sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Dez anos de privatização das telecomunicações





A Privatização das Telecomunicações no Brasil está fazendo dez anos em 2008. Passada uma década, já é possível uma avaliação com algum distanciamento histórico, analisando de forma isenta, tanto quanto possível, os resultados, as motivações e as consequencias da venda da Telebrás.

Há dez anos, as Telecomunicações no Brasil eram monopólio da Telebrás. Pouca gente sabe, mas nossa estatal de Telecom não tinha a liberdade da Petrobrás, ou do Banco do Brasil ou da Vale do Rio Doce. Todos seus investimentos tinham de ser aprovados pela Secretaria de Controle das Estatais (SECON), do Ministério da Economia, e, pior ainda, pelo Congresso Nacional. O número de funcionários era controlado pela SECON, os investimentos, receitas e despesas. O Congresso Nacional nunca aprovava o valor de investimentos proposto pela Telebrás, cortando o montante para 1/3, até 1/4 da capacidade de investimento da empresa. O que não era usado em investimentos por decisão da SECON e do Congresso, ia para um “Fundão” destinado ao pagamento da dívida externa e dívida interna e a reduzir o déficit público.

O Governo FHC tinha duas alternativas: A primeira alternativa seria liberar a Telebrás para investir sua receita, aumentar o numero de linhas, melhorar o serviço, adotando os mesmos moldes da Petrobrás e da Vale.

A segunda alternativa seria vender a Telebrás e usar o dinheiro da venda para reforçar o caixa do Fundão para pagamento da dívida externa e redução do déficit publico.
A melhor alternativa para o setor, para os usuários e até para o país (mais uma vez, convém observar a importância estratégica hoje da Petrobrás e da Vale) seria seguir o modelo da Petrobrás.

FHC decidiu adotar a venda, mais prejudicial para o setor e para o usuário. Indicou para gerenciar a privatização seu amigo Sergio Motta, caixa da campanha de reeleição do Presidente. Esta indicação não é mera coincidência, e sim uma decisão presidencial de grande impacto. O Presidente indicou seu principal auxiliar, o mais íntimo, não para cuidar da Economia, (como foi o caso de Lula ao indicar Pallocci) ou do Banco Central, ou da Energia. Indicou-o para as Telecomunicações, especificamente para gerenciar a venda da Telebrás.

Aqui de novo duas alternativas se apresentavam: vender a empresa de forma pulverizada, em Bolsa de Valores, como o Governo Britânico vendeu a British Telecom, ou vendê-la a grupos fechados e mega investidores que manteriam o controle.

A pulverização do controle com a venda em Bolsa foi usada na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha, e proporciona um modelo de Gerência voltado para os usuários, empregando executivos profissionais, como fez com a Vale. Estranhamente, apesar de eficiente e funcional, o modelo da Vale não foi usado.

A Telebrás foi vendida a grupos fechados, privados nacionais e estrangeiros, que assumiram o controle das três Operadoras em que foi dividida a estatal. Uma operando em São Paulo, outra no Norte/Leste, e outra no Centro Oeste e Sul do País.
Toda a privatização, então, visou maximizar a receita do Governo Federal com a venda da Telebrás, sem considerações visando assegurar qualidade e atualidade do serviço de telecomunicações.

Vendemos a Telebrás a grupos estrangeiros, na ilusão de que iriam trazer dólares (na verdade seus investimentos são feitos com a receita local e com financiamentos do BNDES). Mais importante, as decisões estratégicas são tomadas não tendo em vista os interesses do mercado e do consumidor brasileiro, mas sim tendo em vista os interesses da matriz, em Madri, Roma, México, etc. No caso da Oi Telemar, as decisões estratégicas são tomadas com base no interesse da Andrade Gutierrez, do Grupo Jereissati, do Opportunity, do Garantia, dos Fundos de Pensão.
O interesse do público brasileiro fica em segundo plano.

