Tirei desse blog: http://www.interney.net/blogs/inagaki
No artigo sobre blogs que escrevi para o Correio Braziliense, citei o Irã como exemplo de país no qual a blogosfera ganhou especial importância como meio de informações, uma vez que o governo daquela nação exerce severa repressão sobre as atividades da imprensa. Na época em que foi escrito o artigo, blogueiros iranianos já estavam sendo perseguidos, dentre eles o jornalista Omid Memarian, um dentre tantos que amargavam a prisão simplesmente porque ousara criticar o governo em sua página.
Omid, felizmente, foi libertado. No entanto, a repressão segue à toda na antiga Pérsia. Em 17 de janeiro o governo iraniano prendeu Arash Sigarchi. Depois, em 12 de fevereiro, Motjaba Saminejad foi detido pela segunda vez (em sua prisão anterior Arash passou quase três meses na cadeia). No dia 22, chega a notícia mais estarrecedora: as autoridades iranianas condenaram Arah Sigarchi a nada menos que 14 anos de detenção, devido a acusações como espionagem, atividades contra-revolucionárias e insulto ao supremo líder religioso do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Dois dias depois, chegou a notícia de que mais um blogueiro, Mohamad Reza Nasab Abdolahi, editor de um jornal estudantil, foi condenado a seis meses de prisão por uma pseudo-acusação semelhante à usada contra seus colegas: "insulto aos líderes do país e promoção de atividades anti-governamentais".
Para maiores informações sobre o assunto visite o Comitê de Proteção aos Blogueiros, organização internacional criada com o objetivo de lutar pelo direito de liberdade de opinião, em particular na blogosfera, e que recém-ganhou uma filial no Brasil.
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Por essa eu não esperava: apesar de não ter feito nenhuma campanha neste ano, Pensar Enlouquece está entre os cinco mais votados no Prêmio iBest 2005, e eu só soube disso por intermédio de uma leitora que me enviou um e-mail estranhando o fato de, ao contrário dos anos anteriores, eu não ter movido uma palha sequer pelo iBest.
Bárbara, a explicação é simples: não acredito mais no prêmio. Não dá pra colocar a mão no fogo por causa de uma premiação na qual um blog como o Kibe Loco jamais emplacou o Top 10 do iBest. Leve ainda em consideração o fato de que a página mantida por Antonio Pedro Tabet possui uma média de 25 mil visitantes por dia e, ao contrário de outros blogs de humor em franca decadência, ainda é fonte de boas risadas, e pense cá com meus botões: não há algo de estranho? Por essas e outras desisti de encher o saco dos meus leitores com pedidos reiterados para que preencham aquele formulário chatíssimo a fim de votar em meu blog. Se o Kibe Loco, que é muito mais visitado do que qualquer um dos finalistas, não conseguiu sequer chegar ao Top 10, que chances teria eu?
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Jason Kottke largou o seu emprego de designer para se tornar blogueiro profissional. Kottke conta que durante os 7 anos em que mantém o blog, seu "pequeno hobby" tornou-se a atividade mais prazerosa e gratificante de sua vida, e que por conta dele conheceu pessoas bacanas, descobriu novos interesses e encontrou outras oportunidades profissionais. Até que chegou um ponto em que percebeu que o tempo que dedicava ao seu blog começou a distraí-lo de suas obrigações como webdesigner, sua vida social e até mesmo o seu namoro. Após certa matutação, veio-lhe o insight: deixar seu emprego e, com a ajuda de seus leitores, tentar fazer do blog seu ganha-pão.
blogforliving.jpgO cara é maluco? Provavelmente. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de admirar sua coragem de deixar a estabilidade de lado a fim de tentar sobreviver fazendo o que gosta, ainda mais por sua decisão de não querer sustentar-se à base de anúncios, por achar que estes tiraram sua independência de escrever sobre o que lhe der na telha. Por enquanto, Kottke conta apenas com a colaboração de seus leitores, e para tanto criou uma página de doações para o seu novo projeto de vida - diz ele que "qualquer quantia entre US$ 5 e algumas centenas de milhões de dólares será muito bem-vinda".
