sábado, 12 de dezembro de 2009

A Simbologia do labirinto



O encontro do labirinto é considerado pelos gnósticos como um símbolo de iniciação. Em seu percurso haveria um centro espiritual oculto, uma dissipação de trevas pela luz e o renascimento pessoal. Nesse sentido, a superação seria encontro da verdade ou opus. Esta definição é mais sintonizada com o conceito de Labirinto e oposta ao conceito de Dédalo, ou em inglês "Maze" .

Um labirinto é constituído por um conjunto de percursos intrincados criados com a intenção de desorientar quem os percorre. Podem ser construções tridimensionais (como o lendário labirinto de Creta, ou um conjunto de sebes plantadas de forma a proporcionar entretenimento num jardim), desenhos (como os labirintos que aparecem nos jornais como passatempo), etc. Utiliza-se frequentemente o termo para adjectivar outros géneros de obras. Por exemplo, diz-se de um romance com enredo complicado ou cuja narração não é linear que é "labiríntico". Jorge Luis Borges desenvolveu o assunto em diversos contos e ensaios. Na mitologia grega, o labirinto de Creta teria sido construído por Dédalo (arquitecto cujo nome tornou-se, depois, também sinónimo de labirinto) para alojar o Minotauro, monstro metade homem, metade touro, a quem eram oferecidos regularmente jovens que devorava. Segundo a lenda, Teseu conseguiu derrotá-lo e encontrar o caminho de volta do labirinto graças ao fio de um novelo, dado por Ariadne, que foi desenrolando ao longo do percurso. Tecnicamente alguns autores diferem Labirintos de Dédalos. Os Labirintos seriam caminhos unidirecionais que após algumas voltas sempre levaria ao centro.


Símbolo presente nas mais variadas culturas, o labirinto – a via tortuosa que leva a um centro – remete ao caminho difícil que devemos trilhar para crescer interiormente. Além de servir como um ótimo instrumento de meditação, ele pode ajudar a curar e a trazer bem-estar para os que o percorrem.

Desde os tempos antigos até hoje, o labirinto é considerado um ponto de partida para seu próprio conhecimento, a partir do qual você pode desenvolver seu caminho pessoal. Nossos ancestrais usaram essa forma ao longo das eras e deixaram como legado objetos relacionados ao labirinto que continuam a instigar nossa imaginação. A beleza dessa forma reside em seu apelo universal, uma vez que ela não está vinculada a nenhum tipo de fé ou tradição, de modo que toda pessoa que percorrer seu caminho pode extrair dessa experiência o que precisar.

O labirinto é um meio de meditação que nos oferece a oportunidade de ouvir a nós mesmos. Essa experiência pode ser demorada e contemplativa, ou rápida e energizante; com ela podemos nos livrar de vários níveis de emoção e deslindar um problema; ou podemos estimular a mente e produzir inspiração.

O movimento físico em direção ao centro do labirinto corresponde a um movimento interno ao centro profundo em nosso interior, no qual somos um ser integral e intacto, mesmo que estejamos doentes ou sofrendo. Portanto, o caminho do labirinto nos leva por uma jornada interior de cura em direção ao bem-estar pessoal e à renovação espiritual.

Embora se encontrem labirintos no mundo todo, muitos deles foram negligenciados, destruídos ou simplesmente esquecidos ao longo do tempo. Recentemente, as pessoas voltaram a se interessar por eles, restaurando ou criando projetos ao redor do planeta. Até mesmo os significados da palavra vêm passando por transformações.

No meio: Os labirintos mais primitivos, de 2500 a.C., tinham três voltas.
À esquerda: Conhecido em todo o mundo, o desenho clássico ganhou mais quatro voltas.
Direita: Labirinto dos índios hopis, do sudoeste dos EUA, para quem a figura é um símbolo ligado ao nascimento e à criação.
Na língua inglesa, por exemplo, as palavras labyrinth e maze (em português, respectivamente, “labirinto” e “dédalo”), que tradicionalmente eram sinônimas, adquiriram significados diferentes: labyrinth significa um caminho de um percurso apenas, que leva a uma meta central depois de uma série de curvas e sinuosidades; maze tem o sentido tradicional de construção de caminhos variados e becos sem saída, em que apenas uma passagem leva ao centro.

