quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pronto

Primeira Pagina

“A gente se sente assim como se fosse um passarinho
dentro de uma gaiola. Você vê as nossas crianças falando nossa língua, eles cantam, o nossa pajé, ele tem o canto da religião, então, esse canto é pra nossa sobrevivência. Até o passarinho que tá dentro da gaiola, quando ele canta a gente não sabe se ele tá cantando, se tá chorando, se ele ta pedindo socorro, mas o dono desse passarinho ele fica contente quando esse passarinho se movimenta, ele não sabe se ele ta alegre ou não. O nosso som é de um apelo que eu faço, não é de alegria”. ²


AMARELA

“Amar é lo, amar é la, amarelo”...

“Amar ela em amarelo”...


- Ela gosta da cor amarela... Dá pra saber muito sobre uma pessoa quando se sabe a sua cor favorita. Ela nunca vai saber que foi eu quem deixou aquela flor sobre sua mesa. Foi encantadora a reação dela quando viu a flor. Ficou em silêncio... Olhava rostinho por rostinho tentando desvendar quem era, mas nada perguntou. Parecia que esperava alguém manifestar-se, mas ninguém se manifestou, era primavera, e a flor mais parecia uma decoração feita por ela mesma. No dia seguinte, cheguei mais sedo na escola, a primeira aula era dela. Deixei dessa vez uma poesia estampada na lousa, usei giz amarelo. E mais uma vez a reação dela foi encantadora... Dessa vez pude entender profundamente seu silêncio...



E tudo tornou-se magia

no pó de giz que aparecia

no apagar das palavras na lousa...



Copo d'agua

Da chuva que colhi

Praquela flor que você tanto gostou

Meu amor, dentro dela, desabrochou...

Calado, camuflado é o meu amor

Vou te da-la...



Bem me quer, Mal me quer,

Mal me quer, Bem me quer...



Aquela pétala que você arrancou

Que carrega a sua favorita cor

Foi com ela, parte, do meu amor

Calado, camuflado é o meu amor...



Bem me quer, Mal me quer,

Mal me quer, Bem me quer...
2


1 - Depoimento do Índio Guarani Alizio. A transcrição foi retirada do documentário

"Encantos Urbanos à Margem da Memória" acoplado no final do livro.


Segunda Pagina

- Alice, menina, você está prestando atenção na aula? Está acompanhando a leitura?
- Estou sim professora.
- Então continue você a ler agora.
O pensamento de Alice vagava longe das páginas do livro de história, já havia perdido o meado da leitura.
- Está vendo só, você nem sabe onde paramos!
- Me desculpe professora.
- Vamos, procure o terceiro parágrafo e continue...
- Sim, é... “A chegada dos Europeus à América, no séculooo...?
- Século quinze Alice.
- Isso, no século XV, significou o inicio da destruição da maioria das organizações sociais, culturais e politicas existentes. Os chamados conquistadores confiscaram as terras indígenas, sua liberdade e, muito frequentemente, suas vidas. Mais da metade dos cerca de 80 milhões de ameríndios que então se distribuíam por todo o continente acabaram mortos em pouco menos de um século de colonização. No Brasil, dos aproximadamente 3,5 milhões de índios em 1500, restam atualmente pouco mais de 200 mil indivíduos.
Além da submissão à exploração colonial, dos sucessivos confrontos armados e da expulsão de suas terras, os indígenas também foram destruídos pelas doenças trazidas pelos conquistadores. Como não possuíam qualquer residencia às enfermidades desconhecidas na América, as contaminações por gripe, sarampo, catapora, pneumonia, varíola, entre outras, foram amplas e dizimadoras entre os nativos. Neste aspecto, antigas e novas doenças introduzidas ao longo da história brasileira fizeram e continuam fazendo vitimas entre os indígenas. Os conquistadores europeus, portadores de uma tecnologia superior e dotados da ambição comercial,

