terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Meu Artigo


A pesquisa na Bahia

A pesquisa com os grupos musicais alternativos do, Dr. Embira, Improviso Nordestino, Mendigos Blues, Oquadro, Quizila, Mortifera, Manzua, Sambadila e Palha Assada, manifestações artísticas que representam a cultura e o modo de vida típicos da cidade de Ilhéus e Itabuna, na região sul da Bahia, vem se desenvolvendo desde fevereiro de 2009 com os primeiros contatos com a comunidade.
Antes mesmo da escolha da metodologia, foi iniciado o primeiro contato com a comunidade, que consistiu no levantamento das informações sobre estes artistas, para depois um encontro pessoal com alguns deles.
A priori, achei que o tipo de metodologia que iria utilizar, para sistematização das observações, seria o Estudo de Caso, por conta de sentir que, visualizar um circuito, era tentar entender um fenômeno social complexo. Em março de 2009, expondo as idéias do projeto em uma conversa com o professor de Radio TV Marcelo Pires de Oliveira e o estudante de comunicação Igor Schimidel, ambos da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, escutando ambas as orientações, enxerguei que, a metodologia da história oral, que mais vestia fielmente as vivencias com os pesquisados.
De acordo com a metodologia, estabeleci alguns passeios e conversas com alguns membros da comunidade, na maioria acadêmicos, que possuíam vínculos com os artistas da região. Estes encontros serviram como um primeiro contato com a comunidade e sua história, além de auxiliar na percepção das diversas redes de relacionamento e nos matizes das características dos pesquisados.
Por ser uma pesquisa participativa o pesquisador necessita conquistar a confiança dos seus colaboradores e para tal deve inserir-se na comunidade. Esta inserção é similar a pesquisa etnográfica e necessita de um período de ambientação com as fontes.
A ambientação ocorre ao longo do tempo e com as construção de laços profissionais e afetivos, que causam um certo desespero nos pesquisadores ortodoxos, pois aproxima a fonte do pesquisador no nível da intimidade.
A relação de intimidade e confiança é realizada ao longo de vários e repetidos contatos, “para que se estabeleça um clima de confiança sem o qual o trabalho é impossível, a grande quantidade de colóquios para se conseguir uma narração integral, vemos que essa técnica de estudo é das que consomem tempo e das que mais vagar e paciência requerem; o trabalho não deve ser feita de maneira intensiva – longas entrevistas para esgotar rapidamente o assunto – por que os detalhes se perdem e o cansaço do pesquisador e do informante deforma o relato”. (QUEIROZ – 1991 p. 158)
No meu caso, a pesquisa com os grupos musicais, a confiança e a intimidade foi construída naturalmente à medida que íamos nos relacionando. Não posso deixar de dizer que, o fato de também desenvolver um trabalho com música, facilitou a construção dessa intimidade. Talvez seja essa à forma que encontrei para estabelecer estas parcerias.
Esse clima de parceria e cumplicidade conduziu a um nível de relacionamento que com muita naturalidade alguns artistas interessaram-se em ajudar-me a capitar imagens para o documentário. Vejo esse interesse como forma de reivindicação por produtos comunicacionais que viessem a valorizar seu trabalho e divulgá-los para a sociedade.
Não só os entrevistados, mas também as pessoas para quem explanava as ideologias de meu projeto, pela intimidade construída, sentiam-se a vontade para me receber em suas casas e até trocar confidências a respeito das diversas relações existentes dentro da comunidade (parentesco; rivalidade e intimidades) e até mesmo sobre minhas posturas e jeitos.
Esses momentos de inconfidências, apesar de não poderem ser documentadas e nem existirem no corpo do trabalho final, foram de muita ajuda na composição de uma rede de filtros de análises que permitem, atualmente, uma abordagem menos ingênua do objeto de pesquisa, e que possibilita uma leitura mais criteriosa das entrelinhas das entrevistas concedidas. Essa nova percepção do trabalho, a pesar de não possuir, a priori, uma rigidez metodológica e uma base teórica adequada, com o passar do tempo e o crescimento do corpo de documentos gerados pelas entrevistas e os outros contatos com os colaboradores faz com que os resultados da pesquisa ao serem organizados possam assumir um caráter objetivo e criterioso que os transformam em documentos válidos e adequados para o seu uso dentro de uma produção de conhecimento cientifico.
Atenta e fiel aos princípios metodológicos, elaborei um critério de seleção. De que os grupos escolhidos para representarem, o que visualizo como circuito, teriam de ter um trabalho autoral, pois de certa forma, seriam estas composições que somariam para uma possível compreensão do contexto social da região.
Alem dos registros audiovisuais, organizei material elaborado pelos próprios artistas, do tipo release, fotos e endereços eletrônicos que viabilizava a divulgação de seus trabalhos em rede virtual. Algumas entrevistas, comentários, blogs, myspace também me serviram como documentos.
Percebi que a soma das transcrições das imagens junto às estas outras fontes de documentos colecionados, ajudariam para uma possível analise.