O contato com o cliente foi terceirizado, para empresas de call-center subsidiarias das matrizes no exterior. Por exemplo, o dono da empresa de call-center da Telefonica, que atende todos os seus clientes, não é a Telefonica Brasil, é a Telefonica de España. Isto é evidentemente uma forma de prejudicar o pequeno acionista brasileiro, e de enviar divisas para a Espanha. O mesmo ocorre com a terceirização das outras operadoras, trata-se de uma forma de prejudicar o pequeno acionista em proveito dos grandes acionistas.

Alguém já viu alguma empresa aérea terceirizar aeromoças?
Ou terceirizar o atendimento no check-in?
O contato com o cliente é chamado “O momento da verdade” por Jan Carlzon, ex-presidente da SAS no seu livro de mesmo nome.
Cada contato de uma empresa com seu cliente é fundamental, é um momento único em que o cliente forma sua avaliação sobre a empresa.
A operadora mais respeitada no Reino Unido é a Virgin, de propriedade do Richard Branson (sofre de dislexia, e na infância pensavam que ele tinha baixa inteligência, hoje é Lorde e Bilionário).
A Virgin é uma MNVO (Mobile Network Virtual Operator), não tem equipamento algum, aluga minutos e tráfego das outras, mas tem seu próprio call-center, não terceiriza o contato com seu cliente de forma alguma – e é mais admirada do que suas concorrentes.

Voltando ao assunto, a forma correta, límpida, clara, honesta, de privatizar é como Margareth Thatcher fez. Privatizou a British Telecom pulverizando as ações em bolsa, então a BT hoje não é dominada por nenhum grupo privado, nem inglês nem de fora. Ela é de propriedade de seus milhares de acionistas, ou seja, do povo britânico.

Se olharmos para os Estados Unidos, o desmembramento da AT&T foi feito mantendo a pulverização em bolsa, e não entregando as Baby Bells a grandes grupos americanos. A BellSouth, Americel, ATT&T, Verizon, MCI, Sprint, TODAS têm seu controle pulverizado. Pertencem aos milhares de acionistas, e são administradas por profissionais, com base no interesse da empresa, dos funcionários, dos clientes, e claro dos acionistas.

Nossas operadoras são administradas unicamente com base no interesse dos grupos fechados de acionistas locais e estrangeiros. Por isso são campeãs de reclamações no PROCOM.
Finalmente, um ponto que é tabu, ninguém toca, ninguém lembra, é o desemprego imenso que se abateu sobre os profissionais do setor desde o início das privatizações. Segundo meus cálculos, entre 1999 e 2002 mais de 200.000 profissionais do setor foram dispensados, alguns para nunca mais conseguir se recolocar. Em termos percentuais esta é a maior taxa de desemprego “Neste País” se comparada a qualquer outro setor. Até hoje o número de desempregados continua a crescer, com a fusão de empresas, terceirização de atividades a preços reduzidos compulsoriamente, enxugamento das operadoras para reduzir custos e remunerar melhor os acionistas.

Mais um aspecto negativo e cruel da forma como foi feita a privatização. Com a próxima fusão da Oi com a BrT já se pode prever que milhares de profissionais perderão seus empregos, sem benefício algum para o usuário, com vantagem apenas para os grandes acionistas.
No caso da fusão Oi/BrT os primeiros a perder o emprego serão os executivos que por determinação do acionistas negociaram a fusão, e sua própria demissão – Ironia do Destino...
Em resumo, tentando fazer uma avaliação isenta, com enfoque histórico, olhando o mundo em volta, nos parece que o consumidor não foi mais beneficiado do que seria se a Telebrás tivesse sido simplesmente liberada para ser uma empresa eficiente e usar seu dinheiro de forma gerencial e autônoma.

Os empregados também não foram beneficiados.
Os acionistas minoritários também não.
Somente os grandes grupos, os políticos, e o Governo saiu ganhando.
Como a Nação não é o mesmo que o Governo, a Nação perdeu, o Governo ganhou.


