domingo, 22 de novembro de 2009

Dança

A simbologia da dança está associada aos significados atribuídos aos corpos celestes: o Sol, a Lua e os movimentos das estrelas.

As danças são formas expressivas de manifestar vivências e situações de indivíduos, de grupos, de coletividades. Têm, fundamentalmente, correlações com festas, ciclos, festivais agrários, devoções religiosas, compondo ainda diferentes rituais reveladores de poder, sexualidade, papéis sociais de homens, mulheres, crianças, jovens e velhos, entre outros.

Sem dúvida, há um sentido de socialização no ato de dançar. Há um desejo manifesto de dar a cada gesto um significado, que traduz expressões de personagens. No âmbito religioso, no caso específico das tradições afro-brasileiras, há uma fusão de linguagens (roupas, acessórios) com o teatro. As danças executadas publicamente nos terreiros de candomblé, xangô, mina, batuque narram enredos, histórias, acontecimentos míticos, relatos sagrados, quase sempre impregnados de moral, de ética, de hierarquia e também de fé religiosa.
Dançar perante um altar, dançar para comemorar um casamento ou mesmo em um ritual fúnebre significa expressar identidades, revelar sistemas e relações que incluem poder, economia, estética além de conhecimentos sobre o corpo e principalmente sobre o espírito. Pois, dançar é o pleno encontro entre o corpo e o espírito.
A dança é a mãe das artes. A música e a poesia existem em um tempo; a pintura e a escultura num espaço. Mas a dança vive no tempo e no espaço. O criador e a criação, o artista e sua obra, seguem sendo uma única coisa. Os desenhos rítmicos do movimento, o sentido plástico do espaço, a representação animada de um mundo visto e imaginado têm criação no homem, no seu corpo por meio da dança. A dança é uma experiência anterior ao uso da pedra, da palavra para manifestar suas experiências interiores2.

GESTOS URBANOS


Viver nas cidades é participar cotidianamente de inúmeras coreografias de um verdadeiro balé urbano. Sob chuva intensa, o cidadão dá longos saltos para escapar de poças de água, empunhando qual dançarino de frevo o guarda-chuva mais o equilibra do que protege. Embarca-se em ônibus, trem ou metrô, abandona a coreografia individual para integrar uma dança sincronizada, da qual participam todos os passageiros, embalados por chegadas e partidas, pendendo ora para a direita, ora para a esquerda. Ao desembarcar, vira novamente agitado pedestre, como muitos outros, que caminha rápido e com agilidade para se desviar dos obstáculos urbanos – camelôs, barracas, bancas de jornal e de frutas, postes, latas de lixo. Depois de ficar em compasso de espera na calçada atento à luz do semáforo, a luz verde libera uma avalanche de pedestres que cruza avenidas e volta para as coreografias das calçadas.

Todas as danças urbanas – executadas em filas de bancos, feiras, parques e em estádios de futebol – o homem urbano dança coreografia afirmadora de identidades neotribais, recuperando imemorialmente elos de ancestralidades e de memórias remotas, próprias do homem.
Assim, recorrendo aos repertórios do cotidiano e à cultura do ver e do entender o corpo, foi criada a base das coreografias tradicionais e conseqüentemente das danças tradicionais: a dança de salão das gafieiras, os ritmos afrodescendentes como o maxixe e o samba, as coreografias milenares dos nossos indígenas. São formas de manifestação da dança brasileira popular e tradicional, ensinada e aprendida nas festas, no teatro popular, nos salões, nas casas, nas ruas por todos os brasileiros.

DANÇA, BRASIL

Uma das manifestações mais características da música popular brasileira são as nossas danças dramáticas. Nisso o povo brasileiro evolucionou bem sobre as raças que os originaram e as outras formações nacionais da América. Possuímos um grupo numeroso de bailados, todos eles providos de entrecho dramático, textos, músicas e danças próprias (...) o povo brasileiro é formado de três correntes: português, africano e ameríndio, sempre é comovente verificar que apenas essas três bases étnicas o povo celebra secularmente em suas danças dramáticas3.

A sociedade brasileira funda-se, nostalgicamente, em mitos de cor e raça. Funda-se também numa sociedade multiétnica, um verdadeiro paraíso de mestiços. Esses mitos criam a linguagem da mistura, da indistinção no ideal de branqueamento e organizam o discurso da sociedade com um todo, tocando indivíduos de todas as classes e cores.

