terça-feira, 29 de junho de 2010

Construção de personagens

“Não me proponho a exigir de meu herói coisas que ele não possa, de maneira racional, realizar. Deixarei que ele nade ao sabor da maré, sem que tenha de se esforçar numa luta contra a corrente da probabilidade. Sei que eu poderia manipular meus bonecos a meu bel-prazer, porque os fios estão em minhas mãos; sei que eu poderia fazê-los declamar como os heróis das tragédias, ou tagarelar como um bando de ciganos sob uma sebe; sei que eu poderia entretecer cuidadosamente minha fabulação, da mesma maneira com que os turcos fazem tapetes, sem levar em conta nenhuma verossimilhança, ou o parentesco com o quer que seja, da terra, do mar ou do ar; sei que poderia criar seres com que um escritor sóbrio jamais tenha sonhado e que um leitor refinado jamais tenha visto. [...]

Não estou certo se devo fazer com que meus personagens sejam tão felizes a ponto de satisfazer os leitores otimistas; sérios o bastante a ponto de satisfazer os sentimentais; ou bonitos o bastante a ponto de animar a imaginação do leitor mais entusiasta.”¹

O tema de discussão desta semana é a construção de personagens. Para dar suporte ao desenvolvimento do debate, são apresentadas as seguintes questões: O que torna um personagem marcante? O que o torna verossímil? Ele deve ser moldado para parecer real ou para agradar ao público a que se destina?

Mais especificamente para os escritores: Quando vocês escrevem suas histórias, desenvolvem os personagens antes ou durante a narrativa? As histórias se desenvolvem de acordo com os personagens ou são os personagens que se desenvolvem de acordo com a história? Eles são personagens "reais", com vontades e personalidades próprias ou são instrumentos que vocês usam para expor suas ideias?

Para um resultado satisfatório, é importante que os participantes desenvolvam a questão, trazendo conteúdo e opinando.


Opiniões...


1 - Eu acho que os personagens devem se adaptar à história, de acordo com o que ela exigir, e não apenas ao que o público quer ler.
Quando aos personagens de minhas histórias, essa com certeza é a maior dificuldade que tenho quando penso em escrever; até escolher os nomes pra mim é uma tarefa difícil. Geralmente, vou definindo a personalidade deles ao longo da história. Raramente antes de começar a escrever já tenho definida a personalidade de cada personagem.

2 - Comigo vem a mesma coisa, Renato.
A personalidade deles vem sendo descrita ao longo da minha história...
Mas, há histórias em que o autor deve saber a personalidade da pessoa, para depois fazer a história...
Exemplos: Histórias de Humor em Primeira Pessoa

3 - Acho que o personagen, como alguns ja disseram, vai sendo contruido no decorrer da historia. O leitor so vai tomar conhecimento da verdadeira personalidade do personagen a partir das decisoes que este tomar em determinadas situaçoes, o carater dele é definido a partir das decisoes feitas, assim como a propria historia.
Mesmo que o autor descreva sua personagen nos minimos detalhes, de sua aparencia à sua mentalidade, logo nas primeiras linhas, o leitor só levará o sério, só acreditará naquilo, depois de posto em prática. O personagen nao precisa simplesmente existir, ele precisa viver, para tornar-se alguem verdadeiro.
Não sei se consegui expressar direito, mas é isso, haha...

4 - Se querem minha humilde opinião, creio que nenhum personagem já nasce feito. De acordo com o rumo da história ele vai ganhando personalidade.

5 - Não li tudo ainda, depois leio e comento com mais calma. Agora vou só "jogar" algumas idéias.

Olha, correndo o risco de parecer piegas, acho que produzir um personagem é quase como um parto, e vê-lo crescer é criar um filho. Brega? Sei que sim. Mas é que penso que ele ganha vida própria e passa a "mandar" em quem o produz. Ou a se rebelar, querer ser diferente daquilo para o qual estava destinado. O personagem é um outro em nós e esse outro não pode ser totalmente contido, planejado, moldado para agradar um leitor ou outro.

