Um dos maiores crimes contra a educação no Brasil foi cometido no governo de Geraldo Alckmin, o candidato (?) dos tucanos à sucessão presidencial. Ele entregou o comando da educação no Estado mais poderoso do país a uma figura tão ou mais provinciana e medíocre que ele próprio. Fomos descobrindo através das colunas sociais, de uma ordinária TV a cabo, a “Canção Nova”, onde ele é uma estrela celebrada diuturnamente, das revistinhas de mexericos, de festanças na Daslú e de comentários nos meios políticos, da existência do protegido de dona Lú Alckmin e de sua maneira, digamos, muito fútil de levar a vida.
Diante de nossos muxoxos, de nossa repulsa, de nossa estranheza e, essencialmente, diante de nossa incredulidade e inação, Gabriel Chalita foi conquistando espaço, impondo sua presença lastimável, seu estilo milongueiro e folclórico, seus ademanes janotas, sua ignorância sesquipedal, sua afrontosa e absoluta falta de senso do ridículo, sua total incapacidade em assuntos da área educacional e foi desempenhando papéis menores e pitorescos.
Como secretário da educação de Geraldo Alckmin, Gabriel Chalita protagonizou capítulos inesquecíveis na vida pública paulista. Em junho de 2004, por exemplo, pagou incríveis R$ 9,9 milhões por uma inusitada pesquisa acerca da “qualidade do ensino” em nosso Estado e, na hora festiva da apresentação, retirou todos os indicadores negativos, omitiu todos os dados que depunham de forma impressionante contra sua desastrada gestão, e – diante da denúncia dos sindicatos e do pasmo generalizado – deu à imprensa uma explicação digna de um bambi saltitante nas pradarias verdejantes da terra encantada: “Não é edificante”!
Edificante deve ser o apartamento de 1.500 metros quadrados que o ilustre comprou em um edifício de banqueiros no coração de Higienópolis. Duplex e com piscina, com valor estimado em US$ 2 milhões, o palacete suspenso não deve ter sido comprado com os direitos autorais dos 39 livros que ele teve a coragem de cometer e publicar em menos de 37 aninhos de vida... Vai pro Guiness: um por ano, desde bebê! Nem verdadeiros campeões de vendas como os escritores Jorge Amado, Paulo Coelho e Paiva Netto, poderiam comprar imóvel assim com direitos autorais em um país onde não se lê. Depois que a colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, no mesmo mês de junho de 2004, registrou a estranha aquisição imobiliária do pitoresco Chalita, um deputado da base parlamentar do próprio Alckmin na Assembléia Legislativa, o vigilante Afanásio Jazadji apresentou requerimento de informações para saber de onde provinha a bufunfa da compra do imóvel milionário. E, pela imprensa, já tratou de desmontar a versão pretendida: “Não é fruto da venda de imóveis herdados, já que ele é de uma família muito humilde lá de Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba”. Na intimidade, um enfurecido Chalita responsabilizou a socialite Nancy Izzo, sua amiguinha, pelo vazamento da informação à colunista. Teria confidenciado, alegrinho, a compra do apê e a amiga, falsa que só ela, deu com a língua nos dentes. Coisas da vida, darling.
O mesmo e combativo deputado Afanásio quer saber sobre a variação patrimonial de Chalita, o protegée de dona Lú. Em 2000 o rapaz tinha R$ 741.413,00 em bens diversos. Dois anos depois, ocupando a Secretaria da Educação de São Paulo, saltou para expressivos R$ 1.978.576,00! Direitos autorais? Palestras? Doação de tias ricas? Ganhou no jogo-do-bicho? Encontrou petróleo lá em Cachoeira Paulista?
Chalita tem o péssimo hábito de só se locomover pelo interior de São Paulo em helicópteros e jatinhos de empresas de táxi aéreo. Gastou uma fábula dos recursos de sua pasta com esse seu caríssimo fetiche de deslumbrado. O detalhe mortal: voava sem licitação, ilegal e irregularmente, ferindo a lei e mostrando a sua total amoralidade no que diz respeito ao cumprimento dela. E nessas viagens de super-star pela interlândia paulista, Gabriel Chalita jamais teve uma reunião de trabalho, um encontro sério, uma jornada produtiva. Jamais! Sempre se dirigia ao palco previamente encomendado e declamava poemas ridículos, cantava canções ridículas, expedia conceitos ridículos de auto-ajuda e pregava uma doutrina de sua suave autoria, a “educação pelo afeto”, que ninguém sabe direito o que é, mas quase todos apostam ser apenas mais um misto de leviandade e frescura. Isso, meus amados leitores, na terra de Paulo Freire e Anísio Teixeira...
Foi sob o seu comando débil e incapaz que a FEBEM enfrentou os seus piores motins, as sublevações mais traumáticas, as denúncias mais escabrosas. Foi debaixo de sua augusta direção que foram escritas as páginas mais sangrentas da história dos internos daquele inferno, bastante piorado nos anos Alckmin. Hoje todos os tucanos torcem para que não se recorde do que o agora candidato presidencial fez com a instituição, entregando-a ao incapaz Chalita. Já com relação ao dito cujo, os que estudam e acompanham a delicada questão dos menores infratores só se lembram de sua ação, por assim dizer, relativa ao interno Edgar Brosten, um garotão bonito, espadaúdo, que conquistou a confiança do fraternal secretário. A tal ponto foi a amizade entre eles que Chalita levou Edgar para o seu cerimonial (acreditem: a Secretaria da Educação tinha cerimonial, um Itamaratyzinho particular, nos anos Chalita!!!). Edgar, o felizardo, viajava no helicóptero com Chalita e sua vida parecia um sonho. Até que no dia sete de agosto de 2002, em Guarulhos, o eleito - gozando de total liberdade, fora da FEBEM - resolveu estuprar uma menor de idade. Tudo foi feito para se abafar o caso (sem trocadilho), mas a história vazou. Termina aqui o histórico da atuação do pedagogo Gabriel Chalita na deplorável FEBEM do governo Geraldo Alckmin.
Gabriel Chalita mereceu matéria interessantíssima, em verdade um pequeno e verdadeiro perfil, mesmo que cruel, na edição da revista Veja desta semana. Os repórteres Sérgio Martins e Heloísa Joly conseguiram, em poucos parágrafos, descrever o ridículo de sua suposta produção intelectual. Dezenas de livros e um até agora impensado CD intitulado “Gabriel Chalita canta o amor”, são reduzidos a pó de traque. Aos poucos, vai-se rasgando a fantasia de uma fraude anunciada.
Figuras carregadas de ridículo como a desse indivíduo conseguem espaço e fazem carreira tanto por nosso desprezo, que assepticamente nos recusamos a levá-los a sério, quanto pela sem-cerimônia com que se lançam ao alpinismo social, ao arrivismo puro e simples, à enlouquecida disputa pelo poder político. Não faz muito ele adentrou os salões da mofada e imprestável Academia Paulista de Letras, tornando-se um "imortal". Lá convive com ridículos e desconhecidos escritores que exalam naftalina mas não tem livros (nem nunca tiveram) nas listas dos mais vendidos, inúteis e amofinados que são. A chegada do desfrutável Chalita era o toque que faltava para a desmoralização completa daquele ex-sodalício...
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