2 - "Despetalar" – Composição de minha autoria (Faixas do CD acoplado no inicio do livro) inspirada na professora de geografia quando estava no segundo colegial. A primeira gravação da música foi com o grupo formado no Centro Acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo "As Encantadeiras”, cuja proposta era integrar o canto de cinco mulheres sobre efeitos percussivos simples, tendo como mote principal minhas composições e as Poesias e danças de Inayara Samuel. A segunda gravação foi com o grupo "Aline Reis e o Realejo" banda que também tinha como ponto de partida meus poemas escritos musicados, arranjados em seguida coletivamente pela banda, em jam sessions baseando-se em ritmos regionais brasileiros, misturando as influências de jazz e psicodelia. A terceira gravação foi com o conjunto cênico-musical “O Encanta Realejo” (junção das “Encantadeiras” e o “Realejo” www.myspace.com/oencantarealejo), que tinha como fio condutor o “Auto do Realejo Encantado”, história escrita coletivamente pelo conjunto. É possivel assistir o vídeo no DVD acoplado no final do livro ou pela internet pelo youtube: www.youtube.com/watch?v=j1zBud6jif8



3 - Trecho retirado do livro "História do Brasil" de Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo.




Terceira Pagina

impuseram um verdadeiro morticínio às populações nativas, tomando suas terras, seus domínios comuns e seus corpos, transformando-os em integrantes do projeto explorador, seja como escravos, o que foi mais comum, ou como associados, submissos ou não.

Corporificando um verdadeiro genocídio dos ameríndios, a ação europeia não sofreu variação substancial em todo o continente, realizando-se tanto nos domínios espanhóis como nos lusos, ingleses, franceses e holandeses. No máximo deu-se uma diferenciação de números absurdos no extermínio e quanto ao processo de efetivação da conquista, mantendo a qualidade violenta e dominadora do sistema de explorador europeu.

No Brasil, passo a passo, as populações indígenas foram sendo empurradas para o interior, assimiladas ou exterminadas pelos conquistadores. O processo teve inicio no período colonial, manteve-se pela fase imperial e continuou pelo período republicano, não sendo raro na atualidade”.
- Pérai Professora! Então o ano de 1500 marca para a História do Brasil o surgimento das bases da colonização portuguesa, ao invés do descobrimento do Brasil?


*Pirapiré piro cabeça de *juruá

Juruá pirapiré piro cabeça de guarani



É a febre no chão do ser tão sem destino

Que afunda na areia movediça seu menino



É a peste no chão da cidade

Olha a LUA

Olha a gente na rua...



Eh Rui Guara, eh rui guara, eh rui guarani...
4


4 - "Rui Gurara" -Música de minha autoria. (Faixa do CD acoplado no inicio do livro). Também é possivel assistir o vídeo da múica gravada no DVD acoplano no final do livro ou no youtube junto a participação do compositor pernambucano Rodrigo Denega: www.youtube.com/watch?v=Sm-LOvtSYvg


*Pirapiré = Dinheiro
*Juruá = Homem Branco



Quarta Pagina


De repente ouve-se um grito paranormal que parecia vir do banheiro!!! Alice sentou-se. Ninguém fazia um só movimento.

- Alice!...

- S... i... m... sim, professora! Respondeu ela com voz trêmula.

- Levante-se!!!

Alice estremeceu como se acordasse de um sonho, e levantou-se bem devagar.

- Vá você ver o que está acontecendo... Se quer resolver os problemas do mundo, comece resolvendo os que estão ao seu redor...

Alice, conquanto não tirando os olhos da professora, começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. E o grito estendia-se cada vez mais alto pelos corredores da escola...

- Alice?

Eu precisava mesmo ir ao banheiro, não perceberam como estou apertada?


Alice foi. Chegando lá, abriu a porta rapidamente e parou diante do grito que enterrou-a pela consciência dentro um par de olhos pontudos.



Três meses atrás, Alice havia se relacionado com uma garota muito bonita de cabelos loiros. A garota tinha aproximadamente 15 anos. Ambas sempre planejavam maneiras de matar aula para se encontrar. Encontravam-se sempre no banheiro da escola, pois não havia nada de estranho duas garotas frequentarem o mesmo banheiro. Porém um dia, um acidente terrível aconteceu. Em um desses encontros, a garota por quem Alice se relacionava, escorregou no piso molhado do banheiro e bateu seu queixo no chão, ficou em coma e pouco tempo depois veio a morrer. A morta não se conformando com seu fim trágico e prematuro, passou a assombrar os banheiros das escolas a procura de Alice.







