segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Projeto Homens ao Mar.


Título provisório:
Injunções Socioeconômicas na Obra Estética: Projeto Homens ao Mar.
Pesquisa prático-teórica
Orientador: Alexandre Luiz Mate
Orientando: Roberto Carlos Leite


Introdução

A idéia deste estudo foi gestada ao longo do processo de produção, criação e apresentações dos espetáculos que compõem o Projeto Homens ao Mar, desenvolvido de 2004 a 2009. Como um dos responsáveis pela idealização e elaboração de todo o projeto ao lado de André Garolli e Lúcia Gayotto, inicialmente, e de outros integrantes do projeto, na sequência, e tendo atuado artisticamente como ator e pedagogicamente como treinador, acredito que uma reflexão desta trajetória, tomando como ponto de partida os objetos estéticos produzidos, possa suscitar uma reflexão sobre os fundamentos artísticos e condições de trabalho que geraram os três espetáculos criados ao longo do período: Cardiff, Zona de Guerra e Longa Viagem de Volta para Casa.
O Projeto Homens ao Mar tinha como objetivo principal a montagem de quatro textos de Eugene O´Neill, escritos do início de sua carreira. Apenas Luar sobre o Caribe não alcançou montagem profissional, ficando circunscrito a um estudo estético realizado em 2003, apresentado na Oficina Oswald de Andrade, momento em que se encontraram André Garolli, Lúcia Gayotto e Roberto Leite. Fascinados pela potência imagética do universo dos marinheiros das quatro peças selecionadas, os três resolveram viabilizar sua produção.
Dentre os objetivos principais do Projeto original, destaco três, como recorte para o presente estudo:
1.Pesquisar a atuação coral, a partir de uma abordagem teatralista dos textos;
2.Sondar as imbricações que o realismo da juventude de Eugene O´Neill tinha com o expressionismo e com a tragédia.
3.Abrir a pesquisa para a descoberta em processo do espaço da cena e do tipo de relação dos atores com este espaço e o público.

Idealizado o projeto, outros atores foram convidados para a constituição de um núcleo artístico que seria a base do elenco para um trabalho de longo prazo. Optou-se por convidar atores que haviam participado de Luar sobre o Caribe e da primeira versão de Rumo a Cardiff, montada com atores profissionais e amadores, como resultado de atividades de contrapartida social ao projeto do Grupo TAPA aprovado pela Lei de Fomento do município de São Paulo e mais três atores escalados para a primeira montagem do projeto: Zona de Guerra. A Cia Triptal, da qual André Garolli fora um de seus fundadores, foi convidada para juntar-se ao Projeto Homens ao Mar e iniciamos a longa viagem pelos mares de O´Neill, sem sabermos ao certo a que portos chegaríamos.
Muitas tempestades, calmarias, portos, bares, idas, vindas e naufrágios, no meio do caminho. Minha trajetória neste trabalho, da idéia inicial a sua finalização, foi riquíssima, porém meu grande desejo sempre fora atuar nos espetáculos como ator, o que alcancei. Agora o ator passa o leme ao pesquisador para um exercício de olhar em retrospectiva, não buscando tecer um relatório de viagem apenas, mas para empreender um novo mergulho em busca de sentidos gerados entre as metas iniciais e os resultados alcançados.

Objetivo
Investigar as formas de produção que possibilitaram a materialização de idéias presentes no projeto original, os pressupostos artísticos iniciais e as condições materiais encontradas para que o coletivo humano se organizasse para uma pesquisa de linguagem aprofundada.
O cerne da pesquisa resume-se na seguinte questão:
Em que medida as condições socioeconômicas contigenciam a obra estética?


