quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Por Leticia Coura


Depoimento da Leticia sobre a Mostra do dia 13 novembro!!!

tyaso amado

voltando de uma noite inspirada e inspiradora, anivesário da Cathérine no teatro e apresentação das experimentações do bailado do deus morto pelo Bixigão, a crítica da Mariângela, o artigo do Zé inspirado pela entrevista do Caetano, alegria de estar no Brasil, país dos presentes. noite quente, sexta-feira 13, primavera horário de verão.

Acredito nesse deus que sabe sambar, e é por isso que acredito que precisamos e queremos mais e mais nos juntar, deixar pra lá as direções musicais, de vídeo, de arte, e entrar nos coros, nos extácios, nas bacanais. enfrentar com persistência e felicidade guerreira os labirintos das burrocracias, dos requerimentos, certidões, declarações, memorandos, projetos, roteiros, roteiros, projetos...

Vamos aproveitar a onda? Vamos fazer a nossa insurreição? Vamos reivindicar nossos 15 milhões pros coros, pra nossa ópera de carnaval, pra oficialização das macacas das divas do samba e do teatro musicado, pra nossa bateria, pro nosso tyaso dourado?


Estamos todos ali porque gostamos de festa, de gente, de samba, de rito. E se conseguimos falar ao bairro, falamos pro mundo inteiro. Hoje o Bixigão foi a vanguarda do que ambicionamos de mais ousado. Falar à vizinha pomba-gira, ao velho que não sai da tv, às crianças do quarteirão e ao povo andando na rua e que pára pra ver, mostrando com arte trabalhada no dia a dia sua evolução nos corpos, vozes, seus estudos apaixonados de Nietzsche, Noel Rosa, Artaud, Maysa, Flávio de Carvalho, MCs, Luiz Gonzaga, Oswald de Andrade, suas buscas na internet e suas alegrias, ânsias, dúvidas, suas lutas diárias por trabalho, dinheiro, tempo.


Cada um de nós tem o que gritar, eu tenho, a morte do Santiago, a unificação das Coréias, as dívidas, o fim do Taleban, a filha do Narcélio porteiro, o suicídio do meu irmão, os dormidores das ruas no caminho até em casa, o meu amor, os doentes saindo e chegando no hospital, as olimpíadas, os traficantes da minha rua, os catadores de lixo que fazem sua triagem no terreno ao lado, os bares cheios da sexta-feira, o efeito estufa, a mini-saia da Uniban...


Tudo bem, a ópera para o povo, salários pra nossos artistas, cantores, orquestras, maestros, levar Rossinis, Puccinis, Verdis, Mahlers e Wagners a todo recanto brasileiro. E por que não também Assis Valentes, Pixinguinhas, Jacksons, Edgares Ferreiras, Noéis, Cartolas, Carmens, Isaurinhas, Aracys, e mais tudo que se inventa hoje pelo Brasil, e nós, nós, com a nossa poesia viva de cada dia, nosso teatro, circo, dança, música, nossa mistura disso tudo, os eus pretos, vermelhos, brancos, amarelos, de todas as religiões e nenhuma, e um templo enorme, aberto pros céus e pras terras, o teatro de estádio, extádio.


Nós já temos essa força. Já vemos resultados do que podemos fazer juntos e separados, criar, construir. Até nossas festas têm sido ótimas. Vamos levar isso a sério com muito humor e amor? Encarar que podemos fazer tudo isso, reivindicar possibilidades de estrutura e continuidade, com toda disposição e alegria, para além de mendigar patrocínios, ou inventar a cada mês como vamos pagar as contas, ou o que teremos que fazer além de teatro, música, vídeo e etcs, pra sobreviver?


O mundo precisa da nossa alegria, da nossa curiosidade, da nossa amabilidade e simpatia. Ele se reconhece em nós, já transformado, e todos querendo e precisando sambar ! !

E o Brasil é nosso espelho, é aqui que vamos sentir e criar, pegar e dar de volta, comer, trocar, virar uma coisa só, que não pára, que vai e vem e se transforma, e vira essa cultura única da mistura. Mixtura.


Não sou a melhor pessoa pra escrever manifestos, abaixo-assinados, ou saber em que porta bater primeiro. mas estou escrevendo aqui pra por mais lenha numa fogueira que vem queimando sempre. vamo nessa???? De arautos oficializados pela Folha de S.Paulo a criadores, reivindicantes coroados e animados ?? Quem não chora não mama.


Pela companhia estável instável da ópera de carnaval brazyleira – de candomblé, antropófaga, cabocla, sambista, vertical e horizontal

Pelo cordão bixigão dourado dos bois e vacas de carnaval

Por tardes e noites de samba, rock, groove, jams, house, electro, pop, e quantos nomes houver, baladas e forrós for all

Pelos discos, pendrives, webrádios, música ao vivo pra baixar de graça

Pela ágora cheia de gente do bairro e do mundo, as crianças

Pelas peças com suas pausas imensas com causas e sem, mas sempre com aquecimento antes

Pelos preparadores de corpo, voz, alma, espírito, remunerados

Pelas oficinas de objetos, pelo aproveitamento do lixo, pela limpeza das ruas

Pelo centro de criação e troca com o mundo

Pra viajar pra dentro e fora, levar e trazer gente, dionisíacas do mundo todo


E continuem a lista !......




todo amor humor



! ! M E R D A ! !





Letícia Coura

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