Melhoria nos serviços?

Um argumento dos defensores da forma como foi feita a privatização é de que houve uma melhoria nos serviços.
A melhoria observada nos serviço de telecomunicações foi apenas quantitativa. Com a liberdade de investir utilizando a receita obtida no Brasil e com recursos do BNDES, as operadoras aumentaram muito a oferta de linhas, de internet, de serviços adicionais, etc.

Demitiram milhares de funcionários para reduzir custos, terceirizaram a operação, manutenção, instalação, não somente da rede, mas dos prédios, do atendimento, de tudo que foi possível. Ate os serviços de segurança são prestados por empresas de propriedade dos grupos controladores. Quando você liga para uma operadora de telecomunicações, não é atendido por um funcionário da empresa, e sim por um atendente de uma empresa de call-center que só faz o atendimento, cujos funcionários não tem a mínima idéia do que é o sistema de telecomunicações, enfim, que são treinados para se livrar do cliente o mais rápido possível, e não para “comprar o problema” do cliente e se esforçar para resolvê-lo.

Os preços pagos por esta terceirização foram impostos pelas operadoras privatizadas de forma “não discutível” (impondo aos seus fornecedores termos de negociação do tipo "ou aceitam o valor exigido ou não compramos mais de sua empresa”).
Em suma, as operadoras privatizadas forçam os fabricantes a assinarem contratos de terceirização da operação e manutenção de tal forma que o custo de operação e manutenção tem de ser inferior ao custo usando mão de obra própria. Se não fosse assim, não valeria a pena para a operadora, claro.

Por outro lado, a firma que é contratada para prestar os serviços terceirizados de operação e manutenção tem de arcar com custos e ainda ter lucro. Logo, para aceitar os baixos preços impostos pela operadora os fabricantes cortam a qualidade e a quantidade do nível de operação e manutenção. Usam menos gente, usam técnicos sem experiência, gerentes e executivos baratos e sem experiência, não mantém estoque de sobressalentes para cortar custos, não gastam em treinamento e capacitação, etc. Não tem nenhum compromisso com o usuário final, com valores empresariais de excelência de serviço. Serviços de baixo nível. Mas pior do que isso, não há uma unidade na prestação de serviços, já que uma empresa atende o call-center, outra faz os consertos, uma terceira cuida das centrais, uma quarta dos prédios, etc. Isto resulta numa colcha de retalhos gerencial, sem unidade, sem valores comuns, voltada apenas para minimizar os custos e maximizar os lucros.

Quando a terceirização é feita para uma subsidiaria da operadora, como é o caso da Atento, que presta serviços as Telefonica, alem dos problemas apontados, há outro – a empresa de call-center é subsidiaria da Matriz na Espanha, e não é ligada diretamente à operadora no Brasil. A Telefonica Brasil contrata a Atento, esta tem lucro, que é enviado para... sua Matriz, na Espanha, beneficiando os acionistas espanhóis. Vale enfatizar que a Telefonica tem seu controle pulverizado em bolsa. Ironias do mundo empresarial...
Com isso, os acionistas minoritários no Brasil são prejudicados. O mesmo ocorre com operadoras controladas por grupos nacionais, mas que criaram suas empresas de call-center dentro do mesmo espírito, como subsidiarias dos grupos de acionistas e não da operadora.

Por outro lado, a omissão da Anatel, desde sua criação, é responsável também por esta situação. Todos os meses as empresas de Telecomunicações têm de enviar para a ANATEL uma série de relatórios de qualidade, como por exemplo, o número de reclamações, número de defeitos, percentual de defeitos resolvidos em 24 horas, etc.

Praticamente todos os indicadores de qualidade da Anatel divulgados no seu site são inconfiáveis, já que a Anatel nunca faz uma Auditoria para verificar se os defeitos, as reclamações, interrupções, estão sendo devidamente registrados tanto no momento em que o cliente liga como no momento em que o técnico (Terceirizado) soluciona o defeito.