Quinta Página

- Vc precisa executar um ritual. Se o fizer tudo poderá acontecer. Vá até a sala de química e anote a fórmula escrita da lousa. Vá logo pois estão te esperando.

Alice sem pestanejar foi as pressas até a sala que ficava ao lado da sala de história. Teve de passar por ali sem que a percebessem. Conseguiu e chegou a sala. Anotou a formula e saiu, mas a professora desta vez estava na porta e viu Alice passar.

-Por que demorastes tanto menina? E os gritos, de quem era?

-Da loira do banheiro professora.

-Loira da onde?

-A loira do banheiro professora.

-A menina não me venha com história e entre já na sala.

-Mas professora preciso levar a fórmula para ela.



A professora toma a menina pelos braços e faz ela entrar a força e as pressas na sala. Mas não demorou nem mais dois minutos e os gritos recomeçaram dessa vez mais agudos fazendo com que todos da sala tapassem seus ouvidos.



-Tá vendo só professora, tenho de levar a fórmula, caso contrario ela não parará de gritar.

-Quieta Alice, sente-se!

De repente um blecaut acontece. Ninguem mais enchergava. Era possivel enchergar somente o vulto da porta por onde Alice corria.
- Você trouxe a fórmula?

Trouxe sim, taqui, na palma da minha mão.

Então apresse-se, a passagem pelo portal tem de acontecer antes do sol do meio-dia. Agora aperte a descarga por três vezes e chute o vaso sanitário com força. Depois disso escreva na parede próximo da válvula da descarga a fórmula que anotou em sua mão e quando seu celular tocar, jogue-o na privada.


E assim Alice fez. Mas no momento em que seu celular cai, caia também ela e a morta. Ambas haviam diminuido e caido dentro da privada descendo descarga abaixo.

- Nossa, quanta merda!

- Alice, a pura e fragrante flor de lótus desenvolveu-se melhor na lama de um pantano do que num terreno limpo e firme.

- É, mas, o problema é que eu não estou mais conseguindo respirArrrrrrrr, eu preciso de Arrrrrrr. Tem alguem ai que possa me ajudArrrrrrrrr???



Oitava Página

Alice, Alice, acorda Alice, tá na hora de ir pra escola... Vamos acorda.... Alice?




Acorda Alice, a corda.

A corda de se equilibrar,

A corda que você pula, acorda Alice.

Acorda que o brinquedo quebrou

E a brincadeira agora machuca.

Acorda Alice.

A corda com seus nós,

Nós de moças e marinheiros que devem ser desatados sobre seu consentimento,

Que a corda da vida não da jeito,

Começa nas tranças dos seus cabelos.





Acorda Alice, acorda, acorda Alice...

Acorda Alice, a corda, acorda Alice...



Alice se ali se visse

Alice aliciada e triste

Alice e suas meninices,

Alice.



Alice solta pipa e joga bola

Alice tem preguiça de ir à escola

Alice esconde-esconde, pula-corda

Alice se machuca mais não chora.



Acorda Alice, acorda. Acorda Alice...

Acorda Alice, a corda, Acorda Alice...



A corda ali ce foi, acorda Alice...

A corda alice foi, acorda Alice...



6 - Música "Acorda Alice" composição minha (Faixa 1 do CD acoplado ao livro), inspirada na minha infância nostalgica e numa garota no qual fui apaixonada na adolecencia. A primeira gravação da música foi com o grupo "As Encantadeiras. A segunda gravação foi com o grupo "O Encanta Realejo". E a terceira gravação foi em Ilhés-Bahia. É possivel assistir no DVD documentário acoplado no livro: ou na internet pelo youtube: www.youtube.com/watch?v=Yzuu2O-Pm_Y






Nona Página



Alice acorda ofegante dizendo que havia tido um sonho daqueles.... Que estava morrendo afogada num rio de merda. O avô explica ter sido só um pesadelo e que merda significa coisa boa.
- É fazendo merda que se aduba a vida nenina. E apresse-se, caso vai atrazar-se pra aula.
Era dia de eleição na escola pra eleger a chapa do grêmio. Alice havia se candidatado


para vice-presidente. Haviam nomeado a chapa de AUREA – Alunos Unidos Revolucionando a Escola... No caminho da escola Alice sempre passava por uma praça onde possou a bricar parte de sua infância. Neste dia quando passava pela praça, Alice encontrou com um realejeiro que se dava o nome de Teotônio.