Assim, destaca-se a importância das etnias, das culturas, das organizações sociais para se entender o corpo enquanto um meio de expressão e de comunicação. Famosas são as sambistas, solistas, cabrochas das escolas de samba, que se destacam no pleno domínio do corpo no tempo da festa do Carnaval. É a forma liberta do corpo que celebra publicamente o reinado de Momo.

Situação bastante diferente é a do devoto que dança para São Gonçalo no pagamento de uma promessa. Neste caso o corpo celebra o sagrado e deve executar rigorosamente passos, gestos e atitudes corporais pré-estabelecidas no costume do grupo, em cerimonial, para cumprir um ato religioso diante do altar do santo.

Critérios de classificação das danças

As nossas danças podem ser interpretadas segundo modelos etnoculturais, ciclos festivos, formações coreográficas e contextos espacial.

Tendo em vista os modelos etnoculturais, apresentamos dois grandes grupos:

Quadrilha – Reunião de danças tradicionais da Europa, especialmente da França nos séculos XVIII e XIX, que deram origem no Brasil a um repertório de danças difundidas nacionalmente, com dinâmica própria. Assim, além das quadrilhas tradicionalmente dançadas no Ciclo Junino, temos, entre outras, o forró quadrilha, a quadrilha lambada, axé quadrilha, tecno quadrilha, todas manifestações que incluíram outros ritmos e coreografias contemporâneas.

Coco – Conjunto de danças com variações que incluem marcação de pé e sistemas de comportamento fortemente indígenas, agregando ritmos afrodescendentes e umbigada, semba, além do samba tradicional. Há o coco solto, coco de roda, coco de fileira, coco de umbigada, coco praieiro, coco de parelha, entre outros.

Considerando modelos que seguem os ciclos festivos, destacam-se:

Ciclo carnavalesco – Uma das danças características desse ciclo é o passo, o conjunto coreográfico do frevo. Coreografias coletivas são executadas nos cabocolinhos, maracatu, afoxé, samba enredo, axé music.

Ciclo junino – É a ocasião em que são executadas as danças e variações do boi, bumbá, bumba-meu-boi, carimbó, cordões de pássaros, quadrilha e variações, jongo, coco.

Ciclo natalino – São executas as danças que se associam fortemente ao teatro, caso do pastoril, boi, ternos pastoris, baile pastoril, guerreiro, reisado.

Enquanto modelos que seguem formações coreográficas, tem-se:

Círculo – samba-de-roda; coco-de-roda.

Fileira – dança de São Gonçalo, moçambique, cateretê.

De par – maculelê, capoeira, maxixe chimarrita.

Solo – Samba enredo, coco, jongo.

CIRANDAS

“Oh! Cirandeiro
Cirandeiro, oh!
A pedra do seu anel
Brilha mais do que o sol.”4

As danças de roda, de formação circular, são tão antigas quanto o próprio homem e manifestam, simbolicamente, o movimento da rotação da terra, com início e fim integrados na eterna repetição. Traduzem união, coesão, estabelecendo entre forte sentimento de irmandade, reforçando laços de parentesco, amizade, socialização, reiterando valores de pertencimento a um grupo, a uma cultura.

A ciranda de Pernambuco, por exemplo, reúne adultos e crianças, sem estabelecimento de qualquer hierarquia que separe ou identifique o participante da roda. De mãos dadas, todos formam um único e uníssono grupo. O círculo vai se ampliando com a chegada de um novo membro que se integra em qualquer lugar da roda. Os passos são muito simples e marcados. A ciranda vai girando, girando, criando um momento de profunda solidariedade. Geralmente as coreografias combinam formações – em círculo, em par, fileira e solo – que se alternam.

As cirandas são executadas na casa ou na rua. Em função do tipo de espaço, são definidos muitos aspectos coreográficos, número de componentes, músicos, acessórios, alegorias, indumentárias e interação com o público espectador. Nas ruas, dançam-se os maracatus, afoxés, escolas de samba, blocos, cortejos, como os das congadas e variações, o trio-elétrico e o axé music. Nas casas dançam-se o coco de roda, coco de parelha, baile pastoril, samba-de-roda, entre muitas outras manifestações.


