terça-feira, 2 de fevereiro de 2010







Quando chegou na escola, todos seus amigos já haviam entrado na sala de aula, e por la, dessa vez, estava um novo professor. Alice rápido compreendeu que a professora havia faltado, e este professor fora o substituto.
Entre menina Alice. Seus amigos estavam perguntando por você.
E, imagino que seja por conta da eleicao pra eleger a chapa do gremio.
Sim, por isso mesmo. A energia acabou e todos os alunos tiveram de ser despensados. A eleicao foi adiada.
O que e isto em cima de sua mesa?
Se achegue, pois a aula de hoje sera exatamente sobre esta fruta que vocês estão vendo sobre minha mesa. O Cacau.
O professor substituto não era um professor substituto de verdade. Havia chegado da Bahia a uns dias e queria muito contar suas historias de grapiúnas para quem o quisera ouvi-lo. Estava passando em frente a escola e vira aquele montante de jovens e resolveu entrar ali. Coincidiu de entrar na sala onde a professora de historia faltara.

Como talvez vocês todos saibam, o cacau não é da nossa região; é do Amazonas, do Pará. O cacau é originário da América do Sul e da América Central: Peru, Amazonas, México. Aos astecas, os índios mexicanos, já tomavam o chocolate dois mil anos antes de Cristo, era uma bebida divina, bebiam em seus rituais e era servida em taças de ouro. Mas o nosso cacau veio do Pará.
Quem trouxe?
Os jesuítas, por volta do século XVIII. Corre pela região, a história que as primeiras sementes foram trazidas para cá, do Pará, por um colono francês chamado Luis Frederick Warneau, que as deu a um colono português o qual atendia pelo nome de Antônio Dias Ribeiro. Ela as plantou, na sua fazenda, à margem esquerda do rio Pardo.
Mas o certo mesmo é que as primeiras sementes de cacau vieram do Pará para a região sul da Bahia, onde foram plantadas, inicialmente, ao lado da casa grande. Vieram os primeiros pés e os primeiros frutos; depois, começou a nascer o cacau na mata sem que os colonos o tivesse plantado. Como? perguntaram-se os colonos. O macaco jupará (que não é macaco, mas assim é conhecido popularmente) quebrou o coco do cacau, provou o mel dos caroços e engoliu-os inteiros e, nas fezes, saiu cagando pela mata. Ao macaco, o título regional de “Semeador do Cacau”. O rei de Portugal ficou sabendo que a região sul era boa para o plantio de cacau. Incentivou o seu cultivo, tanto que, em 1780, já tínhamos por volta de seiscentos pés plantados na propriedade de Ferreira Câmara, nas proximidades de Caeté.
Mas quem plantou as primeiras grandes roças de cacau na região foram os alemães, no início do século XVIII. Alguns deles, liderados por Pedro Weyll, fugiram das guerras religiosas na Alemanha vieram para cá. Aqui, ao norte de Ilhéus, nós temos um rio chamado Rio Almada; desemboca dentro da cidade e dá acesso à Lagoa Encantada, um lugar belíssimo de se ver: cachoeiras, cascatas e um povoado. O povo conta a lenda de caipora, mula-sem-cabeça, almas de jesuítas, cantando por sobre as águas da lagoa em noite de lua. Ali, ao redor da lagoa de quase cinco quilômetros de diâmetro e nas margens do Rio Almada, os alemães plantaram suas fazendas de cacau. Prosperaram. Mas quem deu a cara a essa região, de região cacaueira, foram os retirantes da seca de Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Por volta de 1860 a 1890 recebemos uma grande leva deles. Adentraram a mata e botaram suas roças de cacau. Prosperaram.
A Europa fria e os Estados Unidos já acostumados ao consumo do cacau da América Central, aderiram ao nosso. O preço subiu e todos por cá, viraram coronéis, coronéis do cacau. Homens poderosos, ricos, ostentosos, construíram o Teatro Municipal, a Catedral de São Sebastião, a Prefeitura de Ilhéus, escolas, igrejas, trouxeram estrada de trem de ferro. Fundaram povoados, vilas e cidades. Criaram uma civilização chamada “Civilização Grapiúna”.

As histórias grapiúnas têm cheiro de cacau secado na barcaça e pilado por minha avó. As histórias grapiúnas têm cheiro de cajá, mangas, jaca e doce de carambola. Grapiúna significa ave de cor preta ou azul escuro que vive a beira d’água. Esse povo da região que mora a beira do rio Macuco, do rio Almada, do rio Cachoeira e de outros tantos rios e lagoas da região.... Esse povo que, à sua maneira, voa em pensamento, voa em busca de si mesmo. Contar as histórias grapiúnas é como retornar a minha própria história. Filho de coronel do cacau, vivi desde pequeno entre a casa grande e a miséria, entre a ostentação e a fartura. Aprendi que era preciso respeitar a terra porque dela todos nós viemos; que é preciso, também, respeitar os mais velhos, sempre, pois deles vem a sabedoria. Assim, ouvi e vivi tantas histórias. E vi as matas sendo devastadas e as coisas desaparecendo. Mas eu estou aqui e vou lhes contar uma história: era uma vez...
(LISBOA, Romualdo. Inédito)

Assisti essa história
do tempo do onça
no tempo em que o rio
não tinha cacau
e nem fruta-pão.
Só tinha quiçare
velame, cajá.
Não tinha laranja
nem tinha limão
nem pé de cacau
e nem fruta-pão.
..........................
Não corra, meu filho,
que eu sou o teu avô,
e me contou a história
e me deu esta flor.

O sinal toca e todos saem para lanchar. Alice leu no mural que a eleicao para eleger a chapa do gremio havia sido adiada. A menina em meio a informacao solucou uma ideia.
Vamos convidar algumas bandas de musica para tocar enquanto votamos. Vamos chamar os Blusileiros, a botando fogo e o Encanta Realejo.
Essas bandas não existem mais Alice, acorda!!!
Como assim, mês passado fui a um show de um deles.
Pois e Alice, estamos em epoca de vacas magras. Essa galera num recebe nenhum tustao pra tocar e tem de trabalherem com outras coisas que não tem nada haver com seus trabalhos artisticos e acabam desistindo de tocar. Voce chegou a ver algumas vaquinhas tombadas na paulista? Pois e, poe-se vacas nas ruas mas não poem dinheiro no bolso de nossos artistas.
A menina preocupada planeja registrar em audio visual, o maximo de bandas que podia. Registrou algumas bandas de São Paulo e Bahia, pois havia gostado muito do contador de historia, e foi e fez.
Meu silencio sufocado solucou letras e depois paragrafos.
Queria receber
um silencio sufocadoo
sufucou-se com suas paixoes e explodiu feito cigarra. Fechou a janela e feichei a porta. Ela abriu porta e janela.

Alice ganha um livro para colorir.
Posso colocar ESCREVER o processo de pintura das criancas da dulcineia catadora. Poetizar o que vou viver com as criancas. Alice sera uma dessas criancas catadoras das ruas que vai pintar as criancas.
Mas como sera a narrativa da crianca junto ao meu personagem?

ju_luana@hotmail.com

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