Fale um pouco sobre você Teotonio. Conte-me sua história!
Era uma vez uma estória. Uma estória que sonhei e que falava de um homem uma menina, um passarin que arrancava a sorte dos outros, e ainda outros seres, deste mundo e de outros... Essa estória não foi inventada por ninguém, nem tem começo nem fim.
È lenda que se conta, canção que se canta, parede que se pinta desde que o mundo é mundo e o tempo é o tempo... É estória de humor e de amor, que há de tudo nessa vida... É estória de gente como a gente, que às vezes se perde, procurando alguma coisa sem se saber o que é. “Quem procura o que não sabe, quando encontra não conhece”.

Curiosa, Alice indaga sobre a origem daqueles bilhetinhos todos que o realejo carrega. O papo cria pernas e os dois passam muito tempo juntos conversando e brincando até que adormecem por ali mesmo.

- Alice! Alice! Acorda!!! Você está dormindo a horas...


Alice ainda sonolenta dizia que havia tido um sonho diferente, disse que havia sonhado com um realejeiro.


- Isso siguinifica que terás sorte...

- Quem é você?

- Sou a Jangadeira. Vim por que pedistes socorro


"E agora tuas flores é que ardem

O corpo cruza o rio

A água desse meu rio é vermelho

Lá onde me largou minha jangadeira


Onde minha lavadeira lava as feridas da humanidade

Duo entre o desejo e a bondade

Ainda é fogo a memória

E o diabo quem faz o ‘sinal’...

Estampa da saia é o novo céu pro meu desfecho".



Undeo jangadeira na estrada

Undeo jangadeira na estrada



Quando pôs os pés na rua se perdeu pelo universo

Encontrou-se numa clave de lua no meu ouvido.

Com as estrelas falouUma delas brilhouNum instante infinito um pedido sincopou.


Muitas tempestades, calmarias, portos, bares, idas, vindas e naufrágios, aconteceram no meio do caminho enquanto vc durmia. Estamos quase chegando...



- Vc viu aquilo?

- Viu o que Alice?



Sua vista aponta para a moça que desponta, LAVADEIRA atarefada e indiferente ao mendigo que lhe oferece um sorriso todo meio sem dente.



- È a dona do destino. Và logo atè ela..
. Ela te espera.


Jangada e Jangadeira deixam Alice em terra e segue seu caminho enquanto a menina vai à LAVADEIRA e pergunta a ela qual o destino final de sua jornada. A sábia mulher retruca dizendo que só dirá se Alice lhe der algo em troca.




Música "Realejoooo" de minha autoria com parceria do poeta maloqueirista Caco Pontes. A música pode ser vista do DVD acoplado no final do livro: ou pela internet no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=oa1cKMJ3AbQ

Música "Jangadeira" de minha autoria. A música pode ser vista no DVD acoplado no final do livro:

Página 13

Eh lavadeira do rio

Canta aqui pra essa cidade

Espanta toda maldade

Vem lavar a trouxa de roupa daqui.



Sopra seu canto acalanto nos ouvidos

do moleque descalço

Varredor de rua,

catador de papel

Pra puta da esquina

e quem mais quiser ouvir



Lava, esfrega estende a sujeira que encardiu

Lava, esfrega, estende a sujeira do Brasil.

- Mas eu não carrego nada comigo.

Ja olhastes seus bolços?


Música "Lavadeira" de minha autoria (Faixa do CD acoplado no inicio do livro). A Primeira gravação foi com as Encandeiras. A Segunda com o Aline Reis e o Realejo e a terceira foi com o grupo O Encanta Realejo. É possivel assistir o vídeo no DVD acoplado no final do livro: ou na internet no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=SvictkOLJK4


Alice ao investigar seus bolsos, encontra num deles três moedas.

