sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Primeiros passos da Sociologia no país

Janeiro/Fevereiro 2010 - Ano XXII - nº 252
Fonte: http://www.unesp.br/aci/jornal/252/cienciashumanas-3.php

Livro traz estudos pioneiros de norte-americanos com operários em São Paulo nos anos 1930

Os norte-americanos Horace Davis e Samuel Lowrie foram pioneiros da Sociologia Aplicada no Brasil. Agora, dois de seus textos, considerados clássicos, estão sendo resgatados no livro As pesquisas sobre o padrão de vida dos trabalhadores da cidade de São Paulo (Editora Sociologia e Política, 252 páginas).

A obra foi organizada por Angelo Del Vecchio, presidente do Conselho Superior da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Araraquara, e Carla Dieguez, professora e pesquisadora da Fundação.

A publicação reúne os trabalhos Padrão de vida dos operários da cidade de São Paulo, de Davis, e Pesquisa de padrão de vida das famílias dos operários de Limpeza Pública de São Paulo, de Lowrie, publicados em 1934 e 1938, respectivamente, na revista do Arquivo Municipal de São Paulo.

“A obra é uma iniciativa valiosa, pois dá conhecimento aos especialistas e ao público em geral dos primórdios do ensino e da pesquisa em Ciências Sociais em nosso país”, afirma Del Vecchio. “Além disso, o registro da experiência pedagógica proporcionada pela participação dos alunos da Escola nas pesquisas de campo como atividade curricular guarda, ainda hoje, atualidade e boa dose de arrojo.” Diretor-geral da FESPSP, Waltercio Zanvettor ressalta que a edição fac-similar reproduz textos na íntegra, “com paginação, tipologia e ortografia originais”.

Del Vecchio aponta que as duas pesquisas subsidiaram de maneira significativa a implantação do salário mínimo no país e são um marco na institucionalização da Sociologia no Brasil. “Pela primeira vez, houve a associação entre o ensino da disciplina e a pesquisa empírica”, afirma o professor. “Davis e Lowrie merecem destaque por terem sido, por meio de estudos sobre os operários da cidade de São Paulo, os introdutores dos inquéritos sobre o padrão de vida da população.”

Análise do consumo – A pesquisa coordenada por Davis, então responsável pela disciplina de Economia Social da FESPSP, teve a participação de alunos da instituição em todas as fases. Entre abril e junho de 1934, foram levantados dados sobre 221 famílias operárias em 39 bairros da capital.

O objetivo era determinar o consumo dessas famílias no período de um mês, em particular no item alimentação. “Outros objetivos foram obter dados de referência sobre o estudo das condições e do custo de vida no país e formar pesquisadores capazes de dominar e desenvolver, praticamente, metodologia para o tratamento científico de temas dessa natureza, em especial por meio da interpretação das estatísticas sociais”, diz Del Vecchio.

A metodologia utilizada era a técnica da caderneta. Os pesquisadores auxiliavam no preenchimento dos itens de alimentação e vestuário na residência. Depois, durante um mês, o morador se responsabilizava por anotar os gastos diários dos itens mencionados. Ao final do período, a caderneta era recolhida.

“Foram ainda usados questionários para obter dados como nacionalidade do chefe da família, endereço domiciliar, condições de moradia, composição da família e dos salários, locais de compras e despesas mensais totais”, explica o organizador da edição.

Referência para salário – O estudo dirigido por Lowrie, professor de Sociologia da Fundação e técnico em pesquisas sociais da Divisão de Documentação Histórica e Social do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo no período do trabalho, envolveu servidores municipais que eram, em sua maioria, alunos da Escola.

Os estudantes foram treinados para estabelecer contato com os pesquisados para obter confiança na realização do seu objetivo. O levantamento compreendeu três períodos mensais de observação, um em 1936 e dois em 1937. Foram observadas 465 cadernetas, mas 37, por problemas na apuração de dados, não foram utilizadas.

Para Del Vecchio, o que une as duas pesquisas é a proposta de fornecer informações para auxiliar no planejamento de políticas salariais. “A Prefeitura paulistana pretendia sugerir aos particulares o estabelecimento de um salário mínimo, investigar o custo de vida de pessoas de baixo salário, estabelecer e manter índices que refletissem as variações desse custo e cooperar com as autoridades federais quando solicitado”, esclarece.

De acordo com o professor, a publicação recém-lançada é fundamental para a institucionalização da Sociologia no Brasil, “na qual surgem em posição de relevo as pesquisas sobre padrão de vida dos trabalhadores”. Além de Del Vecchio, o Conselho Superior da FESPSP conta com outros ex-professores da Unesp, como o exreitor Jorge Nagle e José Ênio Casalechi, além de Claudio França, atual assessor da Pró-reitoria de Pós-graduação (Propg).

Oscar D’Ambrosio

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