quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Segundo Cimi, maioria dos índios assassinados em 2008 vivia em Mato Grosso do Sul

Em seu levantamento preliminar sobre as violações dos direitos indígenas, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) dedicou especial atenção à população guarani kaiowá, que vive em Mato Grosso do Sul, estado com o maior número de assassinatos e suicídios registrados durante 2008.

De acordo com o Cimi, entre uma população de cerca de 40 mil indígenas, 40 foram mortos e 34 se suicidaram no ano passado. O número de assassinatos foi menor que em 2007, quando houve 53 ocorrências. Já o número de suicídios cresceu 54%, pulando de 22 para os recentes 34 casos. O segundo estado em número de mortes indígenas foi Minas Gerais, com quatro pessoas assassinadas.

Segundo o vice-presidente do Cimi, Roberto Liebgott, "não há outra justificativa para explicar a diferença entre o número de vítimas sul-matogrossense e dos demais estados, que não a política de confinamento dos índios para liberar terras para o plantio da cana-de-açúcar e a criação de gado”.

O confinamento e a falta de perspectivas explicariam também o elevado índice de suicídios, principalmente entre jovens de 15 a 22 anos, sustentou Liebgott, citando o exemplo do município de Dourados (MS).

“Em uma área indígena de três mil hectares vive uma população de mais de 13 mil pessoas. Uma área degradada, inadequada, sem água, e essas pessoas têm que viver ali sem nenhuma perspectiva de trabalho e de dignidade e sem poder manifestar sua cultura” , disse o vice-presidente do Cimi, organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Cimi também acusa políticos e latifundiários sul-matogrossenses de pressionarem o governo federal para retardar ou mesmo impedir a demarcação de novas áreas indígenas. De acordo com Liebgott, essa estratégia tem dado resultados e o governo tem cedido a parte dessas pressões.

“Embora a Funai (Fundação Nacional do Índio) tenha criado seis novos grupos, para identificar e realizar a demarcação de novas áreas, ela não teve a possibilidade de concretizar os trabalhos de demarcação das terras reivindicadas devido à pressão dos governos estadual e municipais e dos fazendeiros”, afirmou Liebgott, mencionando as dificuldades impostas ao trabalho de técnicos da Funai.

“Ao mesmo tempo em que exercem uma pressão política sobre o governo federal para que este diminua suas ações no tocante às demarcações de terra, alegando que (o estado e o setor produtivo) terão prejuízos se isso for feito, os que se opõem à demarcação no estado muitas vezes não permitem que os técnicos da Funai façam os levantamentos arqueológicos e antropológicos dentro das áreas que os índios reclamam”, disse.

Liebgott disse que, se nada for feito para garantir condições dignas às comunidades indígenas do estado, a perspectiva de “curto, médio e longo prazo” para os guarani kaiowá é de muita violência. “O governo federal precisa tomar medidas urgentes, para identificar as áreas reivindicadas pelos índios, dando condições para que essas comunidades tenham uma vida digna”.

A reportagem procurou as assessorias da Funai e do governo do Mato Grosso do Sul no início da tarde para que comentassem o assunto, mas até as 19h30, ainda não havia recebido qualquer resposta. (Fonte: Alex Rodrigues/ Agência Brasil).

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