Página 14

O lançamento das moedas formará um acontecimento sincrônico à sua busca de orientação para com seu destino. Lance-as seis vezes no percorrer da sua caminhada. No caminho avistará uma amarelinha. Sua tarefa é encontrar uma pedra ou um cristal que a ajude a entrar em contato com nivel mineral do seu ser. Com esta clara intenção em sua mente e convencido da necessidade de uma ligação e unica, quando a encontrar, você saberá. Jogue a pedra na casa 10 ao amanhecer.

Alice encontrou a pedra e conseguiu distinguir a silhueta da amarelinha pouco adiante. E ali bem pertinho poe-se a dormiu. Dentro de instantes aparece um pássaro, que pousa sobre sua cabeça acordando-a fazendo um convite. Curiosa, ALICE segue o ENCANTA-REALEJO até TEOTÔNIO e pede que ele tire a sua sorte. Mas no momento exato em que a menina ia pegar seu bilhete, o pássaro segura o papel no bico e o bilhete se rasga, ficando uma metade com ela e a outra no bico da ave.
No mesmo momento em que o bilhete se partia, uma ventania acontecia, fazendo com que todos os bilhetes fugissem pelo céu. Teotonio furioso, toma da mãe de Alice sua metade do bilhetinho e foge. Passaro e Realejeiro tinham consigo o destino da menina.
Debaixo de muita chuva, trovões e raios a menina saiu as pressas para a escola. Estava recentida por ter perdido a eleição pra eleger a chapa do grêmio e não queria dessa vez perde a prova de história que haveria naquele dia. Quando chegou na escola, todos seus amigos já haviam entrado na sala de aula, e por la, dessa vez, estava um novo professor. Alice rápido compreendeu que a professora havia faltado, e este professor fora o substituto.
- Entre menina Alice. Seus amigos estavam perguntando por você.
- O que e isto em cima de sua mesa?
- Se achegue, pois a aula de hoje será exatamente sobre esta fruta que vocês estão vendo sobre minha mesa. O Cacau.
O professor substituto não era um professor substituto de verdade. Havia chegado da Bahia a uns dias e queria muito contar suas historias de grapiúnas para quem o quisera ouvi-lo. Estava passando em frente a escola e vira aquele montante de jovens e resolveu entrar ali. Coincidiu de entrar na sala onde a professora de historia faltara.

- Como talvez vocês todos saibam, o cacau não é da nossa região; é do Amazonas, do Pará. O cacau é originário da América do Sul e da América Central: Peru, Amazonas, México. Aos astecas, os índios mexicanos, já tomavam o chocolate dois mil anos antes de Cristo, era uma bebida divina, bebiam em seus rituais e era servida em taças de ouro. Mas o nosso cacau veio do Pará.
- Quem trouxe?
- Os jesuítas, por volta do século XVIII. Corre pela região, a história que as primeiras sementes foram trazidas para cá, do Pará, por um colono francês chamado Luis Frederick Warneau, que as deu a um colono português o qual atendia pelo nome de Antônio Dias Ribeiro. Ela as plantou, na sua fazenda, à margem esquerda do rio Pardo.
Mas o certo mesmo é que as primeiras sementes de cacau vieram do Pará para a região sul da Bahia, onde foram plantadas, inicialmente, ao lado da casa grande. Vieram os primeiros pés e os primeiros frutos; depois, começou a nascer o cacau na mata sem que os colonos o tivesse plantado. Como? perguntaram-se os colonos. O macaco jupará (que não é macaco, mas assim é conhecido popularmente) quebrou o coco do cacau, provou o mel dos caroços e engoliu-os inteiros e, nas fezes, saiu cagando pela mata. Ao macaco, o título regional de “Semeador do Cacau”. O rei de Portugal ficou sabendo que a região sul era boa para o plantio de cacau. Incentivou o seu cultivo, tanto que, em 1780, já tínhamos por volta de seiscentos pés plantados na propriedade de Ferreira Câmara, nas proximidades de Caeté.
Mas quem plantou as primeiras grandes roças de cacau na região foram os alemães, no início do século XVIII. Alguns deles, liderados por Pedro Weyll, fugiram das guerras religiosas na Alemanha vieram para cá. Aqui, ao norte de Ilhéus, nós temos um rio chamado Rio Almada; desemboca dentro da cidade e dá acesso à Lagoa Encantada, um lugar belíssimo de se ver: cachoeiras, cascatas e um povoado. O povo conta a lenda de caipora, mula-sem-cabeça, almas de jesuítas, cantando por sobre as águas da lagoa em noite de lua. Ali, ao redor da lagoa de quase cinco quilômetros de diâmetro e nas margens do Rio Almada, os alemães plantaram suas fazendas de cacau. Prosperaram. Mas quem deu a cara a essa região, de região cacaueira, foram os retirantes da seca de Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Por volta de 1860 a 1890 recebemos uma grande leva deles. Adentraram a mata e botaram suas roças de cacau. Prosperaram.
A Europa fria e os Estados Unidos já acostumados ao consumo do cacau da América Central, aderiram ao nosso. O preço subiu e todos por cá, viraram coronéis, coronéis do cacau. Homens poderosos, ricos, ostentosos, construíram o Teatro Municipal, a Catedral de São Sebastião, a Prefeitura de Ilhéus, escolas, igrejas, trouxeram estrada de trem de ferro. Fundaram povoados, vilas e cidades. Criaram uma civilização chamada “Civilização Grapiúna”.