Dançar é a arte de movimentar o corpo harmoniosamente em uma seqüência ritmada, ou seja, é a forma como o corpo se move segundo uma composição coreográfica, num determinado tempo e espaço, expressando os mais nobres sentimentos contidos em um segmento musical.

A dança, quando voltada para a terapia, tem o poder de libertar antigas amarras e bloqueios que dificultam a interação do ser humano ao meio em que vive. A Biodança ou a Biodança Elemental, por exemplo, são terapias que auxiliam no bem estar e no autoconhecimento do ser.

As danças sagradas também nos proporcionam um aprendizado maior e mais profundo, possibilitando a nossa conexão com as divindades, através da sua simbologia ancestral e envolvente. Além de nos proporcionar mais saúde e bem estar.

Leia um pouco mais sobre símbolos na dança, no artigo a seguir. Bênçãos plenas!

A Cruz e a Roda

O símbolo da cruz e da roda representa o trajeto solar ao longo do ano, dividido em quatro partes, que atuam no espaço e no tempo sobre a lei divina do destino da vida. Nas cruzes irlandesas do início da era cristã, o símbolo da cruz solar se liga ao símbolo da árvore do mundo, através da qual fluem os fluxos de luz e vida. De acordo com mitos e lendas, a árvore do mundo encontra-se no centro da terra. Em seus galhos o sol, a lua e todas as estrelas crescem como frutas. Os feixes dos corpos de luz, que sobem e descem nos ramos, se entrelaçam formando o caminho visível da vida, em cujo segredo o herói precisa penetrar.

Nestas antigas representações da cruz, os sinais simbólicos se assemelham mais a uma dança da criação: o ser cósmico flutua de braços abertos como uma figura iluminada solta no centro da roda solar. A árvore no centro da terra é o cosmograma para as forças que ascendem e descem da árvore, que tiram seu caminho da atemporalidade, fluindo para a dimensão do tempo, do céu para a terra, essas forças crescem na forma ascendente, no caminho que vai das raízes das profundidades até a coroa, entrando na dimensão da eternidade.

Nas tradições religiosas, o tronco dessa árvore também é a imagem da escada para o céu e o caminho do conhecimento. A horizontal do espaço é caracterizada pelos ramos ou braços que saem da metade da árvore. Em representações da idade média, Deus encontra-se crucificado nos membros na árvore do mundo, na forma de cruz, e através da figura de um homem. Ele está entre o sol, figura da imortalidade, à sua direita, e a lua símbolo da luz, à sua esquerda, que precisa se transformar uma vez na serpente domada das profundidades e na pomba espiritual das alturas.



O Deus que morre periodicamente no decorrer do ano e que ressuscita na eternidade no eixo do mundo é ele próprio o centro, onde todas as antíteses se encontram e se recolhem. É o ponto de reunião das diferentes formas de manifestação, que surgiu pela extensão do ponto de origem. Em antigos mitos históricos da Deusa, não é a figura de Deus que está na árvore, mas a serpente, símbolo sagrado da própria Deusa, o mistério da transformação.
Na dança dos símbolos, ambiciona-se esta unidade dos sentidos, para experenciar os Deuses pela visão interior. Assim como nos exercícios da ioga, a força da serpente está implícita no movimento da espiral ascendente e descendente, na árvore da coluna vertebral. Os cinco pontos onde a serpente está presa à figura simbólica da árvore são indicados na própria dança. A imagem nos leva aos cinco sentidos, que são o nosso destino e que nos "crucificam" no tempo e no espaço. Por meio da dança ocorre a libertação dessa fixação, pela representação das formas simbólicas na cruz axial e pela dedicação às leis divinas.



No ritual dançante da dança mais prolongada, hassapicos, o eixo do corpo pende até que o equilíbrio seja encontrado na cruz. Neste caso, se dança a imagem mística da restauração da árvore da vida, que sobreviveu à tradição popular da árvore de maio, no caso do hemisfério sul seria outubro, e é feita a dança em volta do tronco enfeitado de fitas. Hassapicos mostra o dançarino com a cabeça levemente inclinada como na cruz, as pernas baixas ilustram a viga transversal da cruz, que está na posição diagonal para baixo, símbolo da extremidade da cauda da serpente, que se enrola na árvore do conhecimento, tornando-se uma metáfora para o trajeto em ziz-zag da vida.
(Fonte: Dança Símbolos em Movimento de Maria-Gabriele Wosien)

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