DR. IMBIRA E IMPROVISO NORDESTINO


Eles desenvolvem um projeto chamado Improviso, Oxente!, onde são discutidos os projetos do Teatro Popular de Ilhéus. O movimento surgiu com uma série de reuniões na Casa dos Artistas, abertas à comunidade, para discutir os problemas de Ilhéus, contando com a participação de um palestrante para cada proposta temática. Mas o que tem de "novo" é a inserção de outras linguagens, da arte, do teatro, do vídeo, da fotografia, etc., no processo de reflexão.
Tendo como primeiro tema, o projeto "Porto Sul", o movimento resolveu então, extrapolar a Casa dos Artistas para ganhar as ruas e percorrer comunidades. Assim surgiu, sua versão intinerante, reunindo professores, técnicos, artistas e o voluntariado do movimento "Ação Ilhéus", sob a coordenação dos professores Ramayana Vargens, Antonio Adolfo e do ator Romualdo Lisboa, para a promoção de eventos culturais educativos públicos.
O que mais chamou a atenção no "Improviso Oxente, Intinerante", em Serra Grande, é o povo que deve ser o principal alvo do desenvolvimento sustentável, pois a paisagem inclui as comunidades, as pessoas e a cultura.
O evento em Serra Grande ajudou a acordar para a grande carência de eventos como estes, agregados às escolas e para além de seus muros, para fazer chegar à população, os principais temas da qualidade de vida e da cidadania. A reflexão sobre o desenvolvimento e o meio ambiente, por exemplo, precisa estar na altura do povo, e não pode se restringir a um pequeno grupo da sociedade. E é em eventos próximos da comunidade, que se tira o debate dos gabinetes, para trabalhar com a população, com o sentimento das pessoas.
Dando seqüência às discussões sobre o levante dos escravos do Engenho de Santana, ocorrido em 1789, o projeto Improviso, Oxente!, da Casa dos Artistas, abordou as características econômicas da Ilhéus colonial.
A relação entre o planejamento urbano e uma possível construção do Porto Sul, no litoral norte de Ilhéus, foram o assuntos do Improviso, Oxente!
No último Improviso, Oxente!, foi entregue ao candidato a prefeito Newton Lima a proposta de criação do Programa Municipal de Fomento à Cultura, projeto de Lei que traz sugestões sobre como apoiar, manter e criar projetos de pesquisa e produção cultural. “Queremos que o setor cultural de Ilhéus avance mais. Por isso convidamos os candidatos a prefeito para apresentarem seus planos, ouvirem as propostas da classe artística e também da comunidade”, complementou o músico Cabeça, líder do Improviso Nordestino, grupo residente do espaço cultural.
Trechos das transcrições das imagens captadas
“O Dr. Imbira é uma banda de rock daqui da cidade de Ilhéus que inicio agente nesse processo de bandas de pode ter um trabalho artístico musical, e acho que Dr. Imbira surge como muitas bandas surgem na verdade, pela necessidade de se fazer música, uma musica diferente, musica original, coisas que hoje é difícil de se encontrar. Raul dizia que o rock morreu em 59 e depois de 30 anos, assim do rock feito por Raul Seixas, agente tenta fazer um rock roll também, certo, com qualidade e originalidade, então, o Dr. Imbira surgiu dessa necessidade, iai, em Ilhéus Bahia, agente tenta a todo custo sustentar essa idéia né, que é uma idéia um tanto revolucionária pro espaço local, já que não existe nenhuma forma de apoio né, já que não existe nenhuma iniciativa privada nem publica pra se apoiar nessas iniciativas vinda da música chamada alternativa, então assim, é uma coisa mesmo que agente leva nos dentes mesmo, e assim, é uma briga todo dia, é uma luta todo dia pra pode sustentar esse projeto”.