As histórias grapiúnas têm cheiro de cacau secado na barcaça e pilado por minha avó. As histórias grapiúnas têm cheiro de cajá, mangas, jaca e doce de carambola. Grapiúna significa ave de cor preta ou azul escuro que vive a beira d’água. Esse povo da região que mora a beira do rio Macuco, do rio Almada, do rio Cachoeira e de outros tantos rios e lagoas da região... Esse povo que, à sua maneira, voa em pensamento, voa em busca de si mesmo. Contar as histórias grapiúnas é como retornar a minha própria história. Filho de coronel do cacau, vivi desde pequeno entre a casa grande e a miséria, entre a ostentação e a fartura. Aprendi que era preciso respeitar a terra porque dela todos nós viemos; que é preciso, também, respeitar os mais velhos, sempre, pois deles vem a sabedoria. Assim, ouvi e vivi tantas histórias. E vi as matas sendo devastadas e as coisas desaparecendo. Por volta de 1950, a região começou a entrar em crise. A falta de investimento em tecnologia fez o nosso cacau cair de qualidade. A África plantou cacau, concorreu com a gente e o preço baixou. Como se não bastasse, no final da década de 1980, apareceu o primeiro foco de vassoura-de-bruxa na região, em uma fazenda da cidade de Camacan. De repente, o broto de cacau começa a ficar aparentemente viçoso. Nascem umas coisas parecendo uma vassoura, daí o nome vassoura-de-bruxa. Tem um pozinho, o vento bate e vai passando de pé de cacau para cacau, de roça para roça, região para região. Quando não seca por inteiro o pé de cacau, o fruto seca e os caroços ficam podres.
Os poucos coronéis, que ainda existiam na região, foram à falência. Em vez de tomarem champanha francesa, como faziam antigamente lá no Bataclan, passaram a tomar cachaça, no corote, lamentando a vida.

