveitos do Estado e dos governos, a desmoralizar a política.

SUGESTÕES DE LEITURA

- MEXICO INSURGENTE [John Reed] Boitempo Editorial

- AS GAROTAS DA FÁBRICA [Leslie T. Chang] Editora Intrinseca

- VITÓRIA [Joseph Conrad] Editora Revan

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Postado por Emir Sader às 06:03



Emir Sader – nasceu em São Paulo. Formou-se em filosofia na USP, nos anos 60. Defendeu tese de mestrado em filosofia política e de doutorado em ciência política, na USP. Esteve 13 anos no exílio, de onde voltou em 1983. É professor de sociologia da USP e da UERJ, onde é responsável por um Laboratório de Políticas Públicas. Escreveu, entre outros, os livros 'Estado e política em Marx', 'A transição no Brasil' e 'Que Brasil é este?', 'O anjo torto - esquerda (e direita) no Brasil' e 'O poder, cadê o poder?'.



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