MENDIGOS BLUES

O nome da banda é devido a republica da qual faz parte ainda hoje o guitarrista Jonnie Walker ( esse nome ninguém sabe de onde veio, mas como todo mundo só conhece esse cidadão por este nome, fica assim mesmo), o produtor Marcelo Mendigo e o roadier Itakaré (esse apelido é devido a ele realmente ser da cidade de Itacaré-Ba (por sinal Lindas praias... eita lugar massa!!...hehehe)). Republica antes formados pelo Mendigo Mor (hoje é PM, por isso não vou colocar o nome) e Gazão ( 1º guitarristas dos Mendigos)... Ah e quase esquecendo, hoje é aniversario da 1º semana da imundice aqui na republica (heheheheh...tá um caos......hehehehehe). DÁ UMA CHANCE PROS MENDIGOS

Igor Schimidel
“Às vezes me perco ao ser solicitado para inícios já que a minha defasada memória faz de quase tudo que me lembro um abstrato contínuo. Quase sempre é por uma lente semelhante que paro para analisar a minha cidade e sua história recente. Fundada em 1910, como um bem sucedido pouso de retirantes, já reunindo em suas terras dezenas de roças de cacau, Itabuna teve o caminho ascendente de sua identidade, produção e economia até a década de 80, quando uma praga devastou a produtividade das suas roças. Diante do declive do cacau a maioria desta geração passou a infância. É um tanto delicado falar sobre os outros, e diante disso logo declaro que nenhuma pretensão tenho com isto, faço apenas o inevitável, me tomar por ponto de algo.

O abstrato contínuo de Itabuna foi o de uma cidade dividida entre uma herança decadente e um momento de abafamento das suas referências. No entremeio desta conjuntura local é que um grupo de amigos se habituou a fazer música nas ruas e praças, ocupando novamente um lugar ancestral nas noites da cidade. Somando vários agregados surgiu o Sebastião desatinado, grupo que se fragmentou dando origem a outros como “manzuá” e ao “mendigos blues band”. Das praças carregadas de valor para alguns palcos underground’s da cidade foi “só um pulo”. Mas neste pulo couberam uma dúzia de dezenas de boas histórias. E entre os planos e vontades tantas vezes discutido, cogitado e participados a todos quantas vezes foi exatamente um trabalho como o de Encanta Realejo o que imaginamos fazer. É de muito valor o contato que fizemos, através da Aline, com o trabalho realizado em São Paulo. Particularmente acho sensacional a iniciativa do município de auxiliar na realização da gravação da peça, embora saiba, e lamente, que normalmente este tipo de trabalho fique esquecido em um arquivo de registro qualquer. Resulta para nós completamente claro que é interessantíssima a idéia de gravar a partir do contato com artistas de outras regiões um documentário. Esta iniciativa é um serio desafio traçado por nossa recém amiga Aline e no qual todos nós nos vemos também realizados.
Ainda hoje eu considero que por aqui olhamos para o resto dos relevos nas paredes como quem mira de longe uma paisagem na qual não conseguíamos nos reconhecer. De alguma forma o trabalho de todos aqui objetiva um aprofundamento em nossa herança, ou um relato do que nos transpassa verdadeiramente. Mantendo no globalmente mundialmente difundido ao regionalmente diluído, um pulso qualquer que é mais autêntico do que qualquer pretensão de governar o sentido sonoro dos nossos grupos.
Em muitos momentos observei que o trabalho do Encanta Realejo nos atinge diretamente, ao inserir em suas performances numa diversidade de referências a sonoridade do nordeste. Agora nos esforçamos para registrar as trocas e encontros, para contribuir diretamente com o processo de realização do documentário.
As vezes penso que de qualquer forma Aline vai terminar isto, em breve, e o resultado vai compensar o esforço e empreender uma verdadeira modificação por onde passar”.
http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/Mendigosblues



