domingo, 15 de novembro de 2009
A introduçao do incenso no culto cristão
A introduçao do incenso no culto cristão - Dom Mauro Fragoso, OSB
Introdução
O uso do incenso precede de uns 15 séculos a era do cristianismo. Desde então, ele era empregado quer nas casas, quer nos templos, como instrumento de higiene, terapia ou profilaxia, com a finalidade de desinfetar o ar do ambiente a fim de assegurar melhor condição sanitária àqueles que o freqüentassem; em contrapartida, olhando por um prisma de espiritualidade, esta resina aromática era empregada tendo em vista afastar os maus fluidos.
Ao que tudo indica, parece ter sido utilizado inicialmente pelos egípcios que o consideravam como o suor divino derramado sobre a terra. Por isso mesmo não demorou muito para ser introduzido na esfera do sagrado, passando assim a simbolizar para diversos povos, mesmo ainda antes da era cristã, a oração que sobe ao encontro do Absoluto. Gradativamente o uso do incenso foi sendo introduzido e se estabelecendo como parte integrante no ritual das diferentes religiões dos variados povos. Tudo indica, os funerais se constituíram na porta de entrada desta substância para os mais variados cultos dos vários credos. Na celebração das exéquias o seu uso deixa transparecer seu valor espiritual enquanto exalta a transcendência da criatura. Vendo as volutas da fumaça que ascendiam aos céus, os antigos já imaginavam certa transcendentalidade do homem: era a subida do mortal ao encontro do Imortal. O móvel através do Imóvel. O corruptível ao encontro do Incorruptível. Além do sentido espiritual que o incenso dava aos funerais, um outro, tanto quanto ou até mais importante que este e que estava intrinsecamente ligado a ele, era a praticidade. No plano material, esta resina aromática era empregada em primeira instância com a finalidade de isentar o ambiente do mau cheiro exalado do cadáver. O que além de sua função primária não descarta a intenção de resguardar a imagem do defunto isenta da corrupção corporal.
Fundamentação histórica
Era costume corrente entre os antigos gregos e romanos queimar incenso nas cerimônias com a finalidade de homenagear os convidados e nos templos, diante dos ídolos para igualmente prestar homenagens e adoração. Os romanos imbuídos pelo sentimento do sagrado e político, tinham o costume de incensar o imperador acreditando ser ele uma divindade. Já os gregos tinham o costume de incensar a vítima para ser mais agradável ao deus a que a ofereciam. Os egípcios se valiam deste perfume dos deuses nos rituais do templo para fazer chegar a deus os desejos dos homens.
Fundamentação Bíblica
É sabido que as Sagradas Escrituras foram sendo compiladas paulatinamente em diversos lugares e sob a influência de diferentes povos com suas respectivas culturas. Destarte, o incenso que, já vinha sendo empregado pelos vizinhos de Israel, acabou por se imiscuir na cultura judaica e consequentemente nas Sagradas Escrituras. Não obstante o incenso aparecer em outras passagens bíblicas, três delas merecem destaque por se configurarem diretamente com a espiritualidade do cristianismo, do relacionamento amoroso da criatura para com o Criador. Os hebreus que esperavam a vinda do Messias tiveram seus corações embotados e não o reconheceram na noite em que ele veio. Havia, no entanto, três homens que desejavam ardentemente encontrar o Messias. Movidos por tamanho ardor tudo deixaram para trás, exceto seus respectivos presentes com os quais haveriam de adorar a Divina Majestade. Ouro, incenso e mirra [1]. Pela fé ofereceram ouro ao rei, mirra ao homem e incenso ao Deus[2]. O segundo ponto bíblico que merece destaque no tocante a simbologia do incenso é o segundo versículo do salmo 140, quando o salmista confiante em Deus faz uma súplica para que sua oração seja ouvida empregando uma analogia entre oração e incenso. Por fim, o terceiro e último ponto. A oração dos santos que é transportada até Deus mediante a fumaça do incenso [3].
Desenvolvimento
O uso do incenso não foi aceito logo de imediato no culto cristão devido a sua íntima relação com as práticas do culto pagão. Somente a partir do século IV, à medida que o paganismo ia se extinguindo e o cristianismo se estabelecendo como religião oficial é que ele passaria a ser empregado na liturgia cristã.
Um segundo e talvez o mais determinante fator que contribuiu para a não utilização do incenso nos três primeiros séculos da era cristã foi a simplicidade da celebração da liturgia. Os primeiros cristãos, como viviam coagidos, não podiam celebrar seus Ofícios Litúrgicos com grande pompa e muito menos com grande afluência do povo. Destarte, não caberia o emprego do incenso uma vez que este era empregado como medida higiênica e honradez.
Dois casos ilustram bem essa fase de transição litúrgica do paganismo para o cristianismo. O primeiro deles se refere ao martírio de São Policarpo e o segundo a acusação de São Marcelino.
