quinta-feira, 24 de junho de 2010

HISTÓRIA DO JAZZ

Nascido do blues, das work songs dos trabalhadores negros norte-americanos, do negro spiritual protestante e do ragtime, o jazz passou por uma extraordinária sucessão de transformações no século XX. É notável como essa música se modificou tão profundamente durante um período de apenas um século.

O termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York. Seus expoentes são considerados "oficialmente" os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton (que se auto-denominava "criador do jazz"), o cornetista King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em seguida, vamos encontrar em Chicago os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke, e em New York o histriônico pianista Fats Waller e o pioneiro bandleader Fletcher Henderson. Em 1930 o jazz já possui uma "massa crítica" considerável e já se acham consolidadas várias grandes orquestras, como as de Duke Ellington, Count Basie, Cab Calloway e Earl Hines.

A evolução histórica do jazz, assim como da literatura, das artes plásticas e da música clássica, segue um padrão de movimento pendular, com tendências que se alternam apontando em direções opostas. Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do jazz, o swing, dançante e palatável, que agradava imensamente às multidões durante a época da guerra. Em 1945 surge um estilo muito mais radical e que fazia menos concessões ao gosto popular, o bebop, que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bop. Em resposta à agressividade do bebop e do hard bop, aparece nos anos 50 o cool jazz, com uma proposta intelectualizada que está para o jazz assim como a música de câmara está para a música erudita.

O cool e o bop dominam a década de 50, até a chegada do free jazz, dando voz às perplexidades e incertezas dos anos 60. No final dos anos 60, acontece a inevitável fusão do jazz com o rock, resultando primeiro em obras inovadoras e vigorosas, e posteriormente em pastiches produzidos em série e de gosto duvidoso. Hoje existe espaço para cultivar todos os gêneros de jazz, desde o dixieland até o experimentalismo free, desde os velhos e sempre amados standards até as mais ambiciosas composições originais para grandes formações. Mas qual seria o estilo de jazz próprio dos dias de hoje? Talvez o jazz feito com instrumentos eletrônicos - samplers e sequenciadores - num cruzamento com o tecno e o drum´n´bass. Se esse jazz possui a consistência para não se dissolver como tantos outros modismos, só o tempo dirá.


Confira abaixo o diagrama da evolução do jazz, segundo apresentado por Joachim-Ernest Berendt em seu livro:

Jazz: do Rag ao Rock.

ELEMENTOS DO JAZZ

Muito já se escreveu sobre a dificuldade de se definir o jazz. Uma corrente de pensamento afirma que o jazz não é o que se toca, mas sim como se toca. De qualquer modo, pode-se afirmar com certa confiança que dois elementos são absolutamente necessários numa performance de jazz: o swing e a improvisação.

Nenhuma apresentação ou gravação de jazz está completa se não contiver algum trecho improvisado. Uma peça de jazz 100% escrita e fixada na partitura é uma contradição - o que, diga-se de passagem, indica que peças como a "Suíte para Flauta e Piano de Jazz", de Claude Bolling, embora muito agradáveis de se ouvir, não são propriamente jazz. Fazer jazz significa assumir um risco - o risco de se confrontar com o silêncio e preenchê-lo com um discurso inédito e próprio, o risco de ser um "compositor instantâneo", como dizia Charles Mingus.

O conceito de improvisação, em si, não apresenta grandes dificuldades para ser entendido, embora exija anos e anos de dedicação para ser posto em prática. Trata-se de tecer - em tempo real, no exato momento em que se está tocando - variações em torno de algo que serve de base: a linha de uma canção que serve de tema, uma sequência de acordes, alguns intervalos melódicos, uma tonalidade.

As variações têm uma longa tradição na música clássica ocidental: grandes compositores escreveram ciclos de variações, explorando até o limite o potencial de seus temas. Na Renascença já era habitual tomar como tema uma canção popular e fazer variações sobre ela. Isto era chamado na Inglaterra de divisions on grounds e na Espanha de diferencias sobre bajos ostinados. Os instrumentistas, que freqüentemente eram também compositores, competiam entre si, cada um tentando sobrepujar os rivais em virtuosismo e engenhosidade.

Assim como as variações, a improvisação não é uma invenção moderna. Bach era um improvisador de mão-cheia (e improvisava fugas, sendo que a fuga é a forma mais estruturada e complexa de toda a música!). Se Bach tivesse nascido no século XX, sem dúvida seria um jazzman... Na Renascença já havia o costume de se apresentar peças de caráter improvisatório e de forma totalmente livre, denominadas fancies (em inglês) ou fantasias (em espanhol), nas quais o executante dava largas à sua imaginação. Muitas dessas fantasias e coleções de variações foram registradas em partitura, e assim podemos reviver e apreciar, depois de séculos, ainda que sem a espontaneidade do momento, as "jam sessions" de outrora.

Definir o swing é algo muito mais difícil. Trata-se de algo que engloba o fraseado, o ritmo, o ataque das notas. O swing não se escreve numa partitura, por mais detalhada e precisa que seja a sua notação. A definição dada por André Francis, em seu livro Jazz, é bastante interessante: "tocar com swing, swingar, significa trazer à execução de uma peça um certo estado rítmico que determine a sobreposição de uma tensão e de um relaxamento". Esta é a dialética do swing, por assim dizer: dar flexibilidade a um ritmo, dar "balanço" a uma frase, e contudo manter a precisão, preservar o foco da música, evitando que ela perca o caráter incisivo.

Podemos usar uma analogia sugerida por Charles Mingus para caracterizar o swing: vamos partir de uma música na qual os tempos estão precisamente definidos. Em seguida delimitamos um "halo", uma pequena região ao redor da posição original de cada nota: a nota, agora, pode cair em qualquer ponto dessa região, a critério do executante. A música como um todo, portanto, oscila caprichosamente dentro dessas regiões de "incerteza". É importante que o âmbito dessas pequenas regiões não ultrapasse aquele ponto no qual o ritmo deixa de ser swingado para se tornar impreciso. Como se determina esse ponto? Os bons músicos de jazz têm uma intuição desenvolvida a tal ponto que mantêm esse jogo de precisão e imprecisão perfeitamente sob controle, o tempo todo - e o resultado, todos nós conhecemos: o deleite de escutar uma interpretação cheia de swing.



All or Nothing at All
Billie Holiday, vocal;
Harry 'Sweets' Edison, trompete; Ben Webster, sax tenor; Jimmy Rowles, piano; Barney Kessel, guitarra; Joe Mondragon, contrabaixo; Alvin Stoller, bateria
(Verve, 1957)


Bitches Brew
Miles Davis, trompete;
Wayne Shorter, sax tenor; Bennie Maupin, clarone;
Chick Corea, Larry Young e Joe Zawinul, piano; John McLaughlin, guitarra; Harvey Brooks e Dave Holland, contrabaixo; Charles Alias, Jack DeJohnette e Lenny White, bateria;
Jim Riley, percussão
(Columbia, 1969)


Miles Ahead
Miles Davis, trompete;
Walter Bishop, Jr., Piano; Jimmy Cleveland, Trombone; Miles Davis, Trumpet, Flageolet, Flugelhorn; Philly Joe Jones, Drums; Wynton Kelly, Piano; Lee Konitz, Sax (Alto); John Lewis, Piano; Charles Mingus, Piano; Max Roach, Drums; Sonny Rollins, Sax (Tenor); Horace Silver, Piano; Art Taylor, Drums; Andre Hodeir, Liner Notes; Taft Jordan, Trumpet; Frank Rehak, Trombone; Ernie Royal, Trumpet; Joe Bennett & The Sparkletones, Trombone; Percy Heath, Bass; Willie Ruff, Horn, French Horn; Danny Bank, Clarinet (Bass); Billy Barber, Tuba; Art Blakey, Drums; James Buffington, Horn, French Horn; Eddie Caine, Clarinet, Flute; Johnny Carisi, Trumpet; Paul Chambers, Bass; Sid Cooper, Bass, Clarinet, Flute; Gil Evans, Arranger, Conductor, Director; Bernie Glow, Trumpet; Amy Herot, Series Coordinator; James Jordan, Trumpet; Tony Miranda, Horn, French Horn; Thomas Mitchell, Trombone, Trombone (Bass); Ray Moore, Digital Remixing; Louis Mucci, Trumpet; Charlie Parker, Sax (Tenor); Romeo Penque, Bass, Clarinet, Flute, Oboe.
(Columbia Records, 1957)
Birth of the Cool
Miles Davis, Trumpet, Arranger, Leader; Al Haig, Piano; Lee Konitz, Sax (Alto); John Lewis, Piano, Arranger; Gerry Mulligan, Arranger, Sax (Baritone), Liner Notes; Max Roach, Drums; Pete Rugolo, Producer; Al McKibbon, Bass; Billy Barber, Tuba; John Barber, Tuba; Nelson Boyd, Bass; Johnny Carisi, Arranger; Kenny Clarke, Drums; Junior Collins, French Horn; Michael Cuscuna, Reissue Producer; Gil Evans, Arranger; Rudy Van Gelder, Remastering; Kenny "Pancho" Hagood, Vocals; J.J. Johnson, Trombone; Gunther Schuller, French Horn, French Horn; Joe Shulman, Bass; Sandy Siegelstein, French Horn; Pete Welding, Liner Notes; Kai Winding, Trombone.
(Capitol Records, 1949)
Jaco Pastorious
Jaco Pastorious
Randy Brecker, Ron Tooley, trompete; Peter Graves, trombone baixo; Peter Gordon, french horn; Hubbard Laws, piccollo; Wayne Shorter, sax soprano; David Sanborn, sax alto; Michael Brecker, sax tenor; Howard Johnson, contrabaixo; Alex Darqui e Herbie Hancock, piano; Richard Davis, Homer Mensch, baixo; Bobby Oeconomy, Narada Michael Walden, Lenny White, bateria; Don Alias percussão; Othello Molineaux e Leroy Williams, steel drum, Sam e Dave, voz.
(Sony Jazz, 1976)

Giant Steps
John Coltrane, sax;
Tommy Flanagan, Wynton Kelly e Cedar Walton, piano; Paul Chambers, contrabaixo; Jimmy Cobb, Lex Humphries
e Art Taylor, bateria
(Atlantic, 1959)

Kind of Blue
Miles Davis, trompete;
Julian "Cannonball" Adderley, sax alto; John Coltrane,
sax tenor; Bill Evans (Wynton Kelly), piano; Paul Chambers, contrabaixo;
(Columbia, 1959)
Leia texto de capa de Bill Evans: "IMPROVISAÇÃO NO JAZZ"

A Love Supreme
John Coltrane, sax tenor;
McCoy Tyner, piano; Jimmy Garrison, contrabaixo;
Elvin Jones, bateria
(Impulse, 1965)

Mingus Ah Um
Charles Mingus, contrabaixo;
Willie Dennis e Jimmy Knepper, trombone; John Handy e Jackie McLean, sax alto; Booker Ervin, sax tenor; Pepper Adams, sax barítono; Horace Parlan e Mal Waldron, piano; Dannie Richmond, bateria
(Rhino/Atlantic, 1959)

Moanin'
Art Blakey, bateria;
Lee Morgan, trompete; Benny Golson, sax tenor;
Bobby Timmons, piano; Jymie Merritt, contrabaixo
(Blue Note, 1958)

Out to Lunch
Eric Dolphy, sax alto, clarone e flauta;
Freddie Hubbard, trompete; Bobby Hutcherson, vibrafone; Richard Davis, contrabaixo; Tony Williams, bateria
(Blue Note, 1964)

Pithecanthropus Erectus
Charles Mingus, contrabaixo;
Jackie McLean, sax alto; J. R. Monterose, sax tenor; Mal Waldron, piano; Willie Jones, bateria
(Atlantic, 1956)

Porgy and Bess
Miles Davis, trompete;
Gil Evans, aranjos; John Coles, Bernie Glow, Louis Mucci e Ernie Royal, trompete; Joseph Bennett, Jimmy Cleveland, Richard Hixon e Frank Rehak, trombone; Willie Ruff, Gunther Schuller e Julius Watkins, trompa; Bill Barber, tuba; Cannonball Adderley e Danny Bank, sax alto; Phil Bodner, Romeo Penque e Jerome Richardson, flauta; Paul Chambers, contrabaixo; Jimmy Cobb e Philly Joe Jones, bateria
(Columbia, 1958)

Return to Forever
Chick Corea, piano elétrico;
Joe Farrell, sax soprano e flauta; Stanley Clarke, contrabaixo; Airto Moreira, bateria e percussão; Flora Purim, voz e percussão
(ECM, 1972)

Schizophrenia
Wayne Shorter, sax tenor;
Curtis Fuller, trombone; James Spaulding, sax soprano,
sax alto e flauta; Herbie Hancock, piano; Ron Carter, contrabaixo; Joe Chambers, bateria
(Blue Note, 1967)

The Shape of Jazz to Come
Ornette Coleman, sax alto;
Don Cherry, pocket trumpet; Charlie Haden, contrabaixo; Billy Higgins, bateria
(Atlantic, 1960)

Sketches of Spain
Miles Davis, trompete;
Gil Evans, aranjos; John Coles, Bernie Glow, Taft Jordan, Louis Mucci e Ernie Royal, trompetes; Dick Hixon e Frank Rehak, trombones; John Barrows, Jimmy Buffington, Earl Chapin, Tony Miranda e Joe Singer, trompas; Bill Barber, tuba; Albert Block, Eddie Caine, Harold Feldman e Romeo Penque, sopros; Jack Knitzer, fagote; Danny Bank, clarone; Janet Putnam, harpa; Paul Chambers, contrabaixo; Jimmy Cobb e Elvin Jones, bateria
(Columbia, 1960)

Song for My Father
Horace Silver, piano;
Carmell Jones e Blue Mitchell, trompete; Joe Henderson e Junior Cook, sax tenor; Teddy Smith e Gene Taylor, contrabaixo; Roger Humphries e Roy Brooks, bateria
(Blue Note, 1964)

Songs for Distingué Lovers
Billie Holiday, vocal;
Harry 'Sweets' Edison, trompete; Ben Webster, sax tenor; Jimmy Rowles, piano; Barney Kessel, guitarra; Joe Mondragon, contrabaixo; Alvin Stoller e Larry Bunker, bateria
(Verve, 1956)

Standards, Vol.1
Keith Jarrett, piano;
Gary Peacock, contrabaixo; Jack DeJohnette, bateria
(ECM, 1983)

Three Quartets
Chick Corea, piano;
Eddie Gomez, contrabaixo; Steve Gadd, bateria;
Michael Brecker, sax tenor
(Stretch, 1981)

Time Out
Dave Brubeck, piano;
Paul Desmond, sax alto; Eugene Wright, contrabaixo;
Joe Morello, bateria
(Columbia, 1959)

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