sábado, 3 de outubro de 2009

Pesquisa Espelho


ADAGA – Está relacionada ao signo de escorpião (23/10 a 21/11). A adaga é entregue ao cigano quando ele sai da adolescência e ingressa na vida adulta. Por isso, é associada também à morte, ou seja, às mudanças necessárias que a vida nos oferece para crescermos. A pessoa sob esta influência tem um temperamento forte e enigmático, torna-se irresistível e respeitada. Possui uma mente analítica, percebendo tudo o que está ao seu redor. Procura sempre aprofundar-se no que está à sua volta, seja no amor ou no trabalho. Ama de maneira sensual e arrebatadora.


O espelho pode assumir diversos significados simbólicos, mas quase estão ligados à verdade, à sinceridade e à pureza. Segundo os dicionários de símbolos, os espelhos podem ser encarados como instrumentos de autocontemplação e reflexão do universo. Ligados ao mito de Narciso, jovem que vê a si mesmo, podem representar a consciência humana, simbolizando o pensamento em si mesmo. Não obstante a este significado está a associação vocabular, feita com palavras de linguagem dualista, originadas de uma mesma raiz ou essência, tal como palavras que vem de speculus, que significa espelho, que, por sua vez, deriva em especular, que também significa observar, analisar, refletir, etc.
Muitas vezes, o objeto especular tem sentido ambíguo, pois simboliza a verdade, que supostamente mostra, ou, a mentira, por gerar enganos e imagens deturpadas. Os espelhos também podem ser emblemas de pureza e sinceridade, ao se apresentarem límpidos, ao mesmo tempo em que trazem significados pejorativos, tal como a vaidade, um dos sete pecados mortais.
Portanto, o espelho está presente na atual vida cotidiana, seja na simples representação física do objeto, ou, nos símbolos que traz de referências passadas. É o espelho quebrado que dá sete anos de azar. É o espelho que leva Alice para um de seus mundos mágicos. È ao espelho que a madrasta má faz suas perguntas. Forte é sua presença, mais intensa ainda é sua simbologia.


Do rico reservatório de símbolos que são usados para expressar a mística das várias religiões do mundo, nós selecionamos aqui o símbolo do espelho, pois, melhor que qualquer outro, ele e adequado para expressar a essência da mística, e ao mesmo tempo seu caráter essencialmente gnóstico ou sapiente. O espelho é o símbolo mais imediato da contemplação espiritual, e mesmo do conhecimento ('gnosis') em geral, porque ele retrata a união de sujeito e objeto.
Ao mesmo tempo este exemplo serve para demonstrar como os vários significados de um símbolo, que se referem a muitos níveis diferentes da realidade e que podem parecer por vezes contraditórios, são internamente coerentes, e estão harmoniosamente, contidos no significado total da imagem, que é puramente espiritual em si mesmo.

A multiplicidade de significados é inerente à própria essência de um símbolo; e daí advém sua vantagem sobre as definições racionais. Pois, enquanto a última organiza um conceito a partir de suas conexões racionais - assim fixando-o em um dado nível - o símbolo, sem perder nada de sua precisão ou claridade, permanece "aberto ao superior"(1) . Ele é acima de tudo uma "chave" de realidades supra-racionais.


Ao invés de "realidades supra-racionais" nós poderíamos falar igual, mente de "verdades supra-racionais", e enfatizamos este ponto, pois tem-se o costume de explicar o sirabolismo em termos puramente psicológicos. Não que uma interpretação psicológica seja necessariamente errada era todos os casos, pois ela pode ser uma possibilidade. 0 que é absolutamente falso e a visão que a origem do símbolo deve ser encontrada no assim chamado "inconsciente coletivo", em outros termos, em um substrato caótico da alma humana. O conteúdo de um símbolo não e irracional, mas supra-racional, ou seja, puramente espiritual. Esta não e nenhuma tese no va, mas pertence à ciência do simbolismo que está presente em toda tradição espiritual
genuína.

Aqui nossa abordagem e puramente principiai : o simbolismo do espelho é tão luminoso porque, em certo sentido, o espelho e o símbolo do símbolo. O simbolismo pode em verdade ser melhor descrito como reflexo de idéias ou protótipos que não podem ser plenamente expressos em termos puramente conceituais. É neste sentido que São Paulo diz: "Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face à
face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido." (I Cor. ,13, 12)

O que é o espelho no qual o símbolo aparece como a imagem de um protótipo eterno? Primeiro é a imaginação, se estivermos pensando na natureza visual ou "plástica" do símbolo em contraste com os conceitos abstratos. Mas em um sentido mais amplo, é a mente que, como faculdade de discriminação e conhecimento, reflete o Intelecto puro. Em uma abordagem ainda mais ampla, o Intelecto é ele mesmo o espelho do divino Ser.
Plotino diz do Intelecto ('Nous') que ele contempla o Um infinito, e dessa contemplação, que não pode jamais exaurir seu objeto, procede o mundo como uma imagem sempre imperfeita que pode ser comparada à uma reflexão continuamente interrompida.

