Aqüífero Guarani: a disputa pelo ouro azul
Por Nancy E., do Uruguai 28/07/2004 às 00:44
A água potável é um dos recursos naturais que faz o tio Sam crescer seus olhos sobre a América Latina.
A suposta atividade de grupos terroristas na Triplíce Fronteira, que une Argentina, Brasil e Paraguai, tem sido o pretexto dos EUA para incrementar sua presença militar na região e cumprir seu verdadeiro objetivo: apoderar-se silenciosamente do Aqüífero Guarani, a reserva de água mais importante do mundo, situada nos três países sul-americanos. Segundo especialistas, o aqüífero poderia produzir 40 quilômetros cúbicos de água, ou seja, 40 bilhões de litros por ano. Seria o suficiente para abastecer, separadamente, a população que vive na região e satisfazer o consumo da população norte-americana.
Por isso, nos últimos meses, os EUA insistiram que existem bases de organizações como Hamas, Hezbollah e Al Qaeda na zona da Triplíce Fronteira.
Segundo dados oficiais, a zona tem uma população de 470 mil habitantes, divididos da seguinte maneira: 30 mil em Porto Iguaçu, na Argentina; 270 mil em Foz do Iguaçu, no Brasil; e 170 mil em Ciudad Del Este, no Paraguai.
Em Ciudad Del Este e Foz do Iguaçu existe uma importante comunidade sírio-libanesa dedicada ao comércio. A atividade mais importante nessas duas cidades é o turismo. Já em Ciudad Del Este, a atividade é o contrabando, organizado e controlado pelo poder político-militar.
Por que esta zona adquire tanta importância para os EUA? O recurso estratégico mais importante para eles, atualmente, é o petróleo e seus derivados. Para assegurar seu abastecimento a preços convenientes, sob o pretexto do controle do terrorismo internacional e do narcotráfico, têm tentado estabelecer o controle político-militar de importantes jazidas, sobretudo na Ásia Menor e na América Latina. Por isso, não tiveram dúvidas em invadir o Afeganistão e o Iraque.
Nas Américas, os EUA agem no México, utilizando o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) como instrumento de submissão e dependência, e sobre a Venezuela, organizando um falido golpe de Estado e outras ameaças, com o objetivo de não prejudicar seu controle sobre o petróleo.
De olho na água
Entretanto, outros recursos naturais têm começaram a assumir valor estratégico para um futuro próximo. Nos últimos tempos, tem sido significativa a importância da água potável como recurso escasso para os anos vindouros e fundamental para a sobrevivência da humanidade. Quem a controlar, controlará a economia mundial e a vida no futuro, não tão longínquo.
Não foi à toa que os EUA, mediante o Plano Amazônia, ameaçaram se estabelecer na região para controlar as reservas de água. Utilizaram argumentos como a importância de controlar o movimento do povo yanomami, que reinvidicava importantes áreas do território brasileiro. Mais adiante, tentaram estabelecer-se militarmente na base de Alcântara, no Maranhão.
As tentativas dos EUA de se estabelecerem na Venezuela não obtiveram êxito. No entanto, com o pretexto de combater o narcotráfico, vêm conseguindo implantar-se militarmente na região sul-americana, com o Plano Colômbia. Ainda há tentativas de implantação militar imperialista em Manta, no Equador e em outros países.
Todo esse projeto se complementa com o plano da Alca, uma pseudoaliança das débeis economias latino-americanas com o poder das corporações e do governo norte-americano.
O controle militar
Por isso, o interesse militar norte-americano na Triplíce Fronteira revela que existe uma jazida colossal de água potável, a mais importante do mundo: o Aqüífero Guarani.
Os EUA estruturam um sistema para detectar a magnitude do Aqüífero Guarani, assegurar seu uso de maneira ?sustentável? e evitar todo tipo de contaminação. O Banco Mundial, a Organização dos Estados Americanos, organizações alemãs e holandesas e controladas pelos EUA e acadêmicos dos países envolvidos estão à frente dessa investigação. Já foram destinados cerca de 26 milhões de dólares no projeto.
Caridade gringa?
Cabem as perguntas: Por que os governos da região renunciaram a autonomia do projeto? Que significa ?desenvolvimento sustentável? para os países imperialistas e para os que não pertencem a este grupo? A quem obedecem e respondem os organismos internacionais que intervêm no projeto? Desde quando os EUA nutrem sentimentos altruístas, solidários e humanitários?
A inoperância e atitude dos governos locais, atentos exclusivamente a seus interesses particulares e não aos nacionais, têm favorecido ao incessante avanço dos EUA e colocado em perigo a soberania dos países do Aqüífero do Guarani e de toda a região.
Diante das cifras, não cabe mais a surpresa e, agora, tudo tende a justificar-se: a inusitada presença de efetivos militares norte-americanos na região; a proliferação de embates, sempre falsos, de ações de terrorismo internacional desde a Triplíce Fronteira; as infundadas suspeitas sobre a comunidade árabe na região; os contínuos exercícios combinados das forças militares da imperialismo norte-americano nas regiões sob pretextos absurdos.
Continuamente, vem se falando da necessidade e da possibilidade de ser instalada uma base militar dos EUA na província das Missões, na Argentina, a fim de controlar tão temidos terroristas. Os preparativos avançam com receptividade do Ministério de Defesa argentino e o apoio de setores militares, que facilitam as fases prévias das instalações. São os mesmos setores que sonham que a presença ianque lhes permitirá repetir a epopéia da guerra contra a subversão, só que, agora, tendo comerciantes sírio-libaneses.
A presença dos Estados Unidos
O filme argentino Sed, Invasión Gota a Gota ("Sede, Invasão Gota a Gota"), dirigido por Mausi Martínez mostra - na visão de seu autor - como o exército dos Estados Unidos da América vagarosamente, mas com regularidade, teria aumentado sua presença na Tríplice Fronteira (a área entre as fronteiras de Brasil, Argentina e Paraguai).
Oficialmente, a razão dada pelos Estados Unidos para a presença de seu exército na região é o treinamento de tropas paraguaias e exercícios conjuntos entre as tropas dos dois países, além de monitorar a população de etnia árabe que reside na região. De qualquer forma, Martínez alega que é a água que leva os estadunidenses à área, e ela teme uma vagarosa tomada do aqüífero antes mesmo que os governos locais notem o que está havendo.
Medos semelhantes seguiram a assinatura do acordo de treinamento entre os Estados Unidos e o Paraguai, que deu imunidade aos soldados estadunidenses e pode ser renovado infinitamente, o que é inédito, sendo que Donald Rumsfeld em pessoa visitou o Paraguai e, pela primeira vez na história, o presidente paraguaio Nicanor Duarte Frutos foi até a Casa Branca.
A base militar estadunidense foi construída próxima ao aeroporto Mariscal Estigarribia, a 200 km da Argentina e Bolívia e a 300 km do Brasil. O aeroporto pode receber aviões grandes (B-52, C-130 Hercules etc.), que a Força Aérea Paraguaia, aliás, não possui.
De acordo com o jornal argentino Clarín, a base do exército dos Estados Unidos é estratégica por sua locação próxima à Tríplice Fronteira, ao Aquífero Guarani e à Bolívia (menos de 200 quilômetros), ao mesmo tempo em que a lupa de Washington está apontada para o altiplano boliviano e para o presidente venezuelano Hugo Chávez, o suposto instigador da instabilidade na região"
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