Personagem tem que ter carisma. Se tem carisma, eu me apaixono até se ele estiver na novela das oito da globo. Agora, sobre como se produz esse carisma eu não sei bem. Em literatura eu me apaixonei por Amaranta, de Cem Anos de Solidão: ela era comovente em seus medos, inseguranças, rancores, era linda, linda, linda em sua feiúra! Então aparece um perigo aqui: seria identificação? Aquela coisa assim: uma moça, lembrando-se de suas próprias angústias e inseguranças, apaixona-se pela forma como essas fraquezas se tornam poéticas e fortes num texto bem escrito? Pode ser. É preciso imperfeição pra cativar. Penso isso. Na época da escola me punham para ler José de Alencar e eu nunca conseguia me apaixonar. Por nenhuma de suas viuvinhas tuberculosas que vendem o corpo pra fazer o bem. Nem pelos seus heróis. De herói masculino não penso agora em literatura, então recorro a uma série de TV: adoro o Desmond de Lost. É sexy de tão atormentado.
Então, em resumo: personagem tem vida própria e tem que escapar de seu criador pra ser interessante. E é imprescindível que seja imperfeito. Mas acho que esses dois pontos se resumem em um só: a imperfeição é uma coisa que escapa, e só quem escapa cativa.(e, pensando de forma maniqueísta, sempre gostei mais dos vilões, desde criança vendo desenhos animados!)

6 - Bom, acho que o escritor deve ter sempre muito mais conhecimento dos seus personagens que o leitor; e para isso é preciso que ele seja bem desenvolvido. Eu realmente não gosto de muitas descrições sobre os personagens, mas acho que eles devem ter algumas características bem marcadas.

Dos poucos contos que eu já escrevi, não desenvolvi nenhum dos personagens antes de começar a narrativa. Eu acabo pensando sempre na história em si e deixando a personalidade dos personagens de lado. Como são histórias mais curtas, até não tem dado muito problema, mas eu realmente não começaria um romance sem definir bem os personagens.
Acho que em uma história longa, é importante ter uma personalidade bem definida para os personagens, e, mais importante ainda, saber fazer com que ele se desenvolva de uma forma natural, e não forçada.
Nomes dos personagens também são uma complicação pra mim. Eu geralmente abro um listão de vestibular e vou escolhendo nomes e sobrenomes. fisch
Não sei quantos de vocês já jogaram RPG (de mesa, não online), mas é um exercício bem interessante, porque nas histórias de RPG, são os personagens que regem ativamente os acontecimentos da trama. Eu era viciado quando era mais novo (a Kmile até deu a ideia de escrever uma história com uma pessoa narrando e os demais interpretando os personagens. Se alguém se interessar, a gente pode ver no tópico de produções coletivas).

7 - Bom, para mim, meus personagens são criados no decorrer das histórias.
Eu procuro sempre, antes de começar a escrever, ter um esboço da história na cabeça. E esse esboço, para mim, é o início e uma versão do final. O "meio" vai sendo criado confome a história vai se desenrolando. E, com isso, muitas vezes acabo mudando o final original.
Com os personagens é a mesma coisa. Eles vão "nascendo" conforme a história vai precisando deles. E eles passam, para mim, a ter um tipo de "vida própria". Procuro criá-los com virtudes e defeitos, mas tento fazer com que os personagens decidam seus próprios caminhos. Isso pode soar um tanto quanto estranho, mas é assim mesmo.
Histórias e personagens estão intimamente ligados, mas ainda acho que a história precisa de mais elaboração. Não há personagem "bem criado" que salve uma história ruim. Uma história boa, entretanto, permite "sumir" com um personagem "ruim". Isso não quer dizer (e é muito importante frisar esse ponto) que não é necessário trabalhar os personagens.

8 - acho que meus personagens tbem vão nascendo no decorrer da história.
mas uma coisa que gosto muito de fazer é observar as pessoas, imaginar o que elas pensam, porque se vestem daquela maneira e ir contruindo personagens...
o trem que pego pro trabalho é uma fonte imensa de personagens rs
muitos dos meus personagens são inspirados em pessoas que conheço, amigos, primos, enfim...



http://www.portaldetonando.com.br/forum/disc-02-construcao-de-personagens-t11087.html

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