Amigos, segunda-feira 10/12 às 21h00, vamos fazer uma intervenção áudio visual no Sarau do Binho. A idéia é fomentar uma rápida discussão sobre questões que levantamos no ensaio abaixo. Será de grande ajuda receber comentários deste ensaio. Criticas, perguntas, respostas serão todas bem vindas. Pra quem nunca foi no Sarau do Binho, ele fica próximo a Estrada do Campo Limpo, uma quadra antes da Faculdade UNIBAN, duvidas me liguem: 89377433. Valeuu Bjos, bjos Aline
Démodé?
Quem já ouviu falar nos “Cegos e o elefante”? Nos “Blusileiros”? Na “Botando Fogo”? Nos “Anticonstitucionais”? São coletivos musicais¹ que surgiram já algum tempo e que por algum motivo não existem mais. Mesmo tendo sobrevivido por um curto tempo, contribuíram o suficiente para a nossa memória, muito embora toda ela não esteja registrada. Muitos outros coletivos são alvos de abortos como estes, mas o que é preocupante, não é a sua mera fragmentação, uma vez que seus atores passam a articular outras manifestações que levam á formação de novos coletivos, o que de fato nos assusta, é que coletivos como estes não são sequer registrados e esta ausência de registro nos deixa sem rastro de memória. Será que somos uma cultura sem memória? Provavelmente esta ausência de memória deve potencializar o que conhecemos como indústria cultural. É por meio dela que entendemos e reconhecemos nossa cultura, tal como o futebol e o carnaval, que representam caricatamente nossa identidade nacional. Quais relações culturais explicaram nosso contexto daqui a cinqüenta anos? Serão as raras boas notícias que os jornais têm veiculado ultimamente? As novelas mexicanas? Há, já sei, a “Éguinha Pócotó”? Não que estas manifestações não consigam explicar nosso contexto histórico, mas o fazem no sentido do quanto o sistema capitalista predomina e nos engole cada vez mais. Procurando muitas vezes se defender de uma distorção midiática, alguns coletivos tentam manter uma comunicação alternativa em contraposição a estes veículos de comunicação de massa. Mas mesmo assim, na maior parte das vezes, eles acabam sendo retratados por esses grandes veículos de comunicação de modo distorcido, capitalizado, sendo transformados em produto. Ou seja, coletivos que nascem de objetivos que não são capitalistas, muitas vezes acabam sendo vendidos como produto pela mídia. A questão de quem e como vão registrar estes coletivos são outros tipos de preocupações. Assuntos que surgem à margem da indústria cultural viraram alvo da mídia. E o fato dela poder rotulá-los ao seu bel prazer é muito preocupante, pois o que a mídia entende, de fato, esta longe da real descrição de dada manifestação. Os tropicalistas, por exemplo, desdenharam um aspecto publicitário do movimento, sem preconceitos, interiorizam-se em sua produção, estabelecendo assim uma forma especifica de relacionamento com a indústria cultural. Sobre esta versão do nascimento do tropicalismo disse Gil: Na verdade, eu não tinha nada na cabeça a respeito do tropicalismo. Então a imprensa inaugurou aquilo tudo com o nome de tropicalismo. E agente teve que aceitar, por que tava lá, de certa forma era aquilo mesmo, era coisa que agente não podia negar. Afinal, não era nada que viesse desmentir ou negar a nossa condição de artista, nossa posição, nosso pensamento, não era. Mas agente é posta em certas engrenagens e tem que responder por elas². Durante décadas esta notável dinâmica histórica do registro foi esquecida e criticada pelas analises e interpretações teóricas. Alguns críticos e cronistas sensíveis a novidade cultural trataram de registrar, colecionar, formar arquivos e interpretações sobre as modernas manifestações populares. José Ramos Tinhorão, já na década de 70, foi um deles, tornando-se um dos mais importantes colecionadores, interpretes e historiadores da música popular brasileira³. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia temos acesso a muitos materiais que são úteis na questão do registro: MP3, Mp4, Aipod, celulares sofisticados, todos eles acessíveis, parcelados em 10 vezes sem juros no cartão de crédito. Por mais que a tecnologia disponibilize tais meios, muitas vezes a idéia de registro ainda continua esquecida. É de se esperar que hoje em dia não seja muito diferente, ao contrario, há uma distração, só se registra o que dá R$dinheiro, “zelar patrimônio histórico é caretice”, essa sociedade moderna metida à alternativa pensa só no hoje e fode o amanhã dessa moçada que vem vindo ai. 1. Rotulo como coletivos todas as manifestações artísticas que se articula em grupos. 2. História da Música Popular Brasileira. São Paulo, Abril Cultural, 1971, fasc 30, p.10. 3. Jose Geraldo, op. cit. Orelha do livro: Os sons que vêm da rua, José Ramos Tinhorão. A pretensão deste breve ensaio é fomentar discussões. Meu e-mail vai abaixo:
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