Alice começará ficar sonolenta e foi dormindo assim, devagarinho enquanto o contador de histórias se estendia em suas prosas. Acordará de frente a amarelinha. Levantou-se e seguiu sua intuição que lhe dizia para jogar a pedra na casa dez. Mas no momento em que a pedra caia, todas aquelas casas numeradas tornaram-se cartas, tendo a casa dez um ponto de interrogação. Apanhou a pedra e Poe-se a andar, sentia que já estava próximo o sol do meio-dia. No deserto que andará avistou uma pedra no qual sentará. Contemplava a encruzilhada à sua frente sem saber para onde ir. Havia reparado que em um dos lados o som de uma viola vinha lhe acaricia os ouvidos, e do outro, também já havia reparado numa casinha. A menina havia lido num de seus livros, que a civilização avançaria os sertões impelida pela implacável força motriz da história, no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes. Antes de a profecia cair por terra, Alice foi pro sertão árido.
O calor daquele dia estava deixando Alice sonolenta. Ela perguntava a si mesma se o prazer de fazê-la ir até a casa valia o esforço de ela dormir por ali mesmo. Foi quando uma moça de pés semi nus passou caminhando por ali. Não havia nada de tão extraordinário nisso. Alice não achou verdadeiramente notável nem mesmo quando a moça lhe jogou uma caixinha de fósforos! Mas quando ela viu em seu rosto um riso azul, Alice levantou-se. Teve a impressão que nunca em sua vida tinha visto um riso azul. Ardendo em curiosidade, caminhou até a moça através do sertão. A moça seguia a caminho da casa e nela entrou. Num instante Alice estava em frente a casa também.
- Estou a sonhar? Coisas estranhas estão a me acontecer. Esta casa parece-me familiar. Ontem mesmo sonhei que estava a debruçar numa das janelas.
Haviam seis janelas na casa e elas estavam todas abertas, mas a porta permanecia fechada a chave. Alice contornou a casa tentando enxergar o que havia dentro. Num instante já estava pulando a janela dos fundos, sem se perguntar por nenhum momento se alguém iria chegar.
Foi parar no sótão. Dizem que na vida tibetana o corpo é figurado por uma casa de seis janelas e que a casa representa o ser interior; os andares, a cave e o sótão são os vários estados da alma. Isso representa que Alice está num momento de sublimação espiritual.
- Esta casa faz sentir-me sozinha. Ela é oca, não tem nada. Onde estão os móveis? Que cheiro é esse? Cheira café. Parece que vem da cozinha. Olha! Tem andares. Lá de fora ela parecia tão pequenina. Nossa são muitos andares, incrível. Olha! Tem café, tem um forno à lenha e o café está quente. Que maravilha. Onde estará o riso azul? O que são aquelas cartas no vão da janela?
- Seu destino menina Alice.
Alice distraída não percebeu que dos andares surgia a moça dos pés seminus.
- Como sabes meu nome?
- Chegastes cedo flor. O café está fresco. Percebeste o pé de café no jardim? Vou colocar a mesa. Vais comer cenouras e quando terminar tirarei as cartas pra você. E dai por diante será dona de seu destino. Não terás mais os Deuses a lhe acompanhar. Será responsável por suas escolhas. Será dona de si, estará livre...
- Quem és tu?
É a atriz que dança firme e equilibrada como a terra, que dança pelo cosmo. Ela é o Resultado de todas as outras cartas, é o Mundo, que representa a consciência de pertencer, vir e voltar a terra, quer dizer vida eterna, recompensa, conclusão, caminho da libertação. Na carta ela olha a folha que simboliza a consciência de ter a mesma origem das plantas, a terra.
- Morastes sozinha?
- No segundo andar dorme o anjo. No terceiro, sobre a janela, repousa uma águia. No quinto, dorme o touro, e no penúltimo, mora o leão, guardião da porta dos céus. Só os seguros e corajosos poderão passar por lá.
- E este guarda-chuva, pra que serve? É seu?
- Sim, é meu. Carrego comigo. Simboliza poder em toda parte... Gostastes das cenouras?
- Sim, muito, elas têm gosto de sensações. Seus lábios.
- O que têm eles?
- Seu riso é azul.
- Há sim. Fiquei assim depois de beijar Frida Kalo.
- Quer dizer então, que se eu beijá-la, meu riso se tronará azul para sempre também?
- Sim flor!!!
Me beija então! Eu também gosto de chupar uma bucetinhas.
Acalme-se. Venha, estou no banheiro.

Alice vai. Ao chegar no banheiro, percebe que o riso azul não estava. Melancólica a esperar apanha um guarda-chuva aberto e o coloca sobre sua cabeça embaixo do chuveiro ligado. Alice ver-se perdida, pois nada mais havia sentido. De repente Alice encherga algo alem do espelho a sua frente. Era certo que o vidro do espelho estava se diluindo, como se fosse uma névoa de prata brilhante. Dali a um momento Alice adentrou-se do outro lado do vidro e saltava ligeira para dentro deste lugar misterioso. Foi parar na margem de um rio onde havia avistado uma garrafinha que tinha dentro um papel. Percebe que é uma carta que ela mesma escrevera e que acabara de reencontrar.