A Anatel não dá importância a estes indicadores. E as Operadoras continuam não-fiscalizadas, livres para abusar dos clientes e campeãs de reclamações nos PROCON.
Outro fator importante é a falsa idéia predominante nas operadoras celulares de que quanto mais usuários melhor para a empresa e, portanto para a sociedade. Isto é falso. Em primeiro lugar, porque uma operadora de telecomunicações não vende aparelhos – vende tempo. É semelhante a uma empresa aérea, que não vende aviões, vende assentos, que se não forem utilizados em um determinado vôo, são perdidos e nunca recuperados.

O mesmo ocorre com as telecomunicações. As operadoras investiram, para ter um conjunto de meios de comunicação, que se ficarem ociosos não geram receita. Quanto mais forem usados melhor. Então, calcular a participação de mercado de uma operadora com base no numero de usuários é falso. Para deixar claro, suponha-se que uma operadora tenha um milhão de usuários, que falem um minuto por dia. Isso totaliza um milhão de minutos que ela cobra dos usuários. Outra, no entanto, tem apenas meio milhão de usuários, mas que falam dez minutos por dia, o que dá um total de cinco milhões de minutos. Qual das duas detém maior fatia do mercado? A segunda, óbvio.

No entanto, o raciocínio obtuso das empresas busca apenas aumentar o numero de usuários, usando para isso o pré-pago, de baixíssima utilização, baixo consumo e conseqüentemente baixo ARPU (Average Revenue Per User, ou Receita Média Por Usuário). A primeira vista isso é bom para o consumidor de baixa renda, certo? Não. O que ocorre é que como as operadoras buscam apenas aumentar o numero de usuários, não conseguem uma receita suficiente para expandir suas redes de forma adequada, não conseguem investir em atendimento, em capacidade de trafego, e conseqüentemente seus serviços deterioram cada vez mais.

Passam a ter prejuízos constantes, os donos e acionistas, principalmente no exterior, determinam congelamento de investimentos, redução de pessoal, terceirização a custos mínimos através de empresas que empregam pessoal mal treinado, com equipes reduzidas, e tudo isso leva a uma constante deterioração do serviço, e aumento da insatisfação do cliente. O beneficio ao usuário de baixa renda é ilusório, já que ele paga por um serviço que não recebe. É mal atendido, suas ligações caem com freqüência, não consegue falar em vastas zonas onde não há cobertura, e o sistema cria um circulo vicioso e cruel de prejuízo para as empresas e mau serviço para os clientes.


Atuação da Anatel

Com a privatização e a Lei Geral de Telecomunicações foi criada a Anatel, para ser o orgão regulador e responsável pelo sucesso da privatização e a implantação da competição. Cabe à Anatel também proteger o consumidor e assegurar que haja um equilíbrio entre o poder das Operadoras e o publico consumidor.

A Anatel desde sua criação não cumpriu seu papel. No governo do PSDB, sob a tutela de Sergio Motta, foi coadjuvante das políticas de venda da Telebrás e maximização da receita da venda para o governo federal. Preocupava-se com implantar uma competição “por decreto”. Achava que bastava legiferar normas que a competição ocorreria. A Anatel nunca assumiu o papel político de coordenadora da competição, limitava-se a emitir normas.
Nunca ocorreu aos executivos da Anatel ou ao Ministério das Comunicações, durante o governo FHC utilizar a força que tinham para resolver os conflitos entre os acionistas da Vésper, ou entre os acionistas da Brasil Telecom, de simplificar a escolha da operadora de longa distancia adotando o modelo americano em que o cliente escolhe uma operadora e muda a qualquer instante, mas fica livre da discagem incomoda de 13 dígitos que temos no Brasil.