Ainda uma outra característica da reflexão é que, dependendo da forma ou posição do espelho, o objeto aparece mais ou menos claramente. Isso também pode ser aplicado à reflexão espiritual, e foi neste
sentido que os mestres sufis disseram que Deus revela a Si mesmo ao Seu servo de acordo com a prontidão ou capacidade de seu coração; Ele toma, por assim dizer, a forma do coração do Seu servo, assim como a água
toma a cor do copo que a contém.

Nessa correlação, o espelho do coração é comparado à lua, que, dependendo de sua posição no espaço, reflete de modo mais ou menos perfeito a luz do sol. A lua e a alma ('nafs'), que e iluminada pelo puro Espírito ('rûh'), mas, estando ainda atrelada ao tempo, sua receptividade tem de sofrer mudanças ('talwîn'). O
processo de reflexão é talvez a imagem mais perfeita do "processo" de conhecer, que não se limita ao nível racional. 0 espelho é o que ele reflete, na medida em que o reflete. Enquanto o coração - i.e, o Intelecto cognitivo - reflete a multiplicidade do mundo, ele é o mundo, estando de acordo com o modo do mundo,
especificamente com a cisão entre objeto e sujeito, entre exterior e interior. No entanto, à medida que o espelho do coração reflete o Ser divino, ele é precisamente o Ser, estando de acordo com o modo indiviso do puro Ser.
Nesse mesmo sentido o Apóstolo Paulo disse: "E nós todos que, com a face descoberta, refletimos como num espelho a Glória do Senhor, somos transformados nessa mesma imagem..." (II Cor.,3.18)
Gostaríamos agora de considerar o símbolo do espelho a partir de um outro ângulo. Rasar. al-Basrî, um dos primeiros místicos do Islã, compara o mundo em sua relação com Deus à imagem refletida do sol que é produzida pela superfície lisa da água. Tudo que nós podemos conhecer da imagem refletida provém do objeto
original mas este e completamente independente de seu reflexo, e está infinitamente acima e além dele.

Para procurarmos entender essa comparação a partir da "unicidade da existência" ('vahdat al-wujud') - o conceito fundamental do mistiscismo islâmico - é preciso saber que a luz simboliza o Ser e conseqüente
mente a escuridão simboliza o nada; visibilidade é existência e invisibilidade é ausência. Somente o que está refletido no espelho é visível. A presença do espelho só é revelada pela natureza do reflexo e pela sua pura possibilidade. Em si mesmo, na ausência de luz, o espelho é invisível, e isso significa, em concordância com o
significado da comparação, que em si mesmo ele não existe.

Disso para a doutrina hindu de maya é apenas um passo; maya, o poder divino em virtude do qual o Infinito manifesta a si mesmo no finito, cobrindo-se com o véu da ilusão. A ilusão consiste no fato da manifestação (i.e, reflexo) aparecer como algo existente fora da Unicidade Infinita, É maya que dá nascimento a
isso; e maya, à parte os reflexos que vêm sobre ela, é pura possibilidade ou função do Infinito. Se o universo como um todo e o espelho de Deus, o homem, também o é na sua natureza original, pois contém qualitativamente o universo inteiro, o espelho do Um. Nesse sentido, Mahyi'd-Dîn ibn'Arabi (sec.XIII) escreve: "Por causa de suas inumeráveis perfeições, Deus quis contemplar Sua própria essência em um objeto que
abrangesse toda a realidade, para assim manifestar Seu próprio mistério a Si mesmo...Pois o conhecimento que um ser tem dele próprio, em si mesmo, não e igual a conhecer-se através de outro, que lhe serve como espelho.
Tal espelho mostra a ele mesmo na forma que corresponde ao 'plano de reflexão' no qual pousa seu olhar, uma forma que não existiria sem esse 'plano de reflexão' e o reflexo que dele resulta..."0 que o Ibn'Arabi tinha em mente e, por um lado, o "puro receptáculo" da 'matéria prima' ('al-gabil') e, por outro lado, Adão; 'matéria
prima' no sentido do espelho que ainda e escuro e no qual a luz não brilhou, enquanto que o Adão e "o verdadeiro brilho desse espelho e o espírito dessa forma" (Pusus al-Hikam, capítulo sobre Adão).