Por falar no assunto, não posso deixar de citar a Bloggerwear, site que encontrei via Por um Punhado de Pixels e que se trata de uma loja online que vende camisetas, roupas para bebês, broches e bolsas com frases alusivas à blogosfera, vide a peça à direita, extremamente apropriada para presentear o intrépido Jason Kottke. Meu cumpadi André "Marmota" gostou da idéia e já pensa em adaptar a idéia para o contexto tupinambá, criando pérolas como esta: "Sou blogueiro e não desisto nunca".
© Alexandre Inagaki
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Terça, 1 de Fevereiro de 2005
All your memes are belong to us
"De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo".
Já perdi a conta de quantas vezes encontrei o parágrafo acima em blogs, listas de discussão e e-mails. Mais do que a velocidade com que a mensagem se propagou ou a espantosa quantidade de blogueiros que postaram essa mesma frase, o que me saltou aos olhos foi a relação desse caso com a intrigante teoria dos memes.
Resumindo grosseiramente, memes seriam vírus mentais que se reproduzem feito Gremlins molhados, e que se propagam mundo afora hospedando-se nos cérebros de incautos como eu e você. Segundo o biólogo Richard Dawkins, que cunhou o conceito em seu livro O Gene Egoísta, memes podem ser "músicas, idéias, slogans, modas de roupas, modos de fazer vasos ou de construir arcos". Uma vez incutidos em nossos cérebros-hospedeiros, são passados adiante através da imitação (o termo é originário da palavra grega "mimeme", "imitação" em grego).
geneegoista.jpgE assim, nesse processo de "Maria vai com as outras", febres passageiras (como bambolês e tamagotchis) ou não (contar piadas de elefante, cantar Parabéns Pra Você em festas de aniversário) difundem-se mundo afora, da mesma maneira que músicas infames (de Florentina de Jesus à Egüinha Pocotó), modismos de estação (dança da Macarena, calças semi-bag, piercing no umbigo), lendas urbanas e tudo o mais que possa ser transmitido culturalmente. Agiríamos, pois, como aquele torcedor de estádio de futebol, que vê a multidão se levantando em uma ola e repete o gesto mecanicamente. Ou como o participante de uma flash mob ocorrida na Avenida Paulista que, ao ser indagado sobre o porquê da sua participação, declarou: "foi boa a sensação de estar fazendo parte de alguma coisa, mesmo sem saber pra que ela servia". Como afirmou Timothy Leary, "memes são conceitos-chave que podem ser perfeitamente manipulados a fim de programar mentes alheias" (alguém aí pensou no slogan da Nova Schin?).
Como não poderia deixar de ser, grande parte dos cientistas sequer reconhece a existência de memes. Pudera: a julgar pelo seu conceito, seres humanos podem ser vistos como autômatos programáveis dentro dos quais idéias, modas e teorias se reproduzem em um embate constante a fim de sobreviverem e serem propagados para as gerações seguintes. Idéias e ideologias, portanto, seriam transmitidos por "contágio", e não por convicção ou livre arbítrio. Reportagem de Jerônimo Teixeira publicada na edição de setembro de 2003 da revista Superinteressante cita uma afirmação lapidar do filósofo americano Daniel Dannett sobre o tema: "um acadêmico é apenas o meio que uma biblioteca utiliza para produzir outra biblioteca". Richard Dawkins chegou a afirmar, em seu livro Viruses of the Mind, que as religiões não passam de "complexos de memes co-adaptados" (e você que achava que Diogo Mainardi é polemista).
Esteja correta ou não, é estimulante saber mais a respeito da memética, a disciplina dedicada ao estudo teórico dos memes. Para tanto, vale a pena conhecer os textos de estudiosos como a psicóloga Susan Blackmore, ou simplesmente fazer uma busca no Google (há mais de 2 milhões de sites sobre o assunto). Afinal de contas, haveria terreno mais fértil para a propagação de teorias, fundamentadas ou não, que a Internet?
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