A Anatel não faz auditorias em nenhuma operadora, acredita ingenuamente nos dados de qualidade que lhe são passados, e que nem sempre correspondem à realidade.
Desde sua criação, sempre adotou um papel passivo em relação às operadoras. Não está presente fisicamente nas empresas. Não fiscaliza, não atua, não aparece.
No governo do PT, alem dessa passividade, a Anatel é totalmente subserviente ao Governo Federal e aos interesses do Partido dos Trabalhadores, servindo não à sociedade, mas a um partido e seus dirigentes.



A competição na telefonia fixa através das empresas espelho

O fracasso da competição através das empresas espelho tem duas causas principais. A primeira é estrutural, observada em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde se buscou implantar a competição de forma mais intensa. A outra razão é de ordem política.
Do ponto de vista estrutural, está comprovado que em sistemas de altíssimo valor de investimento na rede, como é o caso das telecomunicações, da distribuição de energia elétrica, dos gás encanado, serviço de água e esgotos, o montante necessário para construir uma rede é tão alto que é impossível um concorrente recém-chegado conseguir ter uma rede de dimensões semelhantes, que lhe permita concorrer, e ainda ter lucro.

Observe-se que não é viável e não existe competição na distribuição de energia elétrica, na distribuição de água e esgotos, de gás encanado, etc. Não é mera coincidência. A competição real simplesmente não é economicamente viável.

No setor de telecomunicações, a ganância dos governos em receber altíssimas somas com a venda de licenças iludiu tanto os técnicos dos órgãos reguladores como os próprios investidores.
A causa de natureza política se deve à inação da Anatel. Se esta tivesse sido atuante e politicamente presente, uma dose limitada de competição teria sido alcançada. Mas a Anatel, que deveria ter sido atuante junto aos grupos que investiram nas operadoras espelho, foi totalmente omissa.

A Vésper, por exemplo, tinha como acionistas a Bell Canada, a Velocom, e a Quallcom. Cada um destes grupos com uma agenda diferente – a BellCanada interessada em vender equipamentos da Nortel, a Velocom em valorizar a empresa rapidamente para vender sua parte com alto lucro, a Quallcom em implantar sua tecnologia celular, o CDMA. Estes três grupos com interesses tão conflitantes como era de se esperar chegaram a um conflito aberto, a BellCanada decidiu parar de investir, a Velocom não teve fôlego para prosseguir, e a empresa entrou em colapso e em paralisia.

Se a Anatel tivesse atuado de forma política junto a esses grupos, forçando-os a colocar o sucesso da empresa em primeiro lugar, aplicando uma pressão política válida nestes casos, em defesa da economia brasileira e do usuário, provavelmente a Vésper ainda seria competitiva. Ao comprar a licença de operação, a Vésper havia se comprometido com a cobertura de um numero determinado de municípios para 1999, 2000 e 2001.

Comprometera-se também com um número de linhas especifico para cada um desses municípios. Quando os acionistas começaram a se hostilizar, a Anatel não somente nada fez para pressioná-los a uma solução de governança corporativa que salvasse a empresa, mas, pior ainda, não exigiu o cumprimento das metas definidas para 2001. Repetindo, essas metas haviam sido determinantes na vitoria do grupo para a obtenção das licenças.
A segundo espelho, a GVT, operando na área da Brasil Telecom, tinha apenas um grupo de acionistas, israelenses, e com isso não sofreu impacto de briga de acionistas. Alem disso, seus proprietários foram mais realistas, reconhecendo a inviabilidade de uma competição total, e aceitando que é possível a competição em nichos.

A terceira, a Intelig, destinada a competir com a Embratel, inicialmente adotou uma estratégia de concorrência no varejo, mas após três anos verificou-se a impossibilidade de uma empresa recém-chegada conseguir competir com uma já estabelecida e com uma rede imensa instalada e, principalmente, já amortizada.

A Anatel teve outra grande, imensa falha responsável pelo fracasso das empresas espelho. Adotou teimosamente um modelo único no mundo e que ao tentar incentivar a competição, na verdade, por inexperiência operacional da Anatel e miopia gerencial, agravou as condições de sobrevivência das espelho. A Anatel decidiu que a cada chamada interurbana realizada o cliente seria obrigado a escolher a operadora que faria a chamada. Em nenhum país do mundo este modelo é usado.