O relato do martírio de São Policarpo Bispo de Esmirna ocorrido em 155 conta-nos que seu o corpo ao ser consumido pelas chamas exalava um odor tão precioso que parecia estar queimando incenso [4]. O segundo caso é o do Papa São Marcelino, que conduziu a barca de Pedro entre 296 e 304. Aproveitando o ensejo do primeiro decreto da sangrenta perseguição aos cristãos, promovida pelos Imperadores Galério e Diocleciano em fevereiro de 303. Os donatistas não precisaram de muito esforço para encontrar logo uma forte acusação que incriminasse o sucessor de Pedro. Sabendo que todo e qualquer cidadão deveria queimar incenso diante dos deuses romanos e ser esta uma prática abominável aos olhos dos cristãos, e, por conseguinte queimar, ainda que fosse um único grão desta preciosa resina diante dos altares dos ídolos [5] poderia comprometer qualquer membro da nova religião, os hereges não hesitaram e escolheram nada menos que o Sumo Pontífice como vítima de ardilosa calúnia.
Na década de 380 a queima do incenso durante as celebrações cristãs já não era mais nenhuma novidade. Pelo contrário, já havia mesmo se tornado uma tradição, não faltando quem remeta sua introdução no cristianismo por influencia do imperador Constantino. Todavia, a primeira notícia oficial que temos a cerca do uso desta preciosa resina nas celebrações cristãs, se reporta ao ano de 795 quando de fato fora inserido pelo Papa Leão III como elemento integrante do culto cristão. O fato de não haver registros quer nos escritos dos Santos Padres referentes à liturgia, quer nos relatórios eclesiásticos favorecem a tese de que realmente o incenso não devia ser usado nos primórdios da cristandade.
Conclusão
Como ficou claro no texto a cima, a introdução do incenso na liturgia cristã se deu de maneira bastante ponderada. Todavia ainda que eles não o empregassem como instrumento de culto, não poderia se desvincular do seu valor sagrado. Ora, as Sagradas Escrituras, livro de cabeceira dos cristãos, transbordam incenso pelas suas páginas, além do mais, por todos os lados que os primeiros cristão iam se deparavam com esta famosa substância. Se os primeiros cristãos não a utilizaram de imediato, fora tão somente pela simplicidade de seus ritos e, sobretudo para evitar confusão. Eles não queriam ser confundidos com o restante da humanidade que dela se valiam com largueza. Não resta dúvida de que eles tinham consciência de seu valor simbólico-transcendental, haja vista quantas vezes a empregaram em seus relatos espirituais, como por exemplo na ata do martírio de São Policarpo e nos comentários bíblicos dos santos padres, principalmente sobre o nascimento do Menino Jesus.
(1) Mt 2, 11.
(2) Cf. Sermão de St. Agostinho na Epifania, PLS 1,297-298.
(3) Cf. Ap 8, 3s.
Além de acalmar e perfumar, ele é utilizado em muitas religiões para agradar os deuses.
Para várias culturas, o incenso é um elo com o sagrado. “A fumaça aponta para o mistério de Deus, ajuda a transcender”, diz Maria Ângela Vilhena, professora do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Como oferenda, possui duas funções: a de agradar e homenagear os deuses e a de fazer os pedidos chegarem mais rápido até eles.
Segundo o livro Incenso – Preparo, Uso e Significado Ritual (ed. Hemus), “povos primitivos estabeleciam contato com o divino através da fumaça oriunda da queima de ervas e madeiras aromáticas que se elevavam até os céus.”
A civilização egípcia foi a primeira a registrar seu emprego com a intenção de afugentar os maus espíritos e homenagear seus deuses.
Mais adiante, na Bíblia, o incenso aparece como um dos presentes levados pelos três reis magos a Jesus. “Assim como o ouro, os perfumes e os incensos eram ofertados por serem caros e preciosos”, afirma Maria Ângela Vilhena.
Para levar os pedidos aos deuses
É na Índia que o incenso ganha a força e o contorno que, anos depois, veio a ser comercializado no Brasil: uma mistura de ervas e resinas em forma de vareta.
“Diz-se que o incenso surgiu na Índia, onde continua a ser feito artesanalmente”, afirma Norie Imayuki, pesquisadora e fabricante desse artigo.
Nos rituais hare krishna, a religião que difundiu o uso dos incensos por aqui, ele permanece no altar e é oferecido a Krishna (ou Vishnu).
“É uma representação do elemento ar e ajuda a estabelecer um vínculo com o supremo”, diz Gadhadara Das, monge do Templo Hare Krishna São Paulo.
Símbolo do desapego e da purificação
No budismo tibetano, o incenso é o símbolo da generosidade e do desprendimento. É um dos elementos que representam os prazeres sensoriais – no caso, o olfato.
A proposta é oferecê-lo para as deidades. Pois, dessa forma, a pessoa exercita o desapego dos prazeres sensoriais que é entregue como presente e se vai com a fumaça.
O incenso também deixa o ambiente agradável, livre de energias negativas. É capaz de tornar ainda mais forte um ritual do qual participam várias pessoas. “Todos ficam na mesma vibração”, diz Meeta Ravindra, especialista em cultura indiana.
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