Aquela carta que escrevi pra ninguem, esquisito.
Numa garrafa atravessou o mar,
Numa maré de conflitos, surgiu num lugar esquecido.
Duma palavra que cai no chão, criu sentidos,
Viu naiscer, se espalhar sorrisos.
E lá da ponte pude avistar,
Um avião a se formar,
De dobraduras em dobraduras.
E lá no céu se pois a voar,
Voar voou, se perdeu nas nuvéns no céu,
A procurá de um destino.

Alice retira a carta da garrafa e a re-lê. Ao terminar sua leitura, num passe de magicas,
as palavras caem todas no chão, feito cementes sobre a terra. Das palavras que cairam ao chão, viu-se nascer se espalhar sorrisos. Lambrusko apanha a carta já nua da mão de Alice e atravessa a ponte, e lá poe-se a escrever. Os seres que lá existem não conhecem as palavras. Conectam-se simpliesmente com a imaginação. E como não poderia deixar de ser, Lambrusko é um desses seres inacabados, vive da imaginação das pessoas e não se comunica em palavras. Alice torna real seus dialogos e parte para uma aventura no plano material levando este companheiro, eles se divertem e não enxergam as pessoas desse mundo, vivem o sonho acordados, transcebdem desse mundo mas não saem dele.
Lambrusko e Alice embarcam no avião a se formar de dobraduras em dobraduras, que lá no céu se poe a voar, se perdendo nas nuvens a procura de um destino.











Em uma das aventuras de Alice, a menina encontra uma carta dentro de uma garrafa e a re-Lê. Ao terminar sua leitura, num passe de mágicas, as palavras caem feito sementes sobre a terra. Das palavras que caíram ao chão viu-se nascer se espalhar sorrisos. Lambrusko apanha a carta já nua das mãos de Alice e atravessa a ponte. Os seres que lá existiam não conheciam as palavras. Conectavam-se simplesmente com a imaginação. E como não poderia deixar de ser, Lambrusko é um desses seres inacabados que vive da imaginação das pessoas e não se comunica em palavras.
Alice torna real seus diálogos e parte para uma aventura no plano material levando esse companheiro, eles se divertem e não enxergam as pessoas desse mundo, vivem o sonho acordados. Transcendem desse mundo, mas não saem dele.
Lambrusko e Alice embarcam no avião que se formara de dobraduras em dobraduras, que lá no céu se Poe a voar, se perdendo nas nuvens ao léo, a procura de um destino.


Aline Reis e Luiz Carlos Café, partem para as ruas e vivenciam todo o processo da imaginação da menina Alice e os sentidos de seu companheiro lambrusko(personagens que norteiam a historia do livro ``Alice no pais das armadilhas``. Ambos realizam intervenções artisticas nas ruas e convidam o publico a interagir através dos cartões MIP Card. Cartao que integra musica, imagem e poesia para marcar artisticamente a vida das pessoas, fomentando a cultura e inserindo o publico na obra. O cartao e a expressao fisica das artes e consequentemente do espirito e essencia de Alice e Lambrusko. Em seu interior e alojado um mini cd com a musica, na capa uma imagem de um artista que interage com o tema.

O cartao tem caracter exclusivo, contem um espaco reservado na contra capa onde publico interaje com as obras ali executadas e possa levar sua interacao adiante atraves de uma postagem. Os MIP CARDS contem aroma de café e reforcam alem da aproximacao publico artista a possibilidade de aflorar o artista que esta adormecido em cada um de nos.

As relações humanas de Aline e Luiz dão vida aos personagens.
Os escritores que convidam o publico a embarcar num mundo cheio de aventuras e fantasias da menina Alice, os convidam a enxergar algo alem do espelho em sua frente, a ver alem desse mundo ilusório em que estamos aprisionados. O livro que sera escrito a partir da vivencia humana desses dois autores propoe a interatividade dos artistas brasileiros e uma dinamica com o publico europeu. Alice no pais das armadilhas permite que o leitor transcenda para este lugar misterioso, nos leva a degustar uma gama de variadas sensações, a ouvir acordes intensos e bucólicos e nos faz sentir revigorados e entorpecidos com o sabor doce e picante como um café forte, etílico e original.

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