O homem é assim o espelho de Deus. A partir de um ponto de vista mais esotérico, Deus é o espelho do homem. A esse respeito, Ibn'Arabi escreve no mesmo trabalho: "O homem, para o qual a Essência de Deus se oferece ao conhecimento, não vê a Deus; ele apenas vê sua própria forma no espelho de Deus. Não é
possível que ele veja a Deus mesmo, apesar dele poder saber que só pode observar sua própria forma n'Ele. Esse processo se dá à maneira de alguém olhando em um espelho, vós olhais não o espelho em si, mesmo que saibas que só podeis olhar vossa própria forma por causa do espelho. Deus mesmo proporcionou esse fenômeno como o melhor símbolo de Sua Auto-revelação, para que quem quer que receba tal revelação saiba
que não pode ver Deus... Tentai por vós próprios, quando olhardes o reflexo em um espelho, e não poderás ver o espelho em si; vós nunca o verás. Tanto isso é verdade que algumas pessoas, observando essa lei da reflexão em espelhos [físicos e espirituais] , têm afirmado que a forma refletida se interpõe entre o espelho e o
observador. E claro que tal não ocorre; na realidade e como acabamos de dizer [ou seja, que a forma refletida não se coloca entre nós e o espelho, não o esconde de nós; na verdade é apenas graças ao espelho que nos podemos ver a forma nele refletida),.. Se vos apreendes isto [que a criatura em contemplação nunca vê a
Essência mesma, mas apenas sua própria forma no espelho da Essência , apreendestes o limite extremo que a criatura pode alcançar; portanto não aspires por menos e não canses vossa alma buscando ultrapassar esse grau de modo 'objetivo') , pois em princípio e de fato não há nada além, senão a pura nao-existência a Essência
mesma sendo não-manifestada)". (Fusus al-Hikam, capitulo sobre Seth).

Na mesma linha, Meister Eckhart escreve: "A alma contempla a si mesma no espelho da Divindade. Deus Ele mesmo é o espelho, o qual Ele oculta de quem Ele quiser, e descobre para quem Ele quiser. Quanto mais a alma é capaz de transcender todas as palavras, mais ela se aproxima do espelho. Nesse espelho a união
ocorre como pura e indivisa similitude.

O Sufi Suhrawardi de Aleppo (sóc.XIII) escreve que o homem no caminho para o Si primeiro descobre que o mundo inteiro está contido dentro dele, o sujeito cognitivo; ele vê a si mesmo como o espelho no qual todos os protótipos aparecera como formas efêmeras. Então ele torna-se consciente de que ele mesmo não tem existência; seu "Eu" desaparece como sujeito, e apenas Deus permanece como Sujeito de todo conhecimento.
Muhyi'd-Din ibn'Arabi escreve adiante : "Deus e o espelho no qual olhais a vós mesmos» e vós sois o espelho d'Ele no qual Ele contempla Seus Nomes. Estes no entanto são Ele, e e meramente uma questão de inverter a analogia das relações.(Fusus al-Hikam, capitulo sobre Seth).

Seja Deus o espelho do homem ou seja o homem espelho de Deus, em ambos os casos o espelho significa o sujeito cogniscente, que como tal não pode também ser o objeto do conhecimento. Isso só e verdade de modo absoluto quanto ao Sujeito Divino, a "Testemunha" ('Shahid') de todas as criaturas manifestadas; esse e
o espelho infinito cuja "substância" não pode ser apreendida de modo algum, mas no entanto pode ser dada a conhecer num certo sentido, porque e possível ter-se o conhecimento de que apenas nela todas as criaturas podem ser conhecidas.
Isso lança luz nas palavras, de outro modo obscuras, que Dante põe na boca de Adão. Referindo-se aos anseios de Dante, Adão fala:

"Perch'io la veggio nel verace speglio
Che fa di sè pareglio all'altre cose,
E nulla face lui di sè pareglio."

(Eu a vejo no espelho verdadeiro
Que se torna o refletor de todas as coisas,
E do qual nada pode tornar-se refletor.)

Paradise, XXVI, 106
Farid ad-Din'Attar diz:

"Venham, partículas errantes, voltem ao seu centro, e
tornem-se o espelho eterno que vós vistes..."

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