As pessoas que percorrerem um labirinto, por mais que se concentrem no caminho, não precisam tomar decisões quanto a virar à esquerda ou à direita; em vez disso, relaxam o lado esquerdo do cérebro, que controla as ações relativas ao lado direito do corpo – verbais, racionais, lógicas, lineares, abstratas –, ao mesmo tempo em que exercitam o lado direito do cérebro, que controla as respostas atribuídas ao lado esquerdo do corpo – não-verbais, não-racionais, intuitivas, sintéticas, concretas. A cultura ocidental estimula a predominância da atividade que utiliza o lado esquerdo do cérebro, o que interfere no delicado equilíbrio entre os hemisférios cerebrais. Percorrer labirintos pode ajudar a corrigir esse desequilíbrio.

Já os dédalos estimulam a atividade do lado esquerdo do cérebro, uma vez que a pessoa tem de tomar decisões conscientes quanto a seguir por um caminho ou outro. Esses labirintos-charadas se tornaram populares no século 15, nos jardins renascentistas italianos e franceses. Eram usados como jogos de recreação ou amorosos. Um passeio por um dédalo, com seu foco no exterior e no espírito de aventura, é muito diferente de percorrer um labirinto, em que o foco é interior e às vezes induz à meditação.

Diante da imagem de um labirinto, ficamos instantaneamente fascinados. Seu desenho de curvas e voltas repetidas ao redor de um centro lembra a superfície espiralada do cérebro, o labirinto do ouvido interno, as curvas do intestino delgado. Com efeito, se você observar um labirinto, verá nele um reflexo de seu panorama interno. Do mesmo modo, a história do herói grego Teseu, de Ariadne e do Minotauro, geralmente associada ao labirinto, remete-nos ao fio de Ariadne desenrolando-se ao longo do labirinto até o centro. Talvez isso excite nosso subconsciente e nos remeta de volta ao útero, onde estávamos ligados ao cordão umbilical que nos trazia a vida.

Também encontramos a idéia de labirinto ao nosso redor, nas formas espiraladas da natureza, nas espirais de nossa impressão digital, nas ondulações da água em círculos concêntricos, nas teias de aranha, no desabrochar de uma samambaia. A partir dessas imagens, podemos reconhecer a jornada de crescimento e transformação, em curvas e círculos para fora e para dentro do labirinto. Por esse motivo, seguimos um caminho “familiar” no labirinto, como se estivéssemos retornando à própria fonte da vida.

O labirinto é, essencialmente, um entrecruzamento de caminhos, alguns dos quais não possuem saída e, constituem, assim, becos sem saída, através dos quais se tenta descobrir o caminho que conduz ao centro desta bizarra teia de aranha. A comparação com a teia não é exacta, pois esta é simétrica e regular, enquanto que a essência do labirinto é circunscrever, no menor espaço possível, o enredo mais complexo de atalhos, retardando, assim, a chegada do viajante ao centro que pretende atingir.


Os labirintos gravados no pavimento das igrejas eram a assinatura das confrarias iniciáticas de construtores e, igualmente, os substitutos da peregrinação à Terra Santa. É por isso que, por vezes, se encontra no centro o arquitecto ou o Templo de Jerusalém: o eleito, atingindo o centro do mundo ou o símbolo desse Centro. O crente que não podia realizar a peregrinação real, percorria o labirinto em imaginação até chegar ao centro, aos lugares santos: era o peregrino no local. Fazia o percurso de joelhos, por exemplo, dos duzentos metros do labirinto de Chartres.

O labirinto foi usado como sistema de defesa à porta das cidades fortificadas (fortalezas). Era traçado sobre maquetas das casas gregas antigas. Num caso como noutro trata-se da defesa de uma cidade, ou da casa, como se estivesse situada no centro do mundo. Defesa não apenas contra o adversário humano, mas também contra as influências maléficas. É de notar o papel idêntico do biombo colocado na álea central dos templos no mundo de influência chinesa, onde as ditas influências são tidas como se propagando apenas em linha recta.


A dança de Teseu, chamada dança dos grous, está evidentemente relacionada com a caminhada labiríntica. Ora, existe igualmente na China danças labirínticas que são danças de aves (como o passo de Yu), cujo papel não é menos sobrenatural.