Nos Estados Unidos o cliente escolhe uma operadora, e passa a fazer todas suas chamadas interurbanas através dela. Com isso, não é necessário discar o código de operadora a cada chamada. Imagine-se os milhões de minutos economizados com esse processo, ao longo do ano, com bilhões de chamadas sendo realizadas. Mas o mais importante é que com o sistema americano, as espelho teriam uma chance. Poderiam conquistar clientes que utilizariam suas redes de forma contínua. Quanto à competição, os americanos, como sempre, a preservaram.

Nos Estados Unidos, apesar de ter uma operadora permanente para suas chamadas, simplificando a vida do cliente, este pode mudar de operadora a qualquer instante. Se for cliente da AT&T e não estiver satisfeito, e desejar mudar para a BellSouth, basta ligar para a BellSouth e dizer que quer ser seu cliente. Sob a eficaz fiscalização do FCC, as próprias operadoras se encarregam de fazer a mudança em poucas horas. Poucas Horas.

Assim, a burocrática decisão da Anatel, em 1998, der implantar um sistema de discagem de interurbanos que obriga o usuário a discar 13 dígitos, só favoreceu as operadoras fixas já existentes, que se beneficiam da comodidade para o usuário de receber uma única conta, da telefonia fixa e das ligações interurbanas. Suponha-se que um usuário decidisse realmente utilizar a “facilidade” de escolha de uma operadora interurbana a cada chamada. No final do mês receberia talvez meia dúzia de contas, algumas com valores ínfimos, de três, ou quatro Reais, outras de 12 Reais, e assim por diante, dependendo de suas escolhas na hora de realizar cada chamada.

Fica evidente que esse é um modelo absolutamente inviável e do ponto de vista empresarial impossível de funcionar, já que grande parte das contas custam mais para ser emitidas, impressas e enviadas pelo correio do que o valor a ser recebido pelo valor da conta.
Como se vê, a Anatel desde o início estava perdida.


A competição no celular

Nos Estados Unidos, a ânsia por promover a competição levou à concessão de quatro, ou cinco licenças para operadoras celulares em varias cidades. No Brasil também (além da ganância do governo federal em arrecadar o Maximo com o leilão das licenças). O que ocorre é uma super-competição, direcionada para preços menores e aumento do numero de usuários.
Preços menores, aparelhos subsidiados, aumento da base de usuários com base em clientes de baixo uso, baixo trafego e pré-pagos, levam a prejuízos cada vez maiores. Que por sua vez conduzem a menores investimentos, deterioração da rede e dos serviços, e insatisfação do publico. Nos Estados Unidos esta situação existe, grandes operadoras, como a Sprint-Nextel estão cada vez mais com altos prejuízos, ações na bolsa de Nova York despencando, e sem perspectivas imediatas de solução.

Tudo graças ao excesso de competição. Esta é necessária, mas o órgão regulador (FCC ou a Anatel) deveria ter o bom senso de manter o numero de concorrentes dentro de um numero que permita que o mercado proporcione lucros as empresas – caso contrario o modelo não funciona.


A fusão Brasil Telecom – Oi

A fusão da Brasil Telecom com a Oi só beneficiará o Governo e a Andrade Gutierrez, o grupo Jereissati, o Opportunity de Daniel Dantas e o Garantia Investimentos (GP), acionistas controladores da Oi e da BrT. O Governo do PT será beneficiado por garantir, através dos Fundos de Pensão e do BNDES, uma participação na governança da nova empresa, que permitirá o loteamento de cargos para a campanha presidencial de 2010. O PT está ansioso na realização do negocio porque terá uma “semi-estatal” controlada pelo Partido, sem os aborrecimentos de ter ações em bolsa e de prestar contas ao publico e aos pequenos acionistas.

É de todo provável que tal como o PT tem feito com as outras estatais, utilize a nova empresa para beneficiar fornecedores e subcontratados que contribuem para o caixa do partido. É uma forma de reforçar os recursos para vencer a próxima eleição presidencial. Já os grupos privados, ganham com a valorização de sua participação na nova empresa, ganham ao forçar a operadora a contratar como terceirizados empresas subsidiarias da Andrade Gutierrez e do grupo Jereissati, e o Opportunity e Garantia ganham com a valorização de seu investimento inicial. Investiram poucos milhões de dólares e saem recebendo centenas de milhões.
Quanto ao público, à economia, estes perdem. Uma regra imutável e básica da economia é que quanto mais empresas concorrendo, melhor para o usuário, e quanto menos empresas, pior para ele, já que na situação extrema, de um monopólio privado, ninguém controla o poder da empresa monopolista.



E afinal?

Em resumo, a privatização da forma como foi feita pelo governo Fernando Henrique, pelo ministro Sergio Motta e pela Anatel, não apresenta um balanço positivo.

Em lugar de privatizar a Telebrás, o governo FHC deveria ter liberado a Telebrás para investir, crescer, funcionar como uma empresa privada, voltada para seus clientes, seus investidores, seus funcionários e para a sociedade. Preferiu adotar uma solução de fazer caixa para o Estado, com prejuízo para a Nação e a sociedade. Hoje nossas operadoras seguem diretrizes e decisões tomadas em Madri, na Cidade do México, em Roma, em Lisboa, etc. É importante frisar que como multinacionais com foco para aumentar o lucro na Matriz e criar empregos na Matriz, essas multinacionais não estão sendo “más” ou prejudicando propositalmente o Brasil. Empresas não têm ideologia. Fazem o que for necessário para crescer, lucrar e criar empregos – nas suas Matrizes.

Cabe ao Brasil adotar políticas e posturas para defender seus interesses, seus empregos, e a manutenção dos lucros no país.
Está na hora de realmente repensar o modelo de propriedade das Telecomunicações no Brasil. Fica evidente pelo desastre com a Internet da Telefonica que a propriedade de uma Operadora de grande porte não pode ser localizada no exterior – a Espanha não permite isso, todo o poder de decisão da Telefonica de España está em Madri. Porque então nós no Brasil aceitamos que as compras, a política de atendimento, a desastrosa terceirização de serviços, tudo isso seja decidido fora do Brasil, e tendo em vista os interesses dos acionistas espanhóis?
O Brasil, pasmem, é a única Grande Economia onde a propriedade das operadoras não é pulverizada em bolsa. Na Espanha, Portugal, Inglaterra, Alemanha, as Operadoras não pertencem a um grupo financeiro dominante, e sim ao público em geral, com ações negociadas em bolsa e sem que qualquer grande grupo detenha seu controle. Isto assegura uma gerência profissional e menos afetada por falsas economias feitas para beneficiar o grupo financeiro dominante em detrimento dos usuários e até dos acionistas minoritários.

Para pensar: Atualmente a Petrobrás é mais bem administrada do que a Telefonica, do que a Oi e a Brasil Telecom. Isto é um fato. Mesmo com o governo sendo grande acionista da Petrobrás, ela investe pesado no Brasil, atua lá fora com liberdade, mantém empregos, busca qualidade porque está em um ambiente competitivo.

Sugerimos a “Nacionalização” das Operadoras – não confundir com estatização. Defendemos que o centro de decisão seja no Brasil e não no México, Espanha, Portugal, Estados Unidos, etc. O Governo Brasileiro poderia adotar um modelo semelhante ao da Petrobrás e do Banco do Brasil, que já mostrou ser um meio termo entre empresa Estatal e empresa totalmente privada. É um bom equilíbrio o que foi alcançado com estas empresas. Devemos refletir sobre ele e lutar para sua implantação no setor de Telecom.

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