Pesquisa no Ponto de Cultura Movimento Bexigão
Introdução
A pesquisa no Movimento Bexigão, ponto de cultura que fica na Rua Maria José 140 no Bairro do Bexiga que se localiza dentro do subdistrito da Bela Vista, vem se desenvolvendo desde agosto de 2009.
Não me propus utilizar nenhum tipo de metodologia, apenas busquei maneiras de organizar as informações, idéias e questionamentos que me rondavam. E nestas encruzilhadas tenho aprofundado, principalmente, questões que não me são claras. Não sabia, por exemplo, o que de fato era um ponto de cultura. Percebi a necessidade de vestir-me de um olhar infante. Passei a compor mais meu bloq e a ler mais livros. Minha intuição me dizia que essas leituras esporádicas e as vivencias me ajudariam a compor esta pesquisa que por sinal, não seguirá uma ordem cronológica.
Movimento Bixigão
O movimento Bixigão nasceu em 2002, quando artistas da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona colocaram em prática o Manifesto Bixigão. Este documento propunha, entre outras coisas, que a verba destinada à construção de um shopping nos arredores do teatro fosse revertida para a criação de um centro popular de cultura que, acompanhando o processo de montagem de uma peça, fizesse cursos das artes que a obra exigisse.
Escolhemos OS SERTÕES de Euclides da Cunha - obra vingadora da nacionalidade brasileira - como enredo e iniciamos os trabalhos. As oficinas eram inicialmente de teatro e capoeira, e evoluíram para outras modalidades, como canto, circo, construção de instrumentos, fotografia em lata, até passarmos para a segunda fase do projeto.
Em 2006 iniciamos o projeto “Revista Bixiga Oficina do Samba” que patrocinado pela Petrobrás, pesquisou os sambas do Bixiga e além das oficinas gerou a gravação de um CD e uma turnê de shows, DVD e song book com venda popular.
Em 2008, o Movimento Bixigão ganhou o ponto de cultura com o patrocínio do governo federal, e alugou uma sede no bairro do Bixiga. Nesta nova sede iniciaram-se oficinas norteadas pelo texto “Cypriano e Chan-ta-lan” de Luiz Antônio Martinez Corrêa e Ana Lu Prestes para jovens que já integravam o movimento, além de abrir para outros que habitavam o bairro do Bixiga.
A peça “Cypriano e Chan-ta-lan” foi montada e dirigida por Marcelo Drummond e ficou em cartaz no Teatro Oficina de julho a setembro de 2008. O segundo semestre foi regido por um estudo da cena “A Entrevista” de Harold Pinter que resultou em uma apresentação no final do ano em uma semana cultural realizada na Casa do Bixigão.
O processo vivido ao longo das oficinas do Movimento Bixigão e experiências no Teatro Oficina, entre 2002 e 2007, possibilitou um amadurecimento destes jovens, que começaram a deixar de se ver como alunos, solidificando-se como um pequeno núcleo inclinado à pesquisas de assuntos relacionados ao Teatro Oficina, mas em busca de sua autonomia. Neste ano de 2009 iniciamos os estudos independentes. A partir da ação física do ator surge uma pesquisa dos vários metodologistas do teatro, essa pesquisa deu origem ao estudo do texto de Flávio de Carvalho “O Bailado do Deus Morto”, que tem como base a antropofagia, e a história de diversos povos primitivos e que compõe esse projeto.
Neste ano, iniciaram também uma parceria com o movimento Dulcynelândia, um movimento que nasceu no Rio de Janeiro, com o objetivo de reabrir o teatro Dulcyna para resgatar a história da atriz Dulcyna de Morais. Os artistas do movimento faziam ocupações culturais na rua, a fim de incentivar as pessoas do bairro e artistas locais a se relacionarem artisticamente. Nomearam essas ocupações culturais de “Chute”.
Com essa parceria trouxemos o “Chute” para o bairro do Bixiga, e temos o projeto juntamente com o Dulcynelandia – contemplado pelo edital de pequenos eventos - de iniciarmos uma pesquisa no bairro para descobrirmos quem são os moradores e como podemos nos relacionar e levarmos nossas pesquisas de maneira artística, despertando o interesse dessas pessoas.
http://movimentodulcynelandia.blogspot.com/
Tendo como ponto de partida a Cultura Afro e a Cultura Indígena - origem da cultura brasileira - além do repertório adquirido pelo grupo a partir da observação e pesquisa da cultura popular do Bairro do Bixiga (SP), o grupo elaborou procedimentos cênicos embasados no texto dramatúrgico “Bailado do Deus Morto” de Flávio de Carvalho e da visão religiosa e crenças de cada intérprete, propondo um diálogo com o religioso na tradição popular contemporânea.
Bailes populares e a religiosidade no Brasil são uma saída para se conhecer o Divino. A vida moderna, diante das promessas do avanço científico e tecnológico, propôs uma nova maneira de nos relacionarmos com a cultura, a religião e a ética. O homem passou a acreditar numa vida sem Deus. Acreditar em Deus como seu semelhante, mas sem a verdadeira espiritualidade da crença no divino.
Longe de cultuar uma nostalgia primordial, Flávio de Carvalho nos faz repensar a história do homem como conquistador e indagador, a luz da psicanálise de Freud e Jung e da filosofia de Nietzsche, dentre outros pensadores, defronta-nos com um outro homem que se relaciona de uma maneira diferente com os três sentimentos básicos de sua existência: A Fome, O Medo e O Sexo, ou seja, o “super-homem”. Como fazer essa ligação entre o homem morador do Bixiga e esse super homem, citado por Nietzsche?
Além das indagações sobre religião, cultura e ética, temos outros questionamentos que surgem com o estudo dos hábitos da população. Ainda hoje, italianos, negros e refugiados das guerras se agrupam em bairros como o Bixiga. A cultura de um bairro miscigenado como o Bixiga é muito rica. Onde se encontram essas diversas culturas que não renasceram?
Boa parte das produções teatrais do estado de São Paulo está desorientada e lhes faltam entendimento do espaço, das posses e das origens terrestres. A pretensão é resgatar artistas do bairro e de teatros fechados como o TBC, ou inclinados a uma elite.
http://movimentobixigao.blogspot.com
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