Símbolo de um sistema de defesa, o labirinto anuncia a presença de algo de precioso ou sagrado. Pode ter uma função militar, para a defesa de um território, de uma aldeia, de uma cidade, de um túmulo, de um tesouro: apenas são aí admitidos aqueles que conhecem os planos - os iniciados. Possui uma função religiosa de defesa contra as investidas do mal: o mal é não apenas o demónio, mas também o intruso, aquele que está quase a violar os segredos, o sagrado, a intimidade das relações com o divino. O centro que protege o labirinto será reservado ao iniciado, àquele que, através das provas de iniciação (as sinuosidades do labirinto), se mostrar digno de aceder à revelação misteriosa. Uma vez atingido o centro, fica como que consagrado; introduzido pelos arcanos, está ligado pelo segredo. Mircea Eliade diz que "os rituais labirínticos sobre os quais se baseia o cerimonial de iniciação... têm justamente como objectivo ensinar ao neófito, no decurso da sua vida cá em baixo, a maneira de penetrar, sem se perder, nos territórios da morte (que é a porta de uma outra vida)...". De certa maneira, a experiência iniciática de Teseu no labirinto de Creta equivalia à procura das maçãs douradas do Jardim das Hespérides ou do Tosão de Ouro da Cólquida. Cada uma destas provas resumia-se, em linguagem morfológica, a penetrar vitoriosamente num espaço dificilmente acessível e bem defendido, no qual se encontrava um símbolo mais ou menos transparente da potência, da sacralidade e da imortalidade.

O labirinto podia ter também uma significação solar, devido à acha dupla, de que seria o Palácio, gravada sobre muitos monumentos minóicos. O Touro encerrado no labirinto é também solar. Talvez simbolize, nesta perspectiva, o poder real, o domínio de Minos sobre o seu povo.

Na tradição cabalística, retomada pelos alquimistas, o labirinto desempenhava uma função mágica, que seria um dos segredos atribuídos a Salomão. É por isso que os labirintos das catedrais, série de círculos concêntricos, interrompidos em determinados sítios, de modo a formar um trajecto bizarro e inextricável, era chamado Labirinto de Salomão. Para os alquimistas seria uma imagem do trabalho completo da Obra, com as suas dificuldades maiores: a da via que convém seguir para atingir o centro, local onde se trava o combate das duas naturezas; a do caminho que o artista deve tomar para sair. Esta interpretação junta-se a uma certa doutrina ascético-mística: a concentração sobre si mesmo, através dos milhares de caminhos das sensações, das emoções e das ideias, suprimindo qualquer obstáculo à intuição pura, e a chegada à luz sem se deixar prender pelos obstáculos do caminho. A ida e a volta seriam o símbolo da morte e da ressurreição espirituais.

O labirinto conduz também ao interior de si mesmo, em direcção a um espécie de santuário interior e oculto, onde se situa o que há de mais misterioso na pessoa humana. Pensa-se aqui no mens, templo do Espírito Santo, na alma em estado de graça, ou ainda nas profundezas do inconsciente. Um e outro apenas podem ser atingidos pela consciência que, depois de muitos obstáculos ou de uma concentração intensa, chega a esta intuição final onde tudo se simplifica como que por uma espécie de iluminação. É aí, na cripta, que se encontra a unidade perdida do ser que se teria dispersado na multidão dos desejos.

A chegada ao centro do labirinto, como ao fim de uma iniciação, leva a uma loja invisível que os artistas dos labirintos deixaram sempre no mistério ou, melhor, que cada um podia preencher segundo a sua própria intuição ou as suas afinidades pessoais. A propósito do labirinto de Leonardo d'Avinci, Marcel Brion evoca esta sociedade, composta por homens de todos os séculos e de todos os países, preenchendo o círculo mágico que Leonardo deixou em branco, porque não estava no desejo do seu espírito dar muitas explicações sobre o significado desse santuário central do labirinto.

O labirinto seria uma combinação de dois motivos: da espiral e da trança e exprimiria uma vontade muito evidente de figurar o infinito, sobre os dois aspectos que reveste para a imaginação do homem, i. e., o infinito em perpétuo devir da espiral que, pelo menos teoricamente, pode ser pensada sem acabamento, e o infinito do eterno retorno figurado pela trança. Quanto mais difícil se mostra a viagem, mais numerosos e árduos são os obstáculos, mais o adepto se transforma, e durante o percurso desta iniciação itinerante, adquire um novo ego.

A transformação do eu que se opera no centro do labirinto e que se afirmará no grande dia, no final da viagem de retorno, no fim desta passagem das trevas à luz, marcará a vitória do espiritual sobre o material e, ao mesmo tempo, do eterno sobre o efémero, da inteligência sobre o instinto, do saber sobre a violência cega.

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