OQUADRO


Se a arte é manifesto, a música é a fala. Motivada e energizada pelo desejo incessante do dizer. São palavras que constroem e solidificam informações, saciando o ensejo dos que almejam beber "da fonte". Muitos tem sede e não sabem, morrem desidratados pela falta de referências. São páginas em branco arrancadas antes mesmo que seus protagonistas aprendam a escrever. Eis então a sublime missão da música; onde o texto tem a mesma importância que as asas tem para os pássaros. Possibilitando levar suas divinas melodias muito além das fronteiras
pré-estabelecidas. Tocando profundamente gélidos corações, presenteando-os com o fervor artístico do conhecimento, que vem na exata medida para atender a nossa parca capacidade de compreender a vida.
Eis O QUADRO...
WWW.myspace.com/oquadro

QUIZILA


O Reggae é o ponto de partida, as formas de concebê-lo e interpretá-lo, permeiam os diversos inconscientes coletivos que se misturam e se completam neste universo QUIZILA. A informação, diversão e reflexão são pontos cruciais nesta caminhada musical.
A banda tem aproximadamente nove anos de correria e pé na estrada, onde diversos músicos já fizeram parte da banda até termos hoje a formação atual: ROGERIO SECÃO ( baterista), BINHO (guitarrista), FABRICIO (voz) e ANTHONY CHICA (baixista).
O estilo da banda é o reggae, difundido por artistas como: Bob Marley, Steel Pulse, Black Uhuru, Edson Gomes, Gilberto Gil dentre outros grandes, porém a Quizila além do reggae também se influencia por diversos outros estilos musicais, o que para a maioria do seu público lhe deu uma característica particular de tocar o reggae em suas composições e algumas couvers.
Nesses anos de lida a banda participou de diversos shows com grandes bandas do cenário nacional, como: Planet Hemp, ORappa, Adão Negro, Morrão Fumegante, Diamba, dentre outros, e também percorreu importantes cidades da Bahia; Salvador, Itacaré, Itabuna, Canavieiras, Serra Grande e outras, participando de shows particulares, festivais e alguns carnavais.
Apesar das dificuldades encontradas na jornada, devido a imposição dos divulgadores de massa da Bahia que nos empurram o que há de "melhor" (para eles), seguimos na correria com bastante vontade, humildade, e muita lisergia tropical para derreter as barreiras que surgem no dia-a-dia. Essa composição química-explosiva-natural está fervilhando para invadir as veias e ouvidos daqueles que estão sedentos por música de alma.
http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/quizila

PALHA ASSADA


Formado por músicos, atores e bailarinos, o grupo teatral "PALHA ASSADA" apresenta ao público infantil um espetáculo onde a diversão e o aprendizado se encontram.

Durante a apresentação, canções e histórias interativas atraem as crianças para questões sócio-educacionais relacionadas ao meio ambiente, padrões sociais e direito infantil, tudo representado de forma simples e divertida, numa atmosfera circense cheia de cores e alegria.
O grupo atua em Ilhéus há quatro anos e é composto por cinco integrantes:

A cantora e contadora de histórias Cris Passos
O "cachorrão" guitarrista, Fábio Ribeiro
A bailarina Tássia Medeiros
O palhaço "Astrobaldo", interpretado por Paulo Abreu
O saci, interpretado por Luan Jesus

Algumas apresentações do "PALHA ASSADA" contam com a participação de crianças da comunidade do Alto de São Sebastião. O local, popularmente conhecido como Outeiro, abriga o ESPAÇO CULTURAL CASA ABERTA, uma iniciativa da ASSOCIAÇÃO FILTRO DOS SONHOS em prol da arte e da cultura na cidade.