Problemática
As leis de incentivo à cultura constituídas nos últimos anos proporcionam cá e lá uma continuidade de pesquisa a coletivos teatrais. No entanto, a exigüidade de recursos e o pequeno público que freqüenta nossos teatros não permitem, muitas vezes, que o fazedor de teatro concentre suas energias em seu ofício, sendo obrigado a exercer funções múltiplas no dia-a-dia para manter-se vinculado à profissão. Exercício de paixão ou necessidade vital? Cabe indagar por que tantos artistas de teatro vêem-se compelidos a retirar o seu sustento de atividades paralelas e não do próprio trabalho no teatro.
O Projeto Homens ao Mar obteve recursos de diversas leis de incentivo, mas nem por isso permitiu uma continuidade de vinculação remunerada fora dos períodos de treinamento ou apresentações. Para viabilizar a consecução do projeto, alguns integrantes do projeto tiveram uma atuação múltipla, exercendo diversas funções do empreendimento teatral.
Esse desdobramento, remunerado simbolicamente, deu sustentabilidade ao plano inicial, permitindo a constituição de uma prática onde proposições pedagógicas puderam ser implementadas. Economizou-se dinheiro para treinamentos sistemáticos durante todo o processo, que tinham um duplo objetivo:
1. Constituir vocabulário e repertório comuns a atores com trajetórias pessoais e artísticas diferenciadas;
2. Desenvolvimento coletivo de recursos voltados para cada uma das encenações.
Finalizado o projeto, que teve um alcance amplo, percorrendo as diversas regiões da cidade São Paulo e interior, Festivais de Suzano, Curitiba, Londrina, São José do Rio Preto, pequenas temporadas no Rio de janeiro e Brasília, finalizando com a apresentação dos três espetáculos em Chicago, Estados Unidos, cabe refletir sobre o porquê dos integrantes deste coletivo, encontrarem-se novamente tateando novos projetos. O coletivo renasce como o teatro ou fica apenas o nome, a chancela e os registros de uma experiência?
Como desdobramento de tal questão, cabe refletir também sobre o que é fazer teatro no Brasil no que se refere à multiplicidade que caracteriza o fazedor de teatro. A contraposição desta realidade à do teatro norte americano, onde as funções são rigidamente delimitadas e à qual tivemos que nos adequar durante três semanas de temporada, remete-nos a outras investigações. Nosso jeito de fazer teatro, muitas vezes precário e pobre de recursos materiais, constituiria um terreno propício ao desenvolvimento de capacidades criativas diferenciadas, revelando-se na forma estética de nosso teatro?

Metodologia
Este estudo será dividido em quatro partes:
- A primeira será uma introdução descritiva sobre o Projeto Homens ao Mar; sua idealização e trajetória histórica, por meio de pesquisa de todo o material escrito pela Companhia, críticas publicadas e entrevistas com seus realizadores e colaboradores.
- A segunda, um estudo e reflexão acerca dos meios de produção disponíveis para a produção teatral de um teatro de pesquisa que não parta de um atendimento a expectativas de mercado. Isso se fará por meio de uma pesquisa das leis de incentivo municipais, estaduais e federais e entrevistas com o coletivo de artistas. Realizar-se-á também, o apontamento de outros meios e parcerias alcançadas para a consecução do projeto.
- A terceira fará um recuo para investigar como as relações internas do coletivo teatral se estruturaram para dar conta da gerência de recursos de produção e até que ponto o trabalho artístico e administrativo se imbricaram.
- A quarta investigará as proposições iniciais de experimentação espacial diferenciada para cada um dos espetáculos e o imbricamento de pesquisas sobre a tragédia e expressionismo como aporte de procedimentos não realistas a textos realistas. Apontará o alcance de tais proposições e como elas se estruturaram ou não enquanto linguagem.
- A quinta parte será uma análise sobre a experiência da equipe durante o período em que apresentou os três espetáculos em Chicago. Por meio de uma análise dialética, quero sondar o que o olhar estrangeiro é capaz de revelar tanto de nosso fazer teatral quanto do teatro americano observado.
- A sexta parte será a conclusão do trabalho; qual a relevância de um processo de pesquisa continuada para a criação de uma poética cênica?
- A sétima e última parte será constituída por um registro visual amplo, por meio de fotos de processo e apresentações, onde as questões e análises desenvolvidas durante o texto poderão ser balizadas para uma melhor compreensão da análise crítica dos traços estéticos escolhidos.

Para a realização deste trabalho, além do material documental, áudio-visual, jornais, mídia eletrônica e entrevistas, farei uma análise da bibliografia para aprofundar, fundamentar, relacionar, questionar e problematizar as questões suscitadas ao longo da pesquisa. Para além do suporte material, contarei com o aporte de depoimentos de integrantes do projeto, de parceiros e críticos que de alguma forma, como colaboradores ou espectadores mantiveram contato com a obra viva.

Cronograma para 2009


Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Leitura de textos

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Coleta de informações: entrevistas com integrantes do projeto


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Redação da primeira, segunda e terceira partes da monografia



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Redação da quarta, quinta e sexta partes da monografia e estruturação da sétima parte






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Revisão










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Referencial teórico
BENTLEY, Eric. A Experiência Viva do Teatro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
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BORNHEIM, Gerd. Brecht, A Estética do Teatro. São Paulo: Edições Graal, 1992
BROOK, Peter. O Espaço Vazio. Lisboa: Orfeu Negro, 2008.
CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro. São Paulo: Editora UNESP.
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LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
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ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. São Paulo: Perspectiva, 1985.
ROUBINE, Jean-Jacques. Introdução às Grandes Teorias do Teatro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
RYNGAERT, Jean Pierre. Introdução à Análise do Teatro. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SZONDI, Peter. Teoria do Drama Moderno. São Paulo: Cosac Naify, 2001.
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VALLIN, Béatrice Picon. A Arte do Teatro: Entre Tradição e Vanguarda –Meyerhold e a Cena Contemporânea. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2006.

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