Primeiro Capítulo
“A gente se sente assim como se fosse um passarinho dentro de uma gaiola. Você vê as nossas crianças falando nossa linguá, eles cantam, o nossa pajé, ele tem o canto da religião, então, esse canto é pra nossa sobrevivência. Até o passarinho que tá dentro da gaiola, quando ele canta a gente não sabe se ele tá cantando, se tá chorando, se ele ta pedindo socorro, mas o dono desse passarinho ele fica contente quando esse passarinho se movimenta, ele não sabe se ele ta alegre ou não. O nosso som é de uma pelo que eu faço, não é de alegria”.
“Amar é lo, amar é la, amarelo”...
“Amar ela em amarelo”....
- Ela gosta da cor amarela... Dá pra saber muito sobre uma pessoa quando se sabe a sua cor favorita. Ela nunca vai saber que fui quem deixou aquela flor sobre sua mesa. Foi encantadora a reação dela quando viu a flor. Ficou em silêncio... Olhava rostinho por rostinho tentando desvendar quem era, mas nada perguntou. Parecia que esperava alguém manifestar-se, mas ninguém se manifestou, era primavera, e a flor mais parecia uma decoração feita por ela mesma. No dia seguinte, cheguei mais sedo na escola, a primeira aula era aula dela. Deixei dessa vez uma poesia estampada na lousa, usei giz amarelo. E mais uma vez a reação dela foi encantadora... Dessa vez pude entender profundamente seu silêncio... E tudo tornou-se magia no pó de giz que aparecia no apagar das palavras na lousa...
Copo d'agua
Da chuva que colhi
Praquela flor que você tanto gostou
Meu amor, dentro dela, desabrochou...
Calado, camuflado é o meu amor
Vou te da-la...
Bem me quer, Mal me quer,
Mal me quer, Bem me quer...
Aquela pétala que você arrancou
Que carrega a sua favorita cor
Foi com ela, parte, do meu amor
Calado, camuflado é o meu amor...
Bem me quer, Mal me quer,
Mal me quer, Bem me quer...
Depoimento do índio guarani Alizio. A transcrição foi retirada do documentário produzido por Aline Reis: "Encantos Urbanos à Margem da Memória" acoplado no final do livro.
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