MORTIFERA



Com quatro componentes: CHINA GONZAGA (VOCIFERO) LUCAS HORA (GUITARRA), sai Dorival/entra GIVAGO (BAIXO) E LULA LOPES (BATERIA), com muito mal em suas mentes, a “MORTIFERA" tem um som rápido, sujo com guturais. passagens em gutural rasgado e com muita blasfêmia em suas letras, feito por China Gonzaga. Uma mistura de death/core, grind, thrash metal. Letras portuguesas, violência e signos anti-religiosos, compoe o cenario underground no interior da Bahia. With four components: CHINA GONZAGA (VOCIFERO) LUCAS HOURA(GUITAR), leaves Dorival/enters GIVAGO (BASS) AND LULA LOPES (DRUMS), with very badly in its minds, the “MORTIFERA” has a fast, dirty sound with guturais. tickets in gutural torn and with much blasphemy in its letters, made for China Gonzaga. One mixes of death/Core, grind, thrash metal. Portuguese letters, antireligious violence and signs, compoe the cenario underground in the interior of the Bahia.

http://www.myspace.com/mortifera666


Zé Delmo

Jequitibá Rei
José Delmo



A cidade tem todas as almas
e a alma todas as coisas que a cidade tem.
A minha memória se encerra
na copa verde do Jequitibá
eleito pela natureza
no alto da serra
e que, impassível, na sua grandeza de madeira de lei
assistiu ao primeiro navegante chegar
pelo mar azul da Capitania dos Ilhéus.
Nunca sentido o eco
do estampido seco da arma de fogo
do louco tenente Romero
contra os índios desavisados.
E como fora penoso o vôo
da última graúna,
cansada e ferida,
afogada nas águas do Rio Cachoeira,
que levavam para o mar
as penas dos pássaros
e os corpos dos índios,
expirando dos deuses de pedra dura
a palavra ita
e da mata escura
dos bichos pretos, de penas,
felinos, rasteiros e peçonhentos
a palavra una
até brotar do açoitado
Amor Divino
sergipano Felix Severino
a cidade de pedra-preta, Itabuna!

O perigo
próximo ao teu pé
derrubava as árvores da mata
onde o príncipe Maximiliano
austríaco aventureiro
preso aos lamaçais traiçoeiros
viu macucos serem abatidos
por seus famintos tropeiros.
Mais manchas de sangue
sobre as águas de outro rio
a eternizar no lugar
e no seu leito de areia lavada
o nome do pássaro tombado:
Rio e Vila Macuco.

Qual imponência,
emplumada de verde!
Era o verde!





Verde testemunha
da batalha dos nadadores,
dos traficantes catando búzios,
do verde-sumo, do mar quase anil,
repleto de naus e caravelas
transbordantes de pau-brasil.
Do rufar dos tambores
dos negros amotinados
no Engenho de Santana.
Dos quilombos e aldeias destruídas,
das catucadas mortais,
do valente cafuzo
nos holandeses de Nassau,
antes, nos franceses, com ares de tais.
Dos pontos luminosos
saltitando nas entranhas das matas
como mico-leão-da-cara-dourada.
Do pássaro Solfalá
que sumiu aos olhos dos homens
e da Lagoa Encantada fez seu habitat.
Da Vila Ferradas
ferrada na margem da veia aberta
para o coração mortal da floresta.
Dos caxixes dos coronéis,
dos jagunços em tocaia, do tombo dos inocentes,
de tanta gente chegando, matando, morrendo,
nascendo, resistindo.
Os pássaros e os índios sumindo... sumindo...
Sumindo como fora o macaco jupará,
semeando a roxa amêndoa na mata,
aprovando o cacau que os colonos
trouxeram para as terras do sem fim.

Ó Jequitibá!
Fostes invulnerável ao verde espetáculo
antes de ser poluído pela civilização grapiúna
e só quando frágeis eram teus galhos
despencastes serra abaixo’
teu tronco milenar
pondo espantados os olhos das casas
que se erguiam ao teu pé.

Sabias, ó jequitibá!
em tua rica solidão de madeira de lei
que quando as árvores, os pássaros, os índios,
os rios, os bichos,
nhoesembé, ita, una, uô,
não tinham nomes brancos,
era mais o azul do céu e o verde da mata.
Era profundo o silêncio da orquestra dos bichos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário