quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um mundo descartável


Por Carol Ribeiro

– Veja como é prático: você usa e joga fora !!!

– Joga fora? Quando? Onde?

Lembro-me do comercial: “… jogar o lixo fora é jogar aqui dentro, dentro do nosso planeta”. Você tem alguma dúvida? Eu não. Tenho plena consciência do impacto do descarte, do destino clandestino dos dejetos, do trajeto do lixo deste mundo imundo que consumo. Pois bem, chegou a hora e a vez de pôr a mão na merda, sensação que toda mãe desavisada já experimentou algum dia. Chegou a hora de dar o sangue…

Vou começar fazendo uma sugestão simples. Se você está acostumado a levar seu cachorro para fazer necessidades na rua, com certeza leva um saquinho para recolher as fezes do animal, mesmo porque ninguém merece conviver com o cocô alheio. Beleza, você é um cidadão civilizado, eu sei. Fica a dica para que use saquinhos de papel, bem menos agressivos ao meio ambiente. Reúse os saquinhos de pão da padaria, são resistentes e muito úteis para esta segunda finalidade.

Imagine um saquinho que contribuiu com toda a cadeia alimentar, do início ao fim. Não se acanhe. Liberte-se das sacolinhas plásticas e mate dois coelhos numa cajadada só, sendo duplamente educado, com seu vizinho e com o seu tataraneto. Plásticos são derivados de gás e petróleo, demoram mais de cem anos para se desintegrar completamente. Evite as ditas sacolinhas até mesmo para os dejetos do seu cão.

Bem, a segunda etapa é um pouco mais complicada e inclui uma discussão a respeito das fraldas descartáveis. A fralda descartável surgiu no século passado, embora desde a pré-história o homem tente resolver a questão com o uso dos materiais mais inusitados: peles de animais, capim, areia, entre outros.

Foi a partir dos anos 1970, com a adoção da fibra celulose, que a fralda descartável se popularizou. Pareceria um retrocesso fazer apologia ao uso da fralda de pano atualmente; pois, além do desconforto para a mãe e para o bebê, o impacto gerado com o consumo de água, para limpeza, é equivalente. Mas nem tanto o céu, nem tanto a terra. Importante é saber que a cada dia temos mais soluções e, com isso, mais dilemas.

Na Inglaterra, na Holanda e no Canadá existem usinas que reciclam fraldas descartáveis, parte da matéria-prima é reaproveitada para fazer capacetes, entre outros objetos. Assim, esses países conseguem diminuir o impacto do descarte. Outros materiais, biodegradáveis, também estão disponíveis para o consumo, no primeiro mundo. Aqui no Brasil pouco se fala a respeito, mas tem gente preocupada. Como opção ecológica temos alguns modelitos feitos de pano que evitam o vazamento e podem ser utilizados durante o dia, intercalados com “pampers” nas situações adversas.

A partir de uma certa idade, as crianças devem ser estimuladas a deixar as fraldas, mesmo que custe para você acordar cedinho, e colocar imediatamente seu filhote pra fazer xixi na privada, ou contar longas histórias, ler um gibi, para que ele relaxe e faça o número dois no trono, sozinho.

Enfim, com alguma pesquisa e muita criatividade é possível reduzir o uso das fraldas descartáveis sem causar um transtorno na vida das pessoas. Se seu bebê aprendeu a andar e já começa a falar, nos dias quentes, no fim de semana, sempre que possível, deixe seu filho sem fralda por um tempo. Experiência e conhecimento andam de mãos dadas. É possível que o uso exagerado das fraldas descartáveis contribua para uma dependência cada vez maior e que, por isso, elas sejam usadas por mais tempo que o necessário. Embora apenas 30% das famílias brasileiras possam arcar com os custos das descartáveis devemos considerar o grande volume de lixo produzido, e tentar alguma redução.

Depois das fraldas, aproveito para tocar num ponto ainda mais delicado: os absorventes femininos. Outro dia, fazendo uma pesquisa, a matéria veio à tona: absorventes ecológicos. Tenho uma amiga que há tempos é adepta da “toalhinha”, hoje em dia mais moderna que a da vovó: absorventes de tecido, flanela ou algodão, laváveis e reutilizáveis. Devem ficar de molho por 24 horas e a água pode ser usada para fertilizar as plantas. Dá um certo trabalho, mas é uma alternativa para mulheres com alergias ou hipersensibilidade.

Outra alternativa disponível no mercado são os copos coletores. Importados do Canadá ou Inglaterra, são feitos de plástico cirúrgico e podem durar até dez anos. Já tinha ouvido falar e resolvi experimentar. Optei pelo Mooncup, marca inglesa, com distribuição no Brasil. Não é barato mas compensa no fim das contas. Meu estranhamento inicial se transformou em satisfação. Extremamente higiênicos, os coletores mantêm o fluxo retido, sem contato com o ar. É possível medir a quantidade a cada troca e ter uma relação mais íntima com esta faceta feminina que o mundo asséptico teima em reter nos gels cada vez mais potentes. Só posso dizer que não me preocupava muito com esse tema até que abracei a causa com todos os meus músculos, para me sentir, de fato, sempre livre.

Agora, se você não tem cachorros, não tem filhos, e não menstrua, não se preocupe: certamente existe algo que você descarta hoje e que não existia no tempo do seu avô. Que tal trocar seu barbeador por uma conversa fiada no barbeiro? Neste mundo descartável e confortável, vamos valorizar as relações humanas, adotar alternativas para diminuir a carga de resíduos sólidos que, inevitavelmente, acumulam-se para